Cultura

Há um pequeno guarda-joias literário na cidade e tem lá dentro um grande tesouro

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Numa pequena publicação, de 1934, da autoria de Pedro Vitorino, antigo vice-diretor do Museu Municipal do Porto, pode ler-se que “quem julgar que um museu é um estabelecimento estéril, de mera ostentação, engana-se. Labora num erro só concebível pela ignorância. O museu, hoje, tem um papel importante a desempenhar. A questão é que seja orientado convenientemente”. Jaz sob o título oportuno “Museu do Pôrto” e é um dos mais de dois mil livros, revistas e outras publicações que compõem o acervo doado pela sobrinha-neta de Ramalho Ortigão à cidade e que esta pode, agora, 45 anos depois, finalmente descobrir. O tesouro está no pequeno “guarda-joias” que é a Biblioteca Marta Ortigão Sampaio, na sua casa museu, o núcleo número cinco da Biblioteca Errante.

Considerando aquele espaço, “um dos locais mais mágicos da cidade”, o presidente da Câmara do Porto partilhou o gosto de ali encontrar a “aura muito especial, que convoca o nosso vagar, exige recolhimento, apazigua o nosso espírito” que define as bibliotecas.

“Esta biblioteca de origem particular testemunha uma herança de sensibilidade, sofisticação e bom gosto do Porto dos séculos XIX e XX – e nunca tinha sido tornada pública”, sublinha Rui Moreira, na inauguração do espaço, na manhã desta quinta-feira.

Certo de que as bibliotecas “estão mais capacitadas para serem espaços de aprendizagem, exploração e crescimento”, o presidente da autarquia considera que a Casa Museu Marta Ortigão Sampaio “ganha um muito útil e versátil equipamento cultural”.

A intervenção de reabilitação do edifício resulta de um investimento municipal na ordem dos 300 mil euros e contempla a abertura de espaços para residências artísticas ou de investigação já no próximo ano.

Rui Moreira reforça, ainda, a importância de “aproximar os livros das pessoas, criando pequenas bibliotecas em locais estratégicos”, compromisso assumido com o projeto Biblioteca Errante, cuja proximidade “favorece o incentivo à leitura e ao gosto pelos livros, a defesa da língua portuguesa e da nossa identidade cultural e a promoção da criatividade e da expressão artística”. “Tudo isto segundo uma lógica de democratização do saber e inclusão social”, sublinha o presidente.

Casa-Museu-Biblioteca-Jardim-Oásis

Para o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto, este é “um núcleo muito particular, muito suis generis, muito surpreendente” e esta “uma abertura naturalmente feliz porque, além de acrescentar corpo e pulmão à Biblioteca Errante, disponibiliza, pela primeira vez, em termos públicos, uma biblioteca particular, que foi doada em 1978”.

Esta é uma biblioteca “marcada por uma sensibilidade universalista, que corresponde ao espírito da sua doadora”, considera Jorge Sobrado. Não faltam a espiritualidade, a geografia, as ciências sociais ou a gastronomia e a indústria, mas “todos os interesses aqui podem encontrar uma ressonância”. E ali poderá ser requisitado qualquer exemplar da rede de bibliotecas municipais.

“Uma pequena biblioteca ideal” ou mesmo “um guarda-joias literário surpreendente e secreto, não isento de singularidades”, define o diretor em jeito de convite a visitar o oásis que “prolonga a bonita tradição do Porto em fazer nascer bibliotecas em jardins”.