Sociedade

Histórias da Cidade: A Queima veio para ficar

  • Paulo Alexandre Neves

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O primeiro Cortejo da Queima após suspensão das celebrações, sete anos antes.

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Na semana maior da academia, com a tradicional Queima das Fitas, os estudantes preparam-se para deixar de lado, por uns dias, as sebentas e anfiteatros e virem para a rua dar azo à alegria e confraternização. Mais um ano, para muitos o último, de grande adrenalina… ou talvez não. Agora, pouco importa, é tempo de festejar.

Depois de uns anos de interregno, a "Queima" ressurgiu, em 1978, apenas com um cortejo, tal como documenta a foto deste texto. Três anos volvidos, em 1981, os estudantes desceram as ruas da cidade. "Fitas multicolores, negras vestes ondulantes. Vieram trazer mais alegria e vida à 'baixa' adormecida", pode ler-se na edição de 6 de maio, d’ O Comércio do Porto. "Trouxeram ao mundo as mesmas inquietações da nova geração, perante o espetro deste presente vacilante, grávido de um futuro pouco promissor", acrescenta o texto, assinado por Filipe Ermida.

Das muitas fotografias que ilustra a reportagem, da autoria do fotógrafo Manuel Ribeiro, destaca-se uma, onde se podia ler, num dos muitos cartazes empunhados pelos estudantes da Faculdade de Letras: "Todos me fogem/Eu quero só um/Quero um emprego/Não quero mais nenhum".

Todas as faculdades aderiram, oficialmente, à maior festa dos estudantes, incluindo também o Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (ISCAP). "Só capas/só fitas/a praxe continua" foram as palavras que mais ecoaram, e bem alto, durante o cortejo pela Baixa, acompanhado por milhares de pessoas, "apeadas nas ruas ou empoleiradas nas janelas". A "ajudar" os estudantes estiveram 38 carros alegóricos, que partiram do Palácio de Cristal rumo aos Aliados, passando pela antiga Faculdade de Ciências (hoje, Reitoria), onde estava instalada a tribuna.

As preocupações quanto ao futuro fossem, talvez, as mesmas dos atuais estudantes. A irreverência, essa, mantém-se intacta. Desde então que a Queima das Fitas do Porto se tornou uma festa incontornável na cidade, por esta altura do ano, com inúmeras atividades e, cada vez mais, com preocupações ambientais. Na altura, em 1981, dizia-se que "a Queima veio para ficar". Não só se repetiu, ao longo dos anos, como se tornou imprescindível na vida dos milhares de estudantes universitários.