Educação

Escolas do município asseguram refeições e projetos adaptados às necessidades das crianças (REPORTAGEM)

  • Inês Reis

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Manter a qualidade do ensino, mesmo que à distância, continua a ser uma prioridade do Município do Porto. Atualmente, mais de 400 alunos do 1.º ciclo do ensino básico beneficiam de um serviço de refeições diárias, os programas educativos foram adaptados às necessidades atuais, e há ainda um serviço de acolhimento para quem não tenha possibilidade de ficar com os filhos em casa.

São 10 horas da manhã e no refeitório da Escola EB1 das Antas já se ultimam os preparativos para mais um serviço de entrega de almoços, com destino a 18 escolas do município.

Mesmo num cenário de suspensão das atividades letivas e educativas desde janeiro, estes estabelecimentos de ensino da rede pública municipal – um por cada agrupamento escolar – permaneceram de portas abertas para continuar a prestar o apoio à comunidade escolar, quer através da disponibilização de almoços, quer pelo acolhimento de crianças cujos pais ou encarregados de educação têm de assegurar serviços mínimos ou essenciais e não dispõem de retaguarda familiar, havendo ainda alguns casos de crianças em situação de vulnerabilidade, que foram sinalizadas pelas entidades de proteção de menores com a recomendação do ensino presencial.

“Nós mantivemos os serviços de refeições, seja presencial, seja à distância, disponibilizado em serviço de take-away, que inclui o próprio lanche. Portanto, podemos dizer que, apesar desta situação absolutamente excecional que vivemos, nas escolas do Porto, dentro do possível, nós conseguimos garantir que as cerca de 8.000 crianças continuem a beneficiar da escola, continuem a fazer a interação com os professores e continuem a ter contacto com um conjunto de programas educativos e pedagógicos”, assinala o vereador com o pelouro da Educação, Fernando Paulo.

Numa verdadeira linha de montagem, são preparados, diariamente, cerca de 433 almoços e 435 lanches destinados aos alunos do município. As refeições são devidamente servidas e acondicionadas em recipientes para, de seguida, serem distribuídas pelas restantes cantinas em funcionamento dos jardins de infância e escolas do 1.º ciclo do ensino básico da rede pública do Porto, providenciando alimentação a cerca de 213 crianças em regime take-away e 220 em regime presencial.

A Escola Básica do Bom Sucesso é um dos destinos destas refeições, onde, por volta do meio dia, e após uma cuidada lavagem das mãos, as crianças começam a ocupar os seus lugares na cantina – uma em cada mesa, como ditam as atuais regras do distanciamento social – para mais um almoço equilibrado, em que a sopa, o prato principal, a fruta e o pão não podem faltar.

Atualmente com 17 alunos em regime presencial, a escola situada na Rua de Barbosa Du Bocage, assim como as restantes do concelho, soube adaptar-se à nova realidade, mantendo os referenciais na aprendizagem, mobilizando recursos, readequando estratégias e adaptando práticas pedagógicas de ensino à distância, fundamentais para que, durante esta fase, nenhuma das crianças seja prejudicada.

Naquele que é um momento desafiante para o sistema educativo, Ângela Bastardo, coordenadora da Escola EB1 do Bom Sucesso, explica o formato adotado para as crianças em regime presencial: “eles estão conforme os anos separados por turmas; cada turma está numa sala onde têm um professor auxiliar, e estão a assistir à aula do próprio professor e da sua turma. Estão, por isso, sempre em contacto”, mesmo que através do ecrã do computador.

Tendo em conta a faixa etária das crianças - que vai dos 3 aos 9 anos de idade -, a escola conta com o apoio de alguns professores auxiliares, responsáveis por lecionar os projetos municipais, as AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular) e a CAF (Componente de Apoio à Família). São eles que prestam o acompanhamento às crianças em regime presencial, seja enquanto assistem às aulas digitais, brincam no recreio, ou até mesmo na execução dos trabalhos de casa após o horário escolar.

“Tentamos tornar o quotidiano destas crianças mais dentro da sua rotina e, ao mesmo tempo, damos-lhe este reforço, quase de ‘um para um’”, acrescenta a coordenadora Ângela Bastardo.

Já no exterior, Ana Melo, educadora de infância, realiza atividades na horta da escola com duas crianças de 3 anos – as únicas a frequentar, de momento, o ensino pré-escolar. Acostumada a cuidar de uma turma inteira ao mesmo tempo, confessa que esta “não é a escola que nós queremos, porque a escola que nós queremos é cheia de crianças e com vida e alegria”. Ainda assim, está consciente de que “tentam sempre fazer o melhor” e que isso se reflete no rosto dos mais pequenos. “Acho que se vê que eles estão bem. A grande preocupação é com o bem-estar deles”, conclui a educadora infantil.

No que diz respeito à oferta de programas e projetos educativos, promovidos pela autarquia, também estes souberam adaptar-se às circunstâncias e continuam a proporcionar às crianças das escolas da rede pública municipal um conjunto de atividades que visam enriquecer e facilitar a sua aprendizagem.

Aquando da visita do Porto. à Escola Básica do Bom Sucesso, decorria uma sessão do CiiL (Centro de Investigação e Intervenção na Leitura), integrado no Programa de Promoção da Aprendizagem da Língua Portuguesa, dirigido às crianças do 1.º e 2.º ano de escolaridade. Aqui, com o apoio de uma marioneta, a professora procurava desenvolver as competências de leitura e reforçar a aprendizagem da língua materna, através de jogos didáticos. De igual forma, também a aula do projeto Cientistas na Escola, do Programa Porto de Crianças, procurava estimular a curiosidade infantil através de experiências e da abordagem a diversos temas atuais, relacionados com a ciência.

Do outro lado e à distância, na casa da família Mesquita, Carminho, de sete anos de idade, assistia a uma das sessões. Os pais, Susana e Vitor, com três filhos de quatro, sete e nove anos de idade a terem aulas online, consideram que estes programas têm desempenhado um papel importante na rotina das crianças, inscritas na Escola Básica do Bom Sucesso. “A diversificação de atividades, sejam mais lúdicas ou mais pedagógicas, permitem enriquecer o tempo que eles passam em casa”, considera o pai.

Em tempos atípicos como este, a mãe observa que os únicos fatores que têm suscitado mais dificuldades de adaptação por parte dos filhos prendem-se essencialmente com “as saudades dos amigos e do recreio”, pois de resto, “embora este sistema não substitua o presencial, apesar de tudo tem funcionado muito bem”, conclui.

Com um reforço do investimento, por parte da Câmara do Porto, na educação, segurança e desenvolvimento curricular das crianças do concelho – tendo no mês passado aprovado o aumento do apoio financeiro às escolas da rede pública – o vereador, Fernando Paulo, garante que esta é “uma das áreas prioritárias de intervenção” do município, sempre em estreita colaboração com as escolas e comunidade educativa.

Em relação aos vários programas, que continuam a integrar a missão pedagógica da Câmara do Porto, o responsável não tem dúvidas de que “além da relação e da aprendizagem, que é necessário garantir a todos os alunos, é muito importante também garantir os espaços de socialização, de crescimento e desenvolvimento, contacto com a música, contacto com as expressões artísticas, mas também com uma língua estrangeira e com outro tipo de atividades de valorização e de enriquecimento, que sobretudo quebrem rotinas e que os desafiem e interpelem”.

Com um leque bastante diversificado, os programas municipais visam promover a difusão de ações socioeducativas e o intercâmbio de experiências educacionais junto dos alunos do pré-escolar e do ensino básico e secundário da cidade. Com um balanço muito positivo, estas ações têm contribuído para manter os jovens e as crianças motivados, sobretudo durante este período de ensino à distância, enquanto o regresso à escola não volta a ser uma realidade.