Cultura

Estreia hoje o programa Ecos da Biblioteca Sonora na Feira do Livro do Porto

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Miguel Nogueira

Aos fins de tarde de terça, quarta e quinta-feira, sempre com os ponteiros acertados para as 18,30 horas, um conjunto de leitores revelam-se intérpretes na Concha Acústica, ecoando em polifonia as suas vozes. São os Ecos da Biblioteca Sonora, que configuram mais uma novidade na programação da Feira do Livro do Porto 2020. Podem ser escutados nos Jardins do Palácio de Cristal a partir de hoje.

É no contexto da Feira do Livro do Porto que uma das principais propostas do projeto para o Museu da Cidade inicia a sua manifestação: o eixo sonoro. Nesta terça-feira, é a vez da estreia do programa Ecos da Biblioteca Sonora, que ensaia um primeiro passo de propagação sónica pela cidade.

Tesouro ainda escondido para a maioria do grande público, a Biblioteca Sonora, projeto iniciado nos anos 70 e localizado na Biblioteca Pública Municipal do Porto (em frente ao Jardim de São Lázaro), torna acessível a literatura e a poesia a pessoas invisuais ou com dificuldade no manuseamento de objetos, auxiliada por um grupo de voluntários que se dedica a gravar livros.

Volvido meio século, pela primeira vez, este lugar onde a leitura é escuta transpõe as paredes do centenário edifício municipal, antigo Convento de Santo António da Cidade, para ecoar no recinto do festival literário.

Assim, na envolvente atmosfera da Avenida das Tílias, serão ouvidos textos que foram sendo recolhidos durante o período de confinamento, no âmbito das exposições "Por trás das árvores há um outro mundo", patente até 13 de setembro, e "Livros são Árvores, Bibliotecas São Florestas", de portas abertas até 26 de dezembro, respetivamente, no Gabinete de Desenho, na Casa Guerra Junqueiro, e no Gabinete do Som, na Biblioteca Pública Municipal do Porto.

Em específico, textos de Angelus Silesius, Apaches Jicarilla, Carlos de Oliveira, J.M.G Le Clézio, Rui Chafes, Stefano Mancuso, Thomas Bernhard, Teixeira de Pascoaes, Tomás Maia, William Patrick Corgan.  

Esta é uma das ofertas que o núcleo de programação do Museu da Cidade, dirigido por Nuno Faria, também coordenador do programa da Feira do Livro do Porto deste ano, acrescenta à programação. Mas a segunda novidade, associada ao eixo sonoro, tem sido notada desde o início do festival literário, na passada sexta-feira.

Fala-se da Rádio Estação, que acompanha os passeios do visitante pelo recinto e sintoniza a energia da feira captada em tempo real, com conversas, informações e as palavras dos seus protagonistas.

Os espaços são convocados por paisagens sónicas, narrativas e composições de Jonathan Uliel Saldanha, Hugo Carvalhais, Pedro A. H. Paixão, Pedro André, Pedro Augusto, Pedro Tropa, Pedro Tudela, Dr. Urânio, e do Coletivo Espaço Invisível (Samuel Martins Coelho + Nuno Preto), entre outros artistas. Por outro lado, a Rádio é a possibilidade de estender as lotações limitadas dos espaços neste contexto pandémico, transmitindo em direto as Lições, os Concertos de Bolso, as conversas Certos Outros Sinais moderadas por Fernando Alves, ou ainda a sessão especialíssima das icónicas Quintas de Leitura e as Conversas Situadas, segmento do programa comemorativo do bicentenário de 1820 - Revolução Liberal do Porto.

Ambos os projetos são desenvolvidos com a cumplicidade do colectivo Espaço Invisível, presença permanente na transmissão e locução da Rádio Estação, das oficinas e na encenação das leituras dos voluntários da Biblioteca Sonora, sob a direção de Nuno Preto.

Sintonize a Rádio Estação em feiradolivro.porto.pt ou na frequência(MHz) 91.5FM, num raio de 15 quilómetros.

Museu da Cidade (re)nasceu em fevereiro

Contrariando a hipervalorização da imagem, que ora se perpetua ora se questiona nos atuais contextos museológicos, o Museu da Cidade propõe, desde o lançamento do projeto em fevereiro deste ano, a importância do som e da experiência da escuta.

Assim, enquanto se retoma o enraizamento das suas 16 estações, muitas implicando empreitadas de requalificação de equipamentos ou reformulação dos seus projetos museológicos, o recém-fundado museu à escala da cidade continua a descobrir-se, irradiando agora os Jardins do Palácio com paisagens sonoras feitas de palavras, composições, sopros e silêncios.