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General Pires Veloso homenageado em sessão evocativa do 25 de novembro

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Assinala-se nesta quinta-feira mais um aniversário do 25 de Novembro de 1975. Numa sessão evocativa da data, no Palácio da Bolsa, prestou-se homenagem ao general Pires Veloso, considerado o “vice-rei do Norte”, pelo seu contributo para a democratização do país.

“Um homem providencial” – assim se referiu o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, ao general Pires Veloso, numa sessão evocativa do 25 de Novembro de 1975 na qual foi prestada homenagem ao militar. Na quarta-feira ao final da tarde, no auditório António Cálem, no Palácio da Bolsa, com a presença de elementos da família de Pires Veloso, diversas personalidades abordaram a data histórica e o papel do militar que era referido como o “vice-rei do Norte”.

“Tive o prazer de ser amigo da família, ainda somos amigos. Andei com o Rui no liceu, o brigadeiro conheci-o depois, quando o meu pai estava preso sem culpa formada. Foi um homem providencial: esteve no momento certo e assumiu as suas responsabilidades. Fez a diferença. Empolgou o povo do Porto e não só. É uma das figuras da devolução do poder ao povo português”, enalteceu.

Considerando importante celebrar Pires Veloso porque “a História se repete”, o presidente da Câmara do Porto fez questão de sublinhar que os militares “devem sempre lembrar os seus melhores, não só em tempo de guerra mas também em tempos de paz”. E vincou: “Pires Veloso era um herói militar por isso. Evitou que outros pegassem em armas e se andassem para aí a matar. De vez em quando temos de voltar a dizer obrigado, mesmo quando eles não estão fisicamente presentes.”

“Portugal esteve numa guerra civil até ao 25 de novembro, porque entre o fim do governo de Palma Carlos e o 25 de novembro deixou de se perceber quem era o poder. A partir daí, com pessoas como Pires Veloso, regressou-se a uma relativa normalidade. Não houve sentimento de vingança, todos nós percebemos que tínhamos a oportunidade de ter paz, liberdade e tranquilidade”, notou Rui Moreira, lamentando: “É uma vergonha que o Parlamento se esqueça de assinalar o 25 de novembro. Aqueles que nós poupámos, porque nós não nos vingámos, nem o ato de clemência nos reconhecem.”

A sessão, conduzida por Paulo Ribeirinho Soares, incluiu a apresentação do vídeo “Pires Veloso – o homem e o militar”, que inclui diversos testemunhos sobre o “vice-rei do Norte”, e contou intervenções do vice-presidente da Associação Comercial do Porto, Álvaro Costa, do candidato independente às eleições presidenciais de 2016, Paulo de Morais, do médico e amigo de Pires Veloso, António Castro Ribeiro, e da historiadora Helena Matos.

“Havia uma profunda divisão nas forças armadas. Temos ideia que com o 25 de novembro acabou aquele período, e não é assim. O período pós-25 de novembro é muito violento e de enorme tensão nas forças armadas”, afirmou a historiadora, dando o exemplo do funeral do tenente comando José Coimbra, no Porto, em 2 de dezembro de 1975: “Foi uma manifestação popular impressionante. Era um Porto que vinha para a rua quando o Estado queria impor-lhe algo que a cidade não queria. Um Porto às vezes muito violento, mas muito leal para com o seu país.”

Paulo Morais, em nome do “Grupo de Amigos do General Pires Veloso”, recordou que “em 1975, antes de novembro, o país estava para além do caos. Não havia organização, a arbitrariedade era a regra, poucos dias antes tinha acontecido a ocupação do Parlamento. O movimento do 25 de novembro permitiu que fossemos uma democracia moderna”. “O 25 de novembro tem sido esquecido em Portugal”, lamentou o antigo candidato presidencial.

“A amizade começou ainda na nossa infância. Era irreverente. Um excelente chefe, um homem exemplar, com elevado sentido humano e de justiça. Foi um herói comunitário, um cidadão exemplar”, elogiou António Castro Ribeiro. “É uma honra para nós receber esta sessão. A Associação Comercial do Porto tem lutado pela liberdade”, assinalou Álvaro Costa.

Pires Veloso, nascido em Folgosinho em 1926, morreu em 2014, no Porto, com 88 anos.