Cultura

Eventos na Feira do Livro vão de Ana Hatherly a Tarkovski e fazem paragem em Clarice Lispector

  • Notícia

    Notícia

#DR_clarice_lispector.jpg

Clarice, Saramago, Hatherly, Tarkovski. São vários os nomes que servem de tema ao ciclo de spoken word da Feira do Livro do Porto que, já nesta sexta-feira e no sábado, tem mais duas propostas em que a palavra domina sob as mais diversas formas.

"De Ana Hatherly a Tarkovski - palavras, imagens e um fio de música" é o tema da sessão preparada pela programadora Anabela Mota Ribeiro para as 21,30 horas desta sexta-feira, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett (Palácio de Cristal).

Com acesso livre, o evento conta com as participações de Matilde Campilho (voz), Tomás Cunha Ferreira (música e imagem), Mariano Marovatto (voz e música) e Anastasia Lukovnikova (imagem), o que aponta desde logo para muito mais do que uma sessão de "palavras ditas" ou simples declamação.

Aliás, "nas sessões de spoken word, a palavra é dita literalmente", reconhece Anabela Mota Ribeiro, sublinhando porém que "está longe de se esgotar no dizer; ao invés, ela é apropriada pela imagem, pelo som, pela diversidade linguística e de suportes".

Assim, para a noite de sexta-feira, podemos esperar um grande ecrã, instrumentos, livros e quatro amigos no palco. Uma conversa de esquina a quatro vozes, um cordel que será desenrolado a oito mãos. Anastasia, Matilde, Mariano e Tomás são poetas, mesmo quando não são. Falarão da revolução e da memória, dos monumentos e do futuro, do silêncio, sem o ferir, e das estórias das ruínas. Com eles: Chris Marker e Chantal Akerman, Leonard Cohen e Susan Sontag, um canto tupi e as câmaras da NASA em direto do cosmos.

Copacabana Mon Amour, Meredith Monk, as cores de Pancetti sobre o Tejo, o golo que Maradona marcou com a mão e outras impossibilidades. Maiakovski, James Bond e John Cage. Basho, Darwin e os habitantes de todas as ilhas. São todos poetas, mesmo os que não são. Estão entre Ana Hatherly e Tarkovski, porque tudo sempre está.

Já para a noite de sábado, Anabela Mota Ribeiro preparou uma sessão que evoca os 40 anos da morte de Clarice Lispector, intitulada "Que mistérios tem Clarice?", desta vez com Ana Vidigal (imagem), Marta hugon (voz), Filipe Raposo (piano) e Carlos Mendes de Sousa (seleção de textos).

Clarice Lispector tornou-se entre nós uma autora de culto, cuja repercussão atual em Portugal excede talvez a de qualquer outro escritor brasileiro. Num belíssimo poema, escrito a seguir à morte da escritora, Carlos Drummond de Andrade retratou-a, falando justamente do mistério (palavra que, a partir do título de uma canção de Caetano, dá o mote a esta sessão): "Clarice / veio de um mistério, partiu para outro. / Ficamos sem saber a essência do mistério. / Ou o mistério não era essencial, / era Clarice viajando nele".

Nos 40 anos da sua morte, esta sessão de spoken word, com início também às 21,30 horas e de acesso livre, procura pôr em diálogo a literatura, as artes plásticas, a música, a performance, tendo como centro a palavra de Clarice.
Até 17 de setembro, a Feira do Livro do Porto tem ainda para oferecer um vasto programa que pode consultar aqui e acompanhar diariamente na página do facebook.