Política

“Este é um tempo em que o Estado se deve endividar para resolver a situação”

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Miguel Nogueira

O presidente da Câmara do Porto defendeu ontem, na RTP1, que o Governo tem de apoiar mais as empresas e famílias, com um reforço de medidas que promovam uma retoma acelerada da economia, assim que a crise sanitária estiver sanada. Rui Moreira foi um dos convidados do programa “É ou não é?”, conduzido pelo jornalista Carlos Daniel, às terças-feiras à noite. Em debate, a questão “Que Natal vamos ter?”.

O autarca antecipa que o Natal dos portugueses não será igual ao dos outros anos, mas aguarda que possa ser, ainda assim, em família. “O pior dos natais será para aqueles que perderam os seus entes queridos. Mas independentemente das crenças religiosas de cada um, o Natal é por norma uma festa da família. E chamo a atenção para as crianças, não apenas para os mais velhos. As crianças tiveram um ano horrível. Por isso, era muito importante que conseguíssemos ter um Natal, apesar de tudo, no seio familiar”, disse Rui Moreira, alertando para o “impacto psicológico” que a pandemia pode provocar nos mais pequenos.

Num programa que contou também com a presença em estúdio da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, do antigo ministro e economista, António Bagão Félix, do professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Manuel Carmo Gomes, e da empresária Ana Maria Vasconcelos, o presidente da Câmara do Porto afirmou ainda que só depois da pandemia é que se pode pensar na retoma da economia.

“Enquanto o problema sanitário não estiver resolvido é impensável pensar que a economia vá disparar. A pandemia afetou a economia dos dois lados: do lado da oferta e claramente do lado da procura”, constatou o autarca, que pede ao Governo medidas fortes no apoio às famílias e empresas.

“Este é mesmo um tempo em que o Estado se deve endividar para resolver a situação. Por uma razão anticíclica; é um pouco também como a história da cigarra e da formiga”, metaforizou Rui Moreira, que entende as críticas de que o Governo possa não estar a dar os apoios suficientes ou que até podia ser mais rápido nas respostas.

“Precisamos que as empresas estejam municiadas e haja trabalhadores”, reforçou o presidente da Câmara do Porto, alertando ainda que muitos empresários “estão desesperados” por verem as dívidas a acumular e por saberem que podem não conseguir salvar todos os postos de trabalho.

Questionado pelo jornalista Carlos Daniel sobre o porquê de a Região Norte, mais precisamente o distrito do Porto, ter voltado nesta segunda vaga da pandemia a ser aquela que, no mapa, apresenta o risco mais elevado de transmissão do vírus, o autarca lembrou que a principal razão está relacionada com o peso da indústria na Região. “As cidades à volta do Porto não podem estar em teletrabalho”, referiu, comparando o Norte de Portugal ao Norte de Itália, na região da Lombardia, onde o problema é exatamente o mesmo.

Rui Moreira afirmou ainda ser crítico de algumas medidas do Governo, nomeadamente a proibição de circulação entre concelhos e o recolher obrigatório a partir das 13 horas aos fins de semana. “Esta ideia de que a passagem entre concelhos infeta as pessoas, sinceramente tenho dificuldade em perceber. Da mesma maneira, a questão dos horários: o que devemos tentar é diminuir a concentração de pessoas em espaços fechados”, argumentou.

O programa, participado ainda à distância pelo músico Pedro Abrunhosa e pelo Frei Fernando Ventura Santos, abordou também a crise no setor cultural.

A propósito, o autarca sublinhou que “é nestes momentos que mais precisamos de cultura”, ideia partilhada por Pedro Abrunhosa que considera que a cultura tem, de certo modo, uma “missão salvífica”.

“A cidade do Porto manteve os teatros, as bibliotecas e os museus abertos, com as devidas restrições. A meu ver, tem corrido bem, e há público, mesmo ao sábado de manhã”, constatou Rui Moreira, que diz ser preciso um trabalho exaustivo do Governo, no sentido de dar apoio a todos os trabalhadores ligados ao setor, muitos deles precários.