Ambiente

Há conhecimento e tecnologia portuense no projeto para dar uma nova vida ao Vouguinha

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

#fib_alunos_feup.jpg

Filipa Brito

O Vouguinha já foi um comboio a vapor, quando começou a circular no final do século XIX. Ainda hoje faz a ligação – num compasso lento – entre as cidades de Aveiro e Espinho, através da Linha do Vouga. Em breve, graças ao conhecimento produzido na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e à tecnologia da portuense Nomad Tech, especializada em soluções inovadoras para a indústria ferroviária, o mítico comboio poderá tornar-se no primeiro em Portugal movido a hidrogénio.

Está a ser feito no Porto o desenvolvimento científico e tecnológico que dará uma nova vida ao histórico Vouguinha. A FEUP e a NomadTech fazem parte do projeto que, aproveitando o investimento previsto para a reabilitação da via, pretende dotar o comboio de uma solução energética mais sustentável do ponto de vista ambiental, e que tem também menores custos.

O processo parece simples: substituir os atuais motores a diesel por células de combustível a hidrogénio, que geram eletricidade. Um investimento que deverá ascender, no mínimo, aos 34,6 milhões de euros e que a FEUP acredita ser uma solução para um futuro mais sustentável pois “viabiliza a opção do hidrogénio como produtor de energia, ao invés do investimento na total eletrificação da rede ferroviária”.

“Há uma série de linhas que não estão eletrificadas onde existem comboios a diesel, compostos por um motor a diesel que serve para alimentar um gerador elétrico. O objetivo é substituir este conjunto por uma célula de combustível a hidrogénio, que produz energia elétrica. Esta transformação reduzirá custos, uma vez que a eletrificação das linhas é algo mais dispendioso”, esclarece Adriano Carvalho, diretor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da U.Porto.

Durante a próxima década, a Linha do Vouga deverá ser requalificada, com intervenções ao nível da reabilitação da via e reforço das condições de circulação e segurança, num investimento que ultrapassará os 100 milhões de euros. A maior fatia – 75 milhões de euros – vai para a requalificação do troço Espinho – Oliveira de Azeméis.

O projeto para o novo Vouguinha já fez o pedido de financiamento à União Europeia, assim como já foi apresentada também “uma proposta para obtenção do estatuto de projeto de interesse comum para a área do hidrogénio (estatuto IPCEI)”. Dividido em seis etapas, e feitos os estudos de viabilidade técnica e financeira e a construção do protótipo, o “H2Rail” deverá chegar à fase de testes em 2023.

Além da FEUP, o projeto que quer fazer circular no país o primeiro comboio de hidrogénio envolve a CP (Comboios de Portugal), a fabricante de carroçarias e autocarros CaetanoBus, a portuense Nomad Tech, especializada em soluções inovadoras para a indústria ferroviária, e a Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio.

Em linha com a estratégia do Governo de descarbonização dos transportes através da aposta no hidrogénio verde, o Vouguinha pode ser o primeiro a circular com um motor mais amigo do ambiente, mas não o único.

O objetivo é mesmo “expandir as composições de hidrogénio para as restantes linhas ferroviárias”, avança Adriano Carvalho. Mas, primeiro, e “para que a Linha do Vouga fique operacional, é necessário que, em simultâneo, existam já os postos de abastecimento para o efeito”.