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Falta de policiamento no combate ao tráfico e consumo de droga criticada na Assembleia Municipal

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A falta de policiamento na cidade e, consequentemente, a atuação das forças de segurança no combate ao tráfico e consumo de droga foi criticada pelo presidente da Câmara do Porto, esta segunda-feira, durante a Assembleia Municipal. Perante os deputados, e depois dos alertas deixados pela presidente da Junta de Freguesia de Ramalde, Patrícia Rapazote, e da União de Freguesias do Centro Histórico, Nuno Cruz, com a situação que se vive nos seus territórios, Rui Moreira garante que "a situação atual na cidade é o paraíso do tráfico", prometendo um combate, "sem tréguas", a este flagelo.

"Não pode alguém vir à nossa cidade dizer que o tráfico resulta de problemas sociais. Não resulta. O tráfico é aquilo que condena a cidade ao degredo em que vivemos", sublinhou o presidente da Câmara, criticando, nesta matéria, a atuação do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, nas últimas semanas. "Tem vindo ao Porto fazer, também ele, alguns comícios sobre a questão da droga. Não sei se em antecipação de uma futura campanha eleitoral ou se lhe ficou alguma lágrima por não ter sido candidato", frisou Rui Moreira.

Colocando a questão do tráfico, exclusivamente, no âmbito criminal, o autarca portuense garantiu que há "poucos agentes policiais e muitos estão afetos a serviços que, antigamente, não tinham que fazer, nomeadamente nos tribunais. Têm uma sobrecarga de trabalho e são muito menos".

"Temos um número insuficiente de efetivos e não têm recursos. Não têm carros, não têm fardamentos, não têm, algumas vezes, gasolina, mas, sobretudo, não têm o recurso da lei para poderem intervir. Porque têm de assistir, passivamente, aquilo que acontece à frente das nossas escolas", acrescentou.

Na opinião de Rui Moreira, "tentar confundir uma coisa com outra é tentar atirar areia aos nossos olhos. Pode ser muito interessante do ponto de vista do discurso político, pode ser uma abertura para uma grande candidatura à Câmara do Porto, mas não vai enganar a nossa população".

Para fazer face ao desinvestimento estatal, o presidente da Câmara lembrou, dentro das suas competências, o município tem tentado resolver o problema, com a cedência de carros à PSP, instalação da videovigilância e de uma sala de consumo assistido. "Estamos à espera que nos digam quais são as especificidades técnicas para ter uma unidade móvel, que é da minha preferência", revelou o presidente da Câmara.

Rui Moreira: "Vou continuar a dizer que é preciso mais polícia"

Segundo Rui Moreira, "temos de furar o balão e sermos consequentes relativamente ao tráfico. Isso não pode ser a Câmara a fazer, a Polícia Municipal, as instituições particulares de solidariedade social (IPSS) ou os cidadãos, porque quando começarem a ser estes a fazer alguma coisa os princípios do estado democrático são postos em causa".

"Se me quiserem chamar reacionário podem fazê-lo à vontade. Enquanto eu cá estiver vou continuar a dizer que é preciso haver mais polícia, que é preciso alterar a lei. Não consigo conceber que isto seja uma questão ideológica, porque estamos a falar dos mais fracos, dos que estão expostos a isto todos os dias", frisou, sublinhando: "Não confundam o que é uma preocupação séria e não tentem atirar o problema para debaixo do tapete".

"Se normalizarmos o consumo só temos de ter coragem para normalizar também a venda. Na lei seca, não era permitido o consumo de bebidas alcoólicas. Com isso apareceram as máfias e eu não quero que a minha cidade seja tomada pelas máfias", concluiu Rui Moreira.

Na opinião de Raúl Almeida, do Movimento "Rui Moreira: Aqui Há Porto", "a culpa não é de resolver o problema do bairro onde [o tráfico] estava antes. O problema é da ilegalidade, da persistência nas permanentes atividades à margem da lei e da incapacidade do Estado em fazer valer a lei em parte do seu território. Isto é da responsabilidade, em primeiro lugar e em grau direto, do ministro da Administração Interna e, como tal, também do governo".

Rui Sá, da CDU, garantiu que, "no fundamental, estamos de acordo" sobre a análise feita pelo presidente da Câmara. "Juntos não somos demais para combater um problema desta seriedade e dimensão", disse.

Susana Constante Pereira, do Bloco Esquerda (BE), concordou também na necessidade de haver mais recursos. Inclusivamente, na sua opinião, "a videovigilância não compensa a falta de policiamento. A expressão é termos a polícia em teletrabalho e não no terreno". Já sobre o consumo, a deputada bloquista garantiu que é "uma questão de enorme sensibilidade. Estamos todos, na cidade, a lidar com esta situação".

Assista à sessão na íntegra no Youtube da Câmara do Porto.