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Histórias da cidade: Círculo Católico de Operários do Porto ainda resiste e apoia quem o procura

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

A história remonta a 1891, quando o Papa Leão XIII lança a Encíclica “Rerum Novarum” dedicada à condição dos operários. O seu impacto foi enorme entre os católicos do mundo inteiro. Entre outros aspetos dá especial ênfase às relações entre trabalhadores e patrões, através do associativismo operário, e à participação dos católicos no mundo laboral e organização sindical.

Os ecos do documento papal chegam a Portugal, anos mais tarde, destacando-se a ação dos padres João Roberto Maciel e Benevenuto de Sousa, ambos redatores de “A Palavra” e “O Grito do Povo”, e do bispo do Porto, D. Américo Ferreira do Santos Silva, que tudo fará para a criação da primeira associação de católicos de e para operários do país: o Círculo Católico de Operários do Porto (CCOP), fundado a 9 de junho de 1898. “O Grito do Povo” torna-se o órgão oficial da instituição.

Augurando o impacto que viria a ter na cidade, a cerimónia inaugural do CCOP, presidida por Manuel Frutuoso da Fonseca, contou com a presença das mais altas figuras dos meios civil e eclesiástico portuenses. A funcionar, desde 28 de Julho de 1898, no nº 192 da Rua dos Mártires da Liberdade, o CCOP vê os seus estatutos formalmente aprovados pelo Governo Civil em 27 de Agosto de 1898. A aprovação do prelado da Diocese é obtida por Alvará de 5 de Setembro daquele ano”. A descrição é de Eduardo C. Cordeiro Gonçalves, em “Mutualismo ou tentativa de sindicalismo católico? A propósito do movimento dos círculos católicos de operários (1898-1910)” (Revista da Faculdade de Letras, n.º 261 – 2007).

A batalha pelo descanso semanal ao domingo

O CCOP depressa se torna uma organização com elevada participação dos seus associados. Entre a data da fundação e 31 de dezembro de 1909 é possível, segundo Eduardo Gonçalves, “identificar 5625 cadastros individuais de sócios ordinários”. Além dos órgãos dirigentes – Assembleia Geral, Direção e Conselho Fiscal –, o círculo estava segmentado em vários grupos anexos, sobressaindo duas associações de classe: a dos alfaiates e a dos fabricantes de calçado.

O seu programa tinha como prioridades os aspetos religiosos, mas também os sociais, políticos e económicos. Como principais reivindicações sobressaem a questão do descanso semanal ao domingo e a de salários justos para a classe operária. Sobre a primeira escreveu Fernandes da Silva, n’ “O Grito do Povo” de 12 de Agosto de 1899: “O domingo não é somente o dia do Senhor, mas também do homem. Deus criando o homem dotou-o de corpo e alma, e tão intimamente ligada com aquele, que se o corpo descansa a alma também descansa. Porém Deus para prover a esta necessidade estabeleceu o descanso do domingo, sendo regulado segundo o organismo e forças humanas”.

Mas o CCOP teve sempre também preocupações formativas e de recreio. Possuía aula de instrução primária, de ginástica, música, ensino de catequese, biblioteca e um grupo dramático. Promovia ainda conferências periódicas em torno de argumentos de doutrina religiosa e de doutrina social da Igreja.

Porta aberta a quem precisa

Depois de vicissitudes várias, ao longo de 124 anos de história, o Círculo Católico de Operários do Porto ainda resiste. Hoje, é uma porta aberta para apoio a quem precisa. Medalha de Valor Desportivo – Grau Ouro, atribuída em 2001 pela Câmara do Porto, pelo seu trabalho em prol da juventude da cidade, foi-lhe reconhecido, também nesse ano, o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).

Atualmente, com sede na Rua do Duque de Loulé (202), o CCOP serve, de forma direta, centenas de associados em diversas atividades; teatro (Grupo Dramático 09 de Junho, cuja primeira apresentação pública remonta ao ano de 1899), cinema, grupos de fado, grupo coral feminino, ténis de mesa, entre outros.

Na área da ação social, o CCOP já foi palco de iniciativas como “Consultório Médico S. Frei Gil”, “Patronato”, “Secretariado do Desemprego”, “Cooperativa de Crédito e Consumo” e “Caixa Económica”. Na área da educação já funcionaram vários níveis de ensino, desde o nível básico até ao secundário, passando pelo ensino de línguas, artes & ofícios, estudos sociais, entre outros.