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Histórias da cidade: do "americano" aos autocarros elétricos, 150 anos de uma viagem rumo ao futuro

  • Paulo Alexandre Neves

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A origem da Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) remonta a 1870. A 15 de agosto desse ano realiza-se o ato público da primeira concessão pelo governo, liderado pelo Duque de Saldanha, para o estabelecimento de uma linha de “americano”, do Porto à Foz e Matosinhos. Um sistema totalmente “revolucionário” para a época: um veículo puxado por uma ou mais parelhas de mulas ou cavalos circulava sobre carris.

Data de 15 de maio de 1872 a realização da viagem inaugural, pela empresa "Companhia Carril Americano do Porto à Foz e Matosinhos". "Verificou-se ontem a inauguração do caminho de ferro americano do Porto a Matosinhos. Este ato revestiu-se das jubilosas demonstrações de que era digna a iniciação de um melhoramento a que ninguém pôde contestar as vantagens e que se torna de maior mérito por ser devido inteiramente à iniciativa particular". Foi desta forma que, no dia seguinte, a 16 de maio de 1872, o Comércio do Porto noticiou outra grande "revolução" na mobilidade da cidade.

A primeira linha com carro elétrico (Massarelos-Carmo) só será inaugurada a 9 de setembro de 1895. "Em termos de utilização urbana deste tipo de transportes, o Porto adiantou-se também em relação às suas congéneres nacionais, embora a generalização do elétrico nas ruas da cidade avance mais devagar do que em Lisboa (onde se fez com capital inglês)" (Alves, Jorge Fernandes, Nos trilhos da cidade. Aspectos históricos dos transportes colectivos do Porto, Revista da Faculdade de Letras, História, Porto, III Série, vol. 1, 2000, pp. 101-111).

Intimamente ligada à cidade e suas instituições

A história da empresa foi sendo construída numa ligação estreita com a cidade e suas instituições. Exemplo disso mesmo foi, entre outros acontecimentos, a inauguração do antigo Estádio das Antas, em maio de 1952. Graças a esta nova centralidade registou-se um crescimento de elétricos na zona oriental da cidade, com a abertura da linha 15, em abril do mesmo ano, que ligava a Rua de Santa Catarina e a Praça da Batalha à Avenida Fernão de Magalhães.

Anos antes, a cidade tinha-se imposto à então Companhia Carris de Ferro do Porto (antecessora da STCP) para que o transporte coletivo se transformasse verdadeiramente num serviço popular. Na altura, havia quem defendesse que a companhia contribuísse financeiramente para o orçamento da Câmara Municipal. Com o tempo surgem propostas de abertura de concursos públicos e municipalização da empresa, esta última efetivada em 1949.

A STCP passou, então, a funcionar numa lógica de serviço público, aumentando o número de carreiras, com um tarifário mais acessível à população e uma frota mais moderna (os primeiros autocarros chegam em 1948 e os troleicarros em 1959). Entretanto, e com o 25 de Abril, verifica-se a passagem de serviço municipalizado para a tutela direta dos governos. A empresa viria a adquirir o estatuto de sociedade anónima de capitais públicos, em 1994.

Municípios assumem gestão

Anos mais tarde, em 2019, com o Memorando de Entendimento sobre a Intermunicipalização da STCP é dado um novo rumo à empresa, passando a ser detida por seis municípios (Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Maia, Gondomar e Valongo). Assume uma outra forma de estar no terreno, adequando a oferta às necessidades das populações. É gerida de acordo com uma estratégia definida pelas próprias autarquias em vez de ser pelo Estado Central, desenvolvendo um novo paradigma no domínio dos transportes urbanos.

De então para cá, a STCP tem reforçado o investimento na frota, de que a aquisição de autocarros 100% elétricos é um bom exemplo. O objetivo total é chegar ao final de 2025 com 136 autocarros elétricos, o que representará um investimento adicional de pouco mais de 29 milhões de euros. A empresa passará a disponibilizar um total de 444 autocarros. Fruto de todo esse trabalho, e já mais recentemente, foi eleita “Escolha do Consumidor” 2024.

Longe vão os tempos do “americano”. 150 anos depois, a STCP transporta mais de 73 milhões de passageiros (dados de 2023). Por isso, a viagem faz-se rumo ao futuro, com a intenção de descarbonização da sua frota e um contínuo melhoramento no serviço prestado.