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Histórias da cidade: Do Esteiro de Campanhã à Cantareira a nado

  • Paulo Alexandre Neves

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Foi em 1916 que se realizou a primeira Travessia do Porto a Nado. A iniciativa pertenceu ao Clube Fluvial Portuense e teve como primeiro vencedor Augusto Reimão, atleta do clube organizador, com o tempo de 1h10. Considerada, então, a maior manifestação desportiva na cidade, com um percurso superior a oito quilómetros, entre o Esteiro de Campanhã e a Cantareira, junto à foz do rio, a sua longevidade estendeu-se até 1979.

No próximo dia 4 de setembro, e após 43 anos de interregno, centenas de atletas vão aventurar-se nas águas abertas do Douro, numa prova com partida na Ribeira do Porto e chegada na praia contígua à Marina da Afurada, em Vila Nova de Gaia. A distância será de, aproximadamente, quatro quilómetros.

A primeira edição da Douro Bridges Porto & Gaia Open Water integra o circuito nacional de águas abertas e decorre sob a égide da Federação Portuguesa de Natação. Será organizado pela Associação de Natação do Norte de Portugal (ANNP) em parceria com os municípios do Porto e Vila Nova de Gaia.

Mas voltemos a 1916 e à prova que deu origem a toda esta história. Apesar da pouca informação existente sabe-se que foram milhares os curiosos e adeptos da modalidade que assistiram à prova, alguns deles a pé, pelas duas margens. Quantos aos atletas, e para além de Augusto Reimão, participaram na primeira travessia, de acordo com informação disponibilizada no site do Clube Fluvial Portuense, os atletas Floriano Rosas, António José da Fonseca, Ferreira de Almeida, Álvaro do Nascimento, Artur Oliveira Valença e Braga de Almeida.

Um ano depois, a prova começou a ter resultados oficiais. Dos primeiros anos sabe-se, apenas, que Rodrigo Bessone Bastos, fundador do Sport Algés e Dafundo e primeiro nadador em Portugal de longas distâncias, dominou a travessia, vencendo-a por quatro vezes.

Bessone Bastos e o “golfinho” do Gibraltar

É grande o enthusiasmo nos nossos meios náuticos pela disputa da 4.ª Travessia do Porto a nado”, noticiava O Comércio do Porto, na sua edição de 11 de setembro de 1920. No dia seguinte, a partida seria dada às 17h10, estando prevista a chegada do primeiro atleta à meta uma hora mais tarde. “O Comité organisador, para que o publico possa facilmente conduzir-se ao local de chegada, pediu á Companhia Carris que faça um serviço especial para a Foz”, lia-se no mesmo matutino.

Para que o publico possa seguir o andamento da prova, será lançado um foguetão na partida, dois nos 5:000 metros e tres na chegada á Foz, do primeiro classificado”, noticiava ainda o jornalista d’ O Comércio do Porto, acrescentando: “No momento de passagem dos concorrentes, sob a ponte Luiz I, lançar-se-hão á agua dois nadadores, executando dois bellos saltos”.

Para a quarta travessia foi criada uma medalha especial para o primeiro atleta que passasse os cinco mil metros, junto a “Massarellos”. A prova, então organizada pela “Liga Portugueza dos Clubs de Natação”, contaria com a presença do campeão nacional, Bazilio dos Santos, mas seria Rodrigo Bessone Bastos o primeiro a cortar a meta. Esta edição contou com a presença de 21 atletas, tendo cinco desistido ao longo da travessia.

Quem também participou na Travessia do Porto a Nado, nos anos 50 do século passado, foi José Freitas, o “golfinho” de Gibraltar, como ficou conhecido na modalidade. Obteve dois segundos lugares e um terceiro. Em declarações ao site da Associação de Natação do Norte de Portugal (ANNP), o então nadador do Belenenses recorda, sobretudo, o apoio do público: “Acompanhavam a pé, de bicicleta ou de carro. As pontes estavam cheias de gente. Nunca mais me esqueci dessas imagens. De todas as que participei, a Travessia do Porto a Nado era a prova com mais público”.