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Histórias da cidade: as notícias da Invicta de há 166 anos

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Filipa Brito

A semana do lançamento da 10.ª edição do jornal Porto., distribuído de forma gratuita por toda a cidade, é uma ocasião para lançar um olhar sobre o periódico de maior longevidade na Invicta.

Apesar de já não ser publicado há década e meia, "O Comércio do Porto" continua a ser o jornal da cidade com maior tempo de vida - foram 151 anos de existência, entre 1854 e 2005. Olhar para a primeira edição deste periódico, que foi fundado por Manuel Carqueja e Henrique de Miranda simplesmente como "O Commercio", é viajar no tempo para o Porto e Portugal de meados do século XIX.

A 2 de junho de 1854 era publicado o número 1 daquele que se tornaria o mais longevo jornal da Invicta. "A Praça do Porto precisa d'um Jornal de Commercio, Agricultura e Indústria, onde se tratem as matérias económicas, históricas e instrutivas destes três poderosos elementos em que assenta a prosperidade das nações modernas. A Praça o reclama pela sua importância no interior, e pelo seu nome nos mercados estrangeiros", lia-se no texto que ocupava toda a primeira página, uma declaração de intenções da nova publicação.

"No país a Praça do Porto é o centro comercial das Províncias do Norte; fora dele é conhecida como depositária e exportadora do único género por que nos avaliam comercialmente os estranhos", prosseguia o texto.

Na segunda de quatro páginas da edição inaugural de "O Commercio", para além de algumas notas oficiais e notícias do estrangeiro e do ultramar, o novo jornal do Porto tinha algum noticiário da cidade. Uma delas dava conta de atividades ilícitas: "Informam-nos que se trata de estabelecer nesta cidade uma oficina para cunhar moeda de baixo quilate, logo que apareçam as primeiras do novo sistema. A mesma pessoa que nos deu esta informação, nos diz que este modo de vida não é novo para os falsificadores, pois que já noutro tempo o faziam com as onças espanholas, soberanos, e peças. Compete à autoridade administrativa tomar as medidas que julgar conveniente".

Outro dos textos noticiava a homenagem à cantora lírica Laura Geordano, consagrada dois dias antes, num evento no então Real Theatro de São João (hoje Teatro Nacional São João). Essa noite seria também perpetuada nos versos de Camilo Castelo Branco.

A terceira página de "O Commercio" preenchia-se com os preços correntes de dezenas de mercadorias na Praça do Porto, e a página final continha editais e outros anúncios, como o rol de embarcações que tinham chegado e partido da Invicta.

Dupla presença na toponímia

A Câmara do Porto homenageou os periódicos da cidade na toponímia, com a Rua do Jornal de Notícias, em Aldoar, e a Rua de O Primeiro de Janeiro, junto ao Estádio do Bessa. Já o nome "O Comércio do Porto" figura a dobrar: há a rua que liga o Mercado Ferreira Borges ao Cais da Alfândega, onde o jornal esteve instalado antes de mudar-se para a Avenida dos Aliados. Mas também a rua do Bairro do Comércio do Porto, junto ao Parque de S. Roque e ao complexo do Monte Aventino.

Este bairro, desenhado por Marques da Silva e promovido pelos proprietários do jornal em terrenos municipais, foi entregue à gestão da Câmara do Porto após a conclusão da obra. Inaugurado em 1905, o bairro "inscreve-se na política de envolvimento da sociedade civil na filantropia social e, em particular, na promoção de condições higiénicas para a cidade (...) baseia-se nos modelos de habitação económica da viragem do século", pode ler-se no página da Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva, igualmente autor dos Grandes Armazéns Nascimento, também conhecidos como antigas Galerias Palladium.