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Histórias da cidade: Conde que se tornou benemérito nacional após a sua morte

  • Paulo Alexandre Neves

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Nasceu a 4 de outubro de 1782, no lugar de Vila Meã, atual lugar de Azevedo, na freguesia de Campanhã. Foi o quinto filho de um casal de lavradores. Embarcou jovem para o Rio de Janeiro, onde quis seguir a carreira de comerciante, iniciada anos antes no Porto. Aqui, a sua passagem pelo seminário foi determinante para a sua formação.

Caixeiro no Porto depressa conseguiu o estatuto de comerciante na cidade brasileira, onde viria a casar com D. Severa Lastra, de nacionalidade argentina e de enorme fortuna. A ascensão social e profissional de Joaquim Ferreira dos Santos dá-se com uma prática comercial em voga na altura: a consignação, que consistia na colocação no mercado, pelo melhor preço possível, dos produtos recebidos, cobrando uma comissão que normalmente era de 4%, podendo atingir, em casos particulares, os 6%.

Chegou a estender as suas atividades comerciais para a Argentina, América Central e, por último, África, mais propriamente para Angola.

Com a independência do Brasil, em 1822, e a lei da nacionalidade torna-se súbdito brasileiro. Daí também ser conhecido, como tantos outros, de “brasileiro”. D. Pedro concede-lhe a Comenda da Ordem de Cristo.

Em 1832 regressa a Portugal, instalando-se, definitivamente, no Porto, na sua casa no Bonfim. Aqui, dinamiza, de novo, operações comerciais com o Rio de Janeiro. Passa a integrar a comunidade dos 163 negociantes brasileiros (segundo números de 1838) que exerciam na praça comercial do Porto. Torna-se co-fundador do Banco Comercial do Porto, distinguindo-se já então, também, como benemérito.

Ascensão nobiliárquica meteórica

Em janeiro de 1842 dá-se a proclamação cartista no Porto, conduzindo Costa Cabral ao poder. Joaquim Ferreira dos Santos é nomeado pela Junta Provisória como presidente da Comissão do Tesouro. Recebe, em poucos anos, diferentes títulos nobiliárquicos por parte da Rainha D. Maria II: torna-se par do reino, por carta régia de 3 de maio de 1842, Barão de Ferreira a 7 de outubro de 1842, Visconde de Ferreira a 22 de junho de 1843 e Conde de Ferreira a 6 de agosto de 1850, pelos serviços prestados ao país.

Com a Regeneração afasta-se da política. Os últimos tempos passa-os monotonamente no Porto, cumprindo, mesmo assim, o vício da visita diária à Bolsa. Só após a sua morte, a 24 de março de 1866, e sem descendência, torna-se como que benemérito nacional. O testamento que deixou legou verbas para a criação de 120 escolas espalhadas pelo país, com uma particularidade, em termos arquitetónicos: o projeto tinha de incluir, para além da escola, a construção de uma casa anexa para o professor viver.

Mandou construir e dotar o Hospital de Alienados, no Porto, a que foi dado o seu nome. Trata-se da primeira unidade construída de raiz para a psiquiatria em Portugal, inaugurada a 24 de março de 1883. Uma disposição do seu testamento referia-se especificamente a um hospital para doentes psiquiátricos (alienados como então se dizia): "Quero que os meus testamenteiros empreguem todo o remanescente da minha fortuna (…), em construir onde julgarem conveniente, um edifício para o hospital de alienados, não devendo gastar no edifício mais da terça parte do remanescente e, acabada a obra e mobilado o hospital, farão entrega à Santa Casa da Misericórdia desta cidade, não só do edifício, mas também dos fundos sobrantes, previamente empregados em efeitos de crédito público, que farão averbar a favor do hospital e à mesma Santa Casa prestarão contas da sua gerência com respeito ao remanescente".

O testamento contemplou outros estabelecimentos como o Hospital dos Lázaros e das Lázaras e o Estabelecimento Humanitário Barão de Nova Sintra.

Está sepultado no cemitério da Ordem Terceira da Santíssima Trindade, em Agramonte, num mausoléu concluído em 1876 pelo escultor Soares dos Reis.