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Estudo procura voluntários para descobrir relação da personalidade com as bactérias que habitam o intestino

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Filipa Brito

Uma equipa liderada por uma investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) e da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto está a “recrutar” cidadãos portugueses com mais de 18 anos, para participar num estudo que pretende relacionar características microbiológicas, nomeadamente o tipo e quantidade de bactérias que habitam o intestino humano, com características da personalidade.

O projeto denominado “Microbi-A: Estudo da relação entre o microbioma e traços de personalidade" pretende estudar o impacto do microbioma humano na saúde mental e a sua interação com características de personalidade, para compreender de que forma se relacionam e se a sua modulação por probióticos poderá ser benéfica”, explica Benedita Sampaio Maia, que lidera a equipa de investigação, em declarações à página de notícias da Universidade do Porto.

Assim, os cientistas procuram recrutar participantes da comunidade para fazer uma avaliação de parâmetros psicológicos e fornecer amostras para análise do microbioma e dos metabolitos e moléculas a ele associados.

Nos últimos anos, o microbioma humano tornou-se um importante alvo de estudo por influenciar de forma notória o equilíbrio entre a saúde e a doença. Sabe-se que os microrganismos que habitam o corpo humano estão relacionados com estados inflamatórios e com doenças crónicas como a obesidade, a diabetes, a síndrome do intestino irritável, entre muitas outras. Mas, além destas relações já estabelecidas, surgem agora novas hipóteses.

“Como as diferenças individuais na personalidade estão associadas a diferenças na função cerebral e como as bactérias do intestino conseguem comunicar com o cérebro através do eixo bidireccional intestino-cérebro, o microbioma pode estar relacionado com diferenças de personalidade”, sustenta Carolina Costa, estudante do programa doutoral em Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), cuja tese de doutoramento – financiada pela FCT e atualmente em curso no i3S, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP) e na Universidade de Oxford – esteve na origem do projeto.

A comunidade científica tem vindo a associar o microbioma à saúde mental, reportando que as bactérias que habitam o intestino têm um impacto relevante no cérebro. A depressão e a ansiedade são exemplos de problemas de saúde mental que parecem estar relacionados com um desequilíbrio do microbioma.

“Trata-se de uma área de investigação muito recente e, embora se trate de um tema de grande interesse para a comunidade científica, o número de estudos disponíveis ainda é muito limitado, daí a importância deste projeto que queremos desenvolver em Portugal”, explica Benedita Sampaio Maia.

O projeto “Microbi-A” será desenvolvido durante quatro anos por uma equipa que reúne investigadores do i3S, do laboratório de Neuropsicofisiologia da FPCEUP (Fernando Barbosa) e da Universidade de Oxford (Philip Burnet).