Cultura

Feminismo, escravatura e racismo abriram a nova edição do Fórum do Futuro

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O Teatro Municipal do Porto - Rivoli encheu hoje para a sessão de abertura do Fórum do Futuro 2019, em que a escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie lançou para debate questões relacionadas com o racismo na atualidade e na História, a escravatura e a educação das crianças no contexto da perspetiva feminista.

Numa conversa com a jornalista Joana Gorjão Henriques, profissionalmente focada nos temas do racismo e dos direitos humanos, Chimamanda falou nomeadamente na interiorização da ideia de raça e de racismo. Nascida na Nigéria e de pais nigerianos, a escritora, que está traduzida em mais de 30 línguas, afirma que só se começou a sentir negra aos 19 anos, quando emigrou para os Estados Unidos da América e foi confrontada com a perceção americana relativamente a África - uma visão linear e paternalista de catástrofe, pobreza e ignorância - que a levou inicialmente a rejeitar a ideia de se identificar como negra.

Na sessão que lançou a semana de reflexões do Fórum do Futuro, Chimamanda falou sobre o longo processo de redescoberta da sua identidade e cultura, e da importância das obras literárias de autores negros americanos e africanos para entender as raízes dos estereótipos racistas na América. Defendendo a importância fulcral da existência de múltiplas narrativas, a autora considera que o ato de escrever deve sempre ter uma função social, pois as histórias podem quebrar a dignidade de um povo, mas também têm o poder de reparar a dignidade quebrada.

Fortemente ovacionada pela plateia do Grande Auditório do Rivoli, assim como no Pequeno Auditório para onde a sessão foi transmitida em streaming, o primeiro evento do Fórum teria depois ligação à apresentação da performance multidisciplinar "RANT", no Palácio dos Correios, que o coreógrafo Ralph Lemon e o artista Jevin Beasley criaram especificamente para esta ocasião. "RANT" incidiu sobre conceitos transversais a todo o programa do Fórum do Futuro 2019 e, num ambiente de clubbing, pôs o foco em assuntos ligados ao legado da ocupação e extração humana, cultural e natural.

O Fórum do Futuro decorre até 9 de novembro entre o Rivoli, a Galeria Municipal, o Palácio dos Correios, a Casa da Música, Serralves e o Cinema Trindade, sendo todas as sessões de entrada livre, mediante levantamento de bilhetes nos locais e no dia de cada sessão.

Amanhã, o artista Ernesto Neto dá início às Artist Talks, pelas 17 horas no Rivoli, com "Espiritualidade, Arte, Política: Estamos Todos Misturados", onde falará sobre a sua prática artística que se inspira nos povos indígenas, numa sessão moderada por Miguel Leal, artista visual e docente da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Por sua vez, Calixto Neto apresenta "oh! rage", às 19 horas na Galeria Municipal do Porto, uma tempestade de imagens, referências e estados que pretendem dar corpo à raiva, onde um corpo diaspórico reclama uma dança em estado de celebração. A performance resulta de um cruzamento da programação do Fórum e a exposição "Estar vivo é o contrário de estar morto", que tem curadoria de Guilherme Blanc e Luísa Saraiva.

Às 21 horas, Sônia Guajajara, uma das mais proeminentes líderes indígenas e ativistas ambientais da atualidade, e o artista Ernesto Neto, que tem vindo a focar-se na importância de um projeto de indigenização, apresentam "A luta pelo território e a destruição da Amazónia". A sessão, moderada pela artista Rita Natálio, focar-se-á na destruição exponencial da floresta e das comunidades da Amazónia e na necessidade de incluir vozes dos povos indígenas nos modelos de governação.

A programação completa do Fórum do Futuro pode ser consultada AQUI.