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Histórias da Cidade: A fonte que deu nome à praça que nunca foi dos Leões

  • Paulo Alexandre Neves

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Há quem ainda utilize ou ouça pela cidade a expressão "vou aos Leões…". Uma, como tantas outras, típicas do Porto e que dá grandeza, neste caso, à Fonte dos Leões. Porque ninguém diz "vou à Praça de Gomes Teixeira", afinal, lugar onde as duas coabitam e tornam o espaço confluência de portuenses e visitantes, em especial de estudantes universitários, que fazem delas a sua "sala de visitas". Porque ali se situa, hoje, também a Reitoria da Universidade do Porto, outrora ocupada pela Faculdade de Ciências.

Uma das mais icónicas fontes da cidade, reabilitada e devolvida, por estes dias, aos portuenses depois de profundas obras de restauro, a cargo da empresa municipal Águas e Energia do Porto, foi construída, entre 1881 e 1886, pela Compagnie Gènérale des Eaux pour l’ Étranger. Segundo o jornalista e historiador Germano Silva, no livro "Fontes e Chafarizes do Porto" (2000), editado pelos antigos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) do Porto, "esta companhia, com sede em Paris, foi a concessionária do contrato para o abastecimento de água à cidade do Porto".

"Uma cláusula desse contrato [n.r: datado de julho de 1882] obrigava à construção, exatamente, na antiga Praça dos Voluntários da Rainha, de uma fonte 'monumental' com funções muito específicas: destinada a 'quebrar' a pressão da água e também ao seu 'arejamento'", acrescenta. A obra não poderia ultrapassar os 3.600$000 reis.

Nessa mesma cláusula do contrato previa-se a cedência, gratuita, por parte da Câmara, à empresa francesa, do subsolo de uma parte do Jardim da Cordoaria para aí ser construído um reservatório de água. A Companhia arcaria com os custos da obra e comprometia-se a repor o jardim no estado em que ele estava, à altura do início dos trabalhos. O reservatório nunca ali seria construído.

Uma praça com tantos nomes

A Fonte Monumental dos Leões, vulgarmente conhecida como Fonte dos Leões, tem oito metros de diâmetro e seis metros de altura. Possui quatro leões alados de porte majestoso, cada um deles a jorrar água pela boca, e dois pratos que completam a sua altura. Na altura de construção fazia parte do Plano Geral de Abastecimento de Água à Cidade do Porto, a cargo da referida empresa francesa. 

Funcionava como desacelerador de pressão da água que vinha do reservatório dos Congregados e que abastecia as freguesias mais ribeirinhas da cidade. Daqui também era conduzida a água que abastecia a zona ocidental da cidade, com término no reservatório da Pasteleira (hoje núcleo do Museu da Cidade).

A praça onde ela se localiza, atual Praça de Gomes Teixeira, já foi do Pão, da Universidade, Largo do Colégio dos Órfãos e, como referido acima, dos Voluntários da Rainha, mas nunca o seu topónimo foi… dos Leões. No entanto, a forte presença da emblemática fonte emprestou sempre o nome à praça e para o portuense esta será sempre a Praça dos Leões.