Cultura

Gustavo Pimenta apresenta "Íntimo Labirinto" nos Paços do Concelho

  • Paulo Alexandre Neves

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"Não esperes/compromisso infecundo/o poeta/quando nasce/entra de serviço ao mundo". É desta forma que Gustavo Pimenta se descreve na sua mais recente obra literária – "Íntimo Labirinto" -, apresentada, esta quinta-feira, nos Paços do Concelho. O antigo deputado e líder da bancada do Partido Socialista na Assembleia Municipal aborda vários temas – o amor, a guerra colonial e, mais atual, o conflito na Ucrânia, entre outros –, não esquecendo uma outra poetisa do Porto, Ana Luísa Amaral.

A apresentação da obra foi feita pelo presidente da Câmara do Porto. "Os livros de Gustavo Pimenta refletem os valores ético-morais do autor, apresentam uma dimensão marcadamente autobiográfica e traduzem uma certa espontaneidade, ou até pureza, na abordagem à criação literária", reconheceu Rui Moreira.

Com uma vasta obra literária, entre poesia e ficção, Gustavo Pimenta "transporta para os seus livros uma ideia muito clara de justiça e dignidade humana", afirmou o autarca portuense, salientando "o humanismo" que o autor "tão bem cultivou ao longo da vida", em particular quando serviu a causa pública, como deputado do PS à Assembleia da República e deputado municipal também pelo mesmo partido. Em 2018 foi agraciado pela Câmara Municipal do Porto com a Medalha de Mérito, Grau Ouro.

Homenagem a Ana Luísa Amaral

Em "Íntimo Labirinto", Gustavo Pimenta voltou a abordar o tema da guerra, quer esta decorra na África colonizada – fez o seu serviço militar na guerra da Guiné –, quer, mais recentemente, na Ucrânia. "A desumanidade, a inclemência, o terror que se vivem na Ucrânia perpassam as páginas desta obra e dão conteúdo emocional a muitos dos seus melhores poemas", frisou Rui Moreira, citando, na sua opinião, "um dos mais impressivos poemas deste livro": "Insânia/hoje tem um só nome/Ucrânia".

Outro acontecimento que não deixou indiferente o autor foi a pandemia: "súbito/desaba a pandemia/e tudo o resto deixa de parecer/o que parecia/a casa/imperturbável/acolhe-nos o susto". “Creio que estes versos revelam com precisão o estupor, o assombro, a apreensão que a eclosão da pandemia provocou em todos nós, impotentes perante um vírus desconhecido", sublinhou o presidente da Câmara do Porto.

O amor, as preocupações sociais, o ofício de ser poeta são também temas abordados por Gustavo Pimenta, que não se esqueceu de homenagear Ana Luísa Amaral, que acompanhou a produção de muitos dos poemas deste seu livro. Dedicou-lhe mesmo um poema, aquando da sua morte: "não há mal algum/tentar/remendar o mundo/sabendo/não o conseguir/dói tanto/vê-la/forçada a desistir".

"No fundo, os poetas capturam a essência da vida e da condição humana, recorrendo a imagens, metáforas e símbolos que transcendem o significado literal das palavras", destacou Rui Moreira. "Assim se explica que Gustavo Pimenta esteja enleado no seu 'Íntimo Labirinto', (…), encruzilhada de sentimentos, emoções, convulsões e dilemas que acometem os poetas e que os faz entrar de serviço ao mundo", concluiu.

“Íntimo labirinto/onde me debato/em cada destino/não sei/se chego ou parto", escreve Gustavo Pimenta.