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FITEI apresenta neste fim de semana dois espetáculos sobre a memória no Rivoli e no Campo Alegre

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João Tuna

O Teatro Municipal do Porto apresenta, no âmbito do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, uma dose dupla de espetáculos: a estreia de "Filhos do Retorno" de Joana Craveiro/Teatro do Vestido, no polo do Campo Alegre, e o espetáculo em torno de "Daniel Faria" do dramaturgo e encenador Pablo Fidalgo Lareo, no polo do Rivoli.

"Filhos do Retorno", que decorre sexta-feira e sábado às 21,30 horas no Campo Alegre, parte das pós-memórias daqueles cujos pais ou familiares próximos viveram em África no período colonial português, anterior ao 25 de Abril de 1974.

A criação de Joana Craveiro, mais uma vez debruçando-se sobre a transmissão da memória relativa ao passado recente português, visa perceber a relação dos filhos com as vivências dos pais nas ex-colónias, abordando temas como o processo de descolonização, o 25 de Abril e a ideia que ficou de África na família, bem como a questão da passagem da nostalgia para a geração seguinte versus a transformação dessas memórias em tabu familiar.

Após o espetáculo de sexta-feira, Jorge Louraço Figueira, dramaturgo, professor e crítico de teatro, modera uma conversa com os atores e a encenadora Joana Craveiro.

Daniel Faria, monge e poeta

Já no Rivoli, é o espetáculo "Daniel Faria" de Pablo Fidalgo Lareo que vai à cena pelas 21,30 horas de sexta-feira e pelas 19 horas de sábado.

Pablo Lareo afirma que esta peça não é sobre a vida de Daniel Faria, mas "sobre o modo como uma vida pode afetar outras", focando-se na partilha e na entrega da fé, da palavra e dos objetos e num gesto deste poeta desaparecido em direção aos outros para que os nossos corpos se tornem "o arquivo e a memória desses gestos de fé, dessas diferentes formas de dançar, dessas diferentes formas de perguntar: aceitarás ser tocado, estás disponível? Daniel Faria, a vida apagada, incendiou-se".

Este é um espetáculo sobre a transcendência, sobre um homem que escolhe uma forma de vida extrema e dialoga com Deus. Daniel Faria foi um poeta e monge português que colecionava pedras, gostava da luz das igrejas, do teatro, da literatura, da música, do cinema; gostava dos seus amigos com uma entrega quase obsessiva.

Na sua poesia, Deus é uma experiência do corpo. Faleceu aos 28 anos de uma queda na sua cela no mosteiro beneditino de Singeverga, em Santo Tirso. O assunto central da vida de Daniel Faria foi a partilha. A partilha da palavra, da amizade, da poesia e da fé. Mas também a partilha do teatro, onde encontrou uma linguagem única.

Um companheiro do mosteiro disse que Daniel escolheu ter uma vida apagada, mas a sua obra inteira é uma resposta à palavra de Deus. Brilhava quando atuava. Quando saía para a cena, transformava-se. Nele, existia a necessidade de representar. E é a partir da representação que se entende a fé. Se ela está em algum lugar, está no rito e não na doutrina. A fé é uma forma de fazer e atuar, uma presença, uma atitude.

Assim aparece este espetáculo onde os corpos se tornam o arquivo e a memória de gestos de fé, de diferentes formas de dançar e questionar a abertura à fé. A vida apagada de Daniel Faria acende-se!

No sábado, a conversa pós-espetáculo é com o diretor artístico do FITEI, Gonçalo Amorim.

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Teatro - Sex 9 e Sáb 10 Jun / 21H30

Palco do Auditório - Campo Alegre 

TEATRO DO VESTIDO

Filhos do Retorno

Estreia - Coprodução

7,50EUR - M/14

Teatro - Sex 9 / 21H30 - Sáb 10 Jun / 19H

Palco do GAMO - Rivoli 

PABLO FIDALGO LAREO

DANIEL FARIA

Coprodução

5EUR - M/12