Sociedade

Histórias da cidade: da "Pasta" à Queima já lá vão 100 anos

  • Paulo Alexandre Neves

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“Sábado amanheceu carancudo, cara de cão, a modos que a querer desbancar o axioma – «que não há sábado sem sol»… – Um vento diabólico, nuvens pesadas, parcadentas (…) Mas os ares desanuviaram-se. Depois da alvorada – os 34,5 morteiros da praxe – a cidade ficou sabendo que nem haveria catástrofes, nem rabistrazanismos, nem falta de sol. Ao invéz – e à míngua de melhor – estava-lhe reservada uma hora de deliciosa alegria, festa rija, uma das desbundantes rapaziadas da rapaziada das escolas. Era a Festa da Pasta e – como sempre – o povo havia também este ano de rir a bom rir”.

Este excerto, retirado da edição do Jornal de Notícias de 15 de maio de 1926, e citado pelo portal Notícias U.Porto, ilustra o envolvimento da população da cidade na Festa da Pasta, antecessora da Queima das Fitas do Porto. A primeira ter-se-á realizado em 1920. Daí, este ano, a Federação Académica do Porto comemorar a 100.ª edição, iniciativa que deveria ter ocorrido em 2020, não fosse a pandemia.

A Festa da Pasta, que começou apenas entre os finalistas de Medicina da Universidade do Porto, depressa se espalhou pelas diversas faculdades. Realizada ininterruptamente até 1943, realçava todo o espírito académico, já existente na cidade, assinalando a passagem da pasta dos “quintanistas” – estudantes que estavam a terminar o seu curso – aos “quartanistas”, que entravam na reta final. Para além disso, era imposto o grelo aos quartanistas. Incluía também um baile de gala.

A partir de 1943, as várias festas das faculdades fundem-se numa só, passando, então, a chamar-se “Queima das Fitas”, que ganha força maior a partir de 1945, já que a expressão "Festa da Pasta” é abandonada totalmente. No ano anterior, em 1944, a festa incluiu, pela primeira vez, a missa da Bênção das Pastas, na Igreja dos Clérigos. Tal como documenta a fotografia que ilustra este artigo, datada de 1959, o cortejo reunia já milhares de estudantes e população em geral, facto que se manteve ao longo dos anos.

Fruto das convulsões políticas, a Queima das Fitas acabaria por ser suspensa, a partir de 1971, ressurgindo, em 1978. Daí para cá, passou a realizar-se nos moldes atuais, com inúmeras atividades: serenata, cortejo, concerto Promenade, missa da Bênção das Pastas. Tornou-se a maior festa académica da cidade e uma das maiores do país.