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Histórias da cidade: a vida breve de um prodígio portuense da Ciência

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Serpa Pinto, à direita na foto, acompanhado por Joaquim Santos Júnior e António Mendes Correia

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Foram apenas 25 anos de vida, mas com um percurso académico e científico destacado. O portuense Rui de Serpa Pinto notabilizou-se de forma precoce na investigação arqueológica, mas a sua vida seria interrompida, de forma inesperada, pela doença.

Passaram no dia 23 de março 89 anos sobre a data da sua morte, mas um quarto de século bastou para Rui de Serpa Pinto deixar marca na Ciência nacional. Com interesse em áreas diversas, da Pré-História e Proto-História, à Arqueologia, Numismática, Paleontologia, Mineralogia, Geologia e a Epigrafia, o jovem cientista portuense notabilizou-se na investigação.

Nascido a 6 de agosto de 1907 na freguesia de Santo Ildefonso, Rui de Serpa Pinto fez a sua primeira descoberta científica, em 1925, ainda estudante. Identificou “pela primeira vez em Portugal as indústrias líticas de tipo asturiense na região de Vila Praia de Âncora”, notou o geo-arqueólogo António Huet Bacelar Gonçalves, ressalvando que “só três anos mais tarde, após aturados estudos e consultas bibliográficas, vê publicado o primeiro e um dos seus mais importantes trabalhos científicos – ‘O Asturiense em Portugal’.”

“Desde muito cedo mostrou ser dotado de uma grande inteligência, acabando o Curso Liceal no Liceu Alexandre Herculano com altas classificações e ingressou em 1923, com apenas 16 anos, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto para estudar Matemática, obtendo, em 1927, a sua licenciatura. Logo de seguida tomou a decisão de cursar Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e, em 1930, concluiu o mesmo”, lia-se num artigo assinado por Liliana Rodrigues e Inês Amorim no número de dezembro de 2016 da Revista CEM/Cultura, Espaço e Memória.

O seu percurso ascendente despertou a atenção da comunidade científica, nacional e internacional, recordou António Huet Bacelar Gonçalves, salientando a “incansável avidez de conhecimentos” que levou o jovem cientista a percorrer o país “de Norte a Sul tomando apontamentos de tudo o que viu em museus e estações arqueológicas, bibliotecas, arquivos, coleções particulares.”

“A consideração que desfrutava no seio da comunidade arqueológica – nacional e internacional – onde era conhecido por ‘Le Jeune’, atendendo à sua pouca idade – era já um facto consumado, quando a 23 de março de 1933 ocorreu de uma forma imprevista e súbita o seu falecimento”, concluía o mesmo autor.

Vítima de febre tifóide que evoluiu para septicemia, Rui de Serpa Pinto viu precocemente interrompida a carreira académica e científica que estava a iniciar. O epitáfio no jazigo no cemitério de Agramonte evoca a sua “mocidade, talento, virtudes”. “Foi justo e foi sábio. Repartiu a sua vida breve mas fulgente entre o amor a Deus, à Família e à Ciência. Mostras aos 25 anos um pleno voo de glória. Viverá eternamente no coração dos que o amaram”, pode ler-se.

A toponímia da cidade consagra um arruamento à memória de Rui de Serpa Pinto – mas não nos referimos à conhecida Rua de Serpa Pinto. O nome do jovem cientista está imortalizado em Ramalde, numa curta artéria perpendicular à Estrada da Circunvalação.

Da mesma forma, o Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto atribui o Prémio Escolar Doutor Rui de Serpa Pinto ao estudante que tenha mostrado qualidades de investigação na unidade curricular de Biologia Humana.