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Feira do Livro sob o signo da Revolução inclui várias novidades programáticas

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A Feira do Livro está de regresso aos Jardins do Palácio de Cristal, de 7 a 23 de setembro, com uma programação de matriz revolucionária, não fosse o homenageado deste ano ser o cantautor José Mário Branco, voz e figura emblemática de Abril. Com especial intenção de propor um olhar mais íntimo sobre a importância da Literatura no universo da arte e, em particular, da Música, a oferta programática reserva várias novidades, anunciou esta manhã o presidente da Câmara do Porto, em conferência de imprensa: a Cabine de Escalas; a residência literária do escritor Bernardo Carvalho, que resultou num conto escrito sobre a cidade; e um projeto que ganhará forma no próximo ano, denominado Pavilhão Efémero de Verão.

No ano em que celebra o 50.º aniversário da sua carreira, também José Mário Branco verá o seu nome imortalizado na Avenida das Tílias, já no próximo dia 8 de setembro (sábado), às 17 horas. Uma hora depois, Anabela Mota Ribeiro, que integra novamente a equipa de programação, modera um debate com homenageado.
Será este o primeiro ato público de inauguração da Feira do Livro, que abre portas no dia anterior, a 7 de setembro. 

De acordo com Rui Moreira, José Mário Branco foi escolhido por "ser um dos nomes mais importantes da música portuguesa do século XX, que acreditamos ser, paralelamente, um dos nomes mais relevantes da literatura nacional das últimas décadas". Também o facto de ser o Porto "a cidade que o viu nascer" e onde viveu a sua juventude pesou na escolha.

Através das múltiplas facetas deste cantor, compositor, letrista, produtor e ator, constrói-se assim um programa cultural com mais de 40 atividades, que pode ser fruído por gente de todas as idades. Serão temas em destaque "a liberdade, o amor e a sublevação", não esquecendo os ideais do Maio de 68, cujos 50 anos também não passarão em branco.

Novidades da edição 2018

O projeto-piloto Cabine de Escalas, programado pela artista e editora Isabel Carvalho, faz a sua estreia este ano na Avenida das Tílias. Como explicou esta manhã Rui Moreira, "traduz-se num espaço partilhado que possibilita a participação, a título gratuito, de pequenas editoras e livrarias na Feira do Livro". Nesta primeira Cabine irão participar 16 projetos independentes, especificou Guilherme Blanc.

O adjunto do presidente da Câmara do Porto para a Cultura anunciou também a segunda novidade que a edição de 2018 da Feira do Livro reserva: Bernardo Carvalho, "um importante autor brasileiro, muitíssimo traduzido e premiado", foi convidado pelo Município para uma residência literária que teve a duração de um mês. O processo de criação contou com o apoio do coletivo "mala voadora", tendo resultado num conto sobre a cidade do Porto, que será distribuído gratuitamente com o Jornal da Feira do Livro, revelou.

A terceira novidade que esta edição reserva, na realidade, começa este ano a ser preparada mas, pela sua natureza, só estará no terreno em 2019. O anúncio da construção do Pavilhão Efémero de Verão, "que deverá servir como espaço de encontro e de cultura antes, durante e após o período da Feira do Livro", foi feito por Rui Moreira, que explicou que o projeto pretende resultar numa "espécie de pavilhão da Serpentine Gallery", mas que surgirá não por convite, antes por concurso, "e terá ainda de permitir o uso para atividades culturais no decorrer da Feira do Livro". O próximo passo é lançar o desenho arquitetónico a concurso.

Na edição de 2018, a quarta consecutiva a ser organizada pela Câmara do Porto, a Feira do Livro mantém a mesma dimensão e tipologia de oferta, com 134 participantes e atores diversificados do setor do livro distribuídos por 130 stands. "Cremos ser esta a dimensão correta para este espaço e que aumentá-la poderia desvirtuar a relação dos visitantes com o parque e a paisagem, que pretendemos que seja um elemento diferenciador na experiência de visita a este projeto da cidade", justificou o autarca.

O orçamento total do projeto é de cerca de 200 mil euros, um montante semelhante ao do ano passado, que se divide de forma paritária entre despesas de logística e de programação.

Equipa de programação mantém-se 

Como revelou esta manhã o presidente da Câmara do Porto, "a equipa de programação é a mesma do último ano": Anabela Mota Ribeiro e José Eduardo Agualusa programam o ciclo dos debates, as lições e as performances de spoken word; Guilherme Blanc e António Costa preparam as sessões de Cinema; ao passo que as equipas da Biblioteca e da Porto Lazer ficam responsáveis pelas dezenas de iniciativas educativas e de exterior que percorrem as duas semanas da Feira do Livro.

A Biblioteca Municipal Almeida Garrett também servirá de porto de abrigo às exposições que estarão patentes durante o evento. Uma delas desafia a ver o "Porto sentido de fora: [em] livros e guias de viagem de Portugal entre a monarquia constitucional e o Estado Novo"; outra mostra, por exemplo, resulta de uma seleção original de 15 cartazes do Maio de 68; e a de maior envergadura, intitulada 
"MUSONAUTAS, VISÕES & AVARIAS: 1960-2010 - 5 décadas de inquietação musical no Porto", propõe uma retrospetiva de cinco décadas de música.

Balão de ar quente volta a subir nos Jardins do Palácio

Também este ano, o balão de ar quente tem regresso marcado aos Jardins do Palácio, todos os sábados e domingos do certame, proporcionando subidas gratuitas aos visitantes, aos finais de tarde, afirmou na conferência de imprensa Nuno Lemos, administrador da Porto Lazer, empresa municipal que todos os anos apoia a Câmara do Porto na organização da Feira do Livro.

Na rampa de acesso ao Palácio de Cristal será preparada, pela primeira vez, uma intervenção de arte urbana, assinada pelo artista portuense KiNO. O tema da obra, que se estenderá ao longo de 30 metros e estará concluída durante a Feira do Livro, tem como fonte de inspiração um dos poemas de José Mário Branco, "Inquietação".

Considerando que a Avenida das Tílias tem algumas zonas irregulares, "foram feitas algumas correções e melhorias ao nível de todas as rampas de acesso, o que naturalmente melhora o conforto e a acessibilidade aos visitantes", revelou ainda Nuno Lemos.

Não negando que este ano a montagem decorre com o desafio acrescido de coincidir com as obras de requalificação no interior do Pavilhão Rosa Mota, Rui Moreira assinalou, todavia, que nunca foi equacionada a paragem temporária das obras por esse motivo. "Não fazia sentido parar. As cidades são assim, temos de viver com essa contingência", explicou o autarca.