Sociedade

Estudo sobre homicídio conjugal

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Egídio Santos

As principais vítimas de homicídio conjugal em Portugal são
mulheres entre os 26 e os 45 anos, casadas e que frequentaram o ensino superior
ou secundário. Já entre os agressores, predominam os homens dos 46 aos 65
anos, casados e com baixas habilitações literárias. Os dois perfis foram
traçados por investigadores da Escola de Criminologia da Faculdade
de Direito da Universidade do Porto (FDUP) e constam de um estudo pioneiro apresentado
no passado dia 10 de julho, na Assembleia da República (AR).


Encomendado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género
(CIG) e realizado sob a orientação científica de Cândido da Agra, Diretor da
FDUP, o estudo baseou-se na recolha e análise sociodemográfica de
197 decisões judiciais - envolvendo 204 condenados e 226 vítimas - em
matéria de homicídios conjugais, proferidas entre 2007 e 2012, por tribunais
judiciais de primeira instância ou por tribunais superiores.


Os resultados permitiram então identificar que as vítimas
são sobretudo mulheres (89,9%) entre 26 e 45 anos (51,6%), com habilitações ao
nível do ensino superior (36,4%) e do ensino secundário (27,3%), são casadas
(71,7%), estão empregadas (78,8%), são de nacionalidade portuguesa (94,9%) e
têm rendimentos mensais médios até 500 euros (50%) e entre 501 e mil euros
(40,6%).


Já o agressor tipo tem entre 26 e 45 anos em mais de
metade dos casos (51,6%) habilitações literárias ao nível do primeiro ciclo
(45,5%), é casado (53,7%), está empregado (61,9%), é português (91,3%) e
aufere, em média, mensalmente entre 501 e mil euros (41,7%).


Quanto às penas aplicadas, o estudo
mostra que as mulheres condenadas por homicídio conjugal, quer
na forma consumada, quer na forma tentada, têm, em média, penas inferiores aos
homens, sendo-lhes aplicada frequentemente pena suspensa. Globalmente, a pena
mais aplicada nos casos de homicídio consumado (49,8% do total)  é
a prisão efetiva. Em relação aos homicídios na forma tentada (50,2%
do total) a pena é, em média, de 4 anos e meio para os casos de homicídio
tentado simples, verificando-se um equilíbrio de situações de pena de
prisão suspensa e de prisão efetiva. Quando o homicídio na forma tentada é
qualificado, a pena de prisão sobe, em média, para os 6 anos e meio.


A equipa de investigação, que inclui ainda os
docentes Jorge Quintas, Pedro Sousa e André Lamas Leite,
concluiu igualmente que, "em cerca de metade dos casos, existem situações
de violência anterior exercida pelo/a condenado/a sobre a vitima, quase sempre
de natureza continuada". Em muitos dos casos,  "o/a condenado/a
tinha antecedentes criminais e revelava problemáticas comportamentais, com
destaque para a dependência de álcool e para variados tipos de desordens
mentais, incluindo as psicóticas e depressivas." Em 18,3% dos casos
analisados, os órgãos de polícia criminal já teriam conhecimento anterior
de atos de violência doméstica e em 40% das situações, os crimes
estão ligados à não aceitação do fim da relação por parte do condenado.


Como conclusão, a investigação revela que o combate ao
homicídio conjugal passa pela prevenção e repressão da violência doméstica e
pela aplicação de medidas de afastamento do autor do crime em relação à vítima.
Uma ideia partilhada pela Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares
e da Igualdade que, perante os resultados do estudo, frisou, na AR, que é
importante que os homens percebam que "não são donos das suas mulheres".


Par além de Teresa Morais, a apresentação pública do estudo
contou ainda com as presenças  da Procuradora-Geral da República, da
Presidente da CIG e de representantes do Conselho Superior da Magistratura, da
Procuradoria-Geral da República e da PSP.


Fonte: Portal de Notícias da U.Porto