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Estudo de investigadores do Porto é capa de prestigiada revista científica estrangeira

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Artigo elaborado por uma equipa de investigadores da Universidade do Porto foi destacado na última edição da prestigiada revista científica Science Signaling. O estudo em causa debruça-se nas consequências do consumo repetido de álcool.

Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) assinou um artigo na última edição, lançada a 22 de setembro, da prestigiada revista científica Science Signaling, demonstrando que o consumo repetido de álcool em quantidades excessivas tem atuação direta na microglia (células imunes do sistema nervoso central), o que faz com que esta elimine parte da comunicação entre neurónios (sinapses) em áreas específicas do cérebro, contribuindo para o aumento dos níveis de ansiedade. Os investigadores descobriram ainda os mecanismos responsáveis por esse processo e como prevenir esse efeito.

Segundo João Bettencourt Relvas, líder do grupo de investigação Glial Cell Biology do I3S e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o uso do álcool tem um impacto negativo na vida de milhões de pessoas em todo o mundo e "está normalmente associado a défices na transmissão sináptica e na função da microglia nos seus consumidores, assim como em modelos animais de intoxicação alcoólica".

No trabalho, agora tornado público, os investigadores do i3S estudaram o impacto da ingestão de doses equivalentes a cinco bebidas por dia no homem, durante um período de 10 dias. O estudo demonstrou que "o álcool afeta a microglia e que esta afeta diretamente os neurónios, uma vez que é a microglia que neste contexto elimina elementos estruturais da comunicação entre os neurónios, as chamadas sinapses", conclui o responsável pelo grupo.

Já Renato Socodato e Camila Cabral Portugal, os primeiros autores deste artigo que mereceu honras de primeira página na Science Signaling, explicam que "existe a ideia pré-concebida de que o álcool só atua diretamente nos neurónios" no entanto, "no nosso trabalho provamos que o álcool também atua na microglia", levando-a a "comer" sinapses, o que contribui "para o aumento de ansiedade observado".

Além disso, os investigadores estudaram ainda "as vias de sinalização que causam a eliminação dessas sinapses específicas", conseguindo "com recurso a fármacos já utilizados na clínica, prevenir o aumento de ansiedade induzido pelo consumo repetido de álcool".

Para isso, adianta Camila Cabral Portugal, foram utilizados "fármacos que são normalmente utilizados contra o cancro (anti-neoplásicos). Drogas que já estão no mercado e que podem ser usadas neste contexto para prevenir perdas sinápticas induzidas pelo álcool que levam ao aumento de ansiedade".

Também Teresa Summavielle, líder do grupo de investigação Addiction Biology do i3S e que também coordenou este estudo, salienta igualmente as conclusões deste trabalho em relação à demência associada ao consumo de álcool: "A comunidade científica é unânime ao afirmar que doses elevadas de álcool causam deficits cognitivos consideráveis e que isso contribui para o desenvolvimento de demência, mas este trabalho mostra que mesmo períodos relativamente curtos do consumo repetido de álcool em excesso são suficientes para que exista perda sináptica, o que pode por si ter consequências a médio/longo prazo".

Em Portugal, o Sistema Nacional de Saúde (SNS), através das suas Unidades de Alcoologia, recomenda que não se ultrapassem as duas bebidas por dia, ou as 10 bebidas por semana, correspondendo uma bebida a 20 cl de cerveja, ou 10 cl de vinho com 12°, ou 3 cl de uma bebidas destilada, por exemplo. O consumo de álcool é considerado excessivo sempre que ultrapassa quatro bebidas por dia nas mulheres, e cinco bebidas por dia nos homens.