Ambiente

Estudo revela impacto do desempenho térmico dos edifícios na qualidade de vida

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Miguel Nogueira

Quase metade dos residentes do Porto e de Lisboa afirmam que o frio e o calor excessivos no interior das habitações afetam negativamente a qualidade do sono, o estudo e o desempenho no teletrabalho, entre outros. A conclusão é de um estudo sobre o desempenho térmico e a pobreza energética nos edifícios residenciais nas cidades do Porto e Lisboa.

O inquérito – Pobreza Energética – realizado pela AdEPorto – Agência de Energia do Porto e pela Lisboa E-Nova – Agência de Energia e Ambiente de Lisboa mostra que, no Porto, o efeito prejudicial do desconforto térmico é assumido por 49% dos participantes. Em Lisboa, esse número aumenta para 54%.

O estudo focou-se em variáveis relacionadas com a pobreza energética, nomeadamente o grau de conforto térmico nas habitações, relacionando este indicador com a perceção de estado geral de saúde, a qualidade da construção dos edifícios e a fatura energética dos agregados domésticos. Foram também recolhidos dados sobre a literacia energética dos residentes de ambas as cidades.

O inquérito revela que cerca de 40% dos participantes residentes em Lisboa e no Porto admite desconforto em relação à temperatura em casa durante o inverno, embora a verdadeira extensão do problema possa ser maior. No verão, 23% dos inquiridos no Porto diz-se igualmente desagradado com a temperatura em casa, face aos 32% de Lisboa.

Cerca de 59% dos inquiridos em Lisboa e 47% no Porto identificam alguma situação de ineficiência construtiva nas suas habitações, nomeadamente a infiltração excessiva de ar pelas portas e janelas, a presença de humidade e o fraco isolamento térmico das paredes.

Quanto à literacia energética, 47% dos inquiridos em Lisboa diz-se informado sobre temas de energia e conforto térmico na habitação. No Porto, o valor cai para os 37%. Contudo, ficou apurado que, em ambas as cidades, cerca de 70% dos inquiridos não sabe responder se a sua habitação está classificada energeticamente ou a que classe energética pertence. A classe C é a mais reportada em Lisboa, por quem tem este conhecimento, seguida da B. Já no Porto as classes A, B e C surgem identificadas com maior frequência.

Embora mais de 50% dos inquiridos desconheça que haja fundos de apoio à realização de obras de renovação em casa, 80% dos inquiridos em Lisboa e 77% no Porto consideram importante a existência de gabinetes de aconselhamento público gratuito sobre energia e conforto térmico em casa.

O caso do Porto

Quanto aos dados do Porto, o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, sublinha a “necessidade de conhecer a situação atual da habitação e pobreza energética no território como contributo importante para a elaboração de uma estratégia efetiva de combate a esta realidade, melhorando não só as condições de habitabilidade dos portuenses, mas também contribuindo para uma transição energética justa e positiva”. Projetos como o Porto Energy Hub, destaca, “são importantes no combate à pobreza energética e contribuirão decisivamente para o aumento da resiliência energética do território, tendo em vista alcançar a neutralidade carbónica em 2030, o grande compromisso inscrito no Pacto do Porto para o Clima que reúne já mais de 180 subscritores, entre os quais figuram algumas das maiores instituições e empresas da cidade e da região”.

Resultados vão contribuir para definir políticas públicas no setor

Segundo as agências promotoras do estudo, os resultados obtidos serão importantes para o desenvolvimento de políticas públicas, locais e nacionais, orientadas para a mitigação do problema que afeta a saúde e o orçamento das famílias portuguesas. Está já prevista para breve a realização de um inquérito para captar a situação de verão.

O inquérito contou com a colaboração do ISAmb, Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e do ICS, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Foi realizado por telefone a uma amostra de residentes em Lisboa e Porto com 25 ou mais anos de idade. Ao todo, participaram 1.508 lisboetas e 1.201 portuenses. A base de dados foi ponderada por género, grupo etário e nível educacional, tendo sido consideradas válidas 1.476 respostas relativas a Lisboa e 1.166 ao Porto. Desta forma, a distribuição da amostra relativamente a estas caraterísticas sociodemográficas tornou-se muito similar à distribuição da população residente em cada uma das cidades em estudo.

Os resultados completos estão disponíveis online. A plataforma de visualização de resultados contou com o apoio da Associação Porto Digital.