Ambiente

Equipas municipais recebem formação para gerir pequenas massas de água

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Durante dois dias, esta terça e quarta-feira, operacionais do Departamento Municipal de Estrutura Verde e Gestão de Infraestruturas da Câmara do Porto recebem formação prática para saber como gerir pequenas massas de água doce do concelho e proteger a biodiversidade que nelas habita.

A formação é promovida no âmbito do projeto MoRe Porto (Monitorização e Restauro da Biodiversidade das Zonas Húmidas da Cidade do Porto), sendo que as sessões são integralmente práticas. É avaliada a manutenção adequada a cada tipologia de massa de água e à biodiversidade que nela habita, sendo o controlo de vegetação e gestão da biomassa o denominador comum e uma parte fundamental para o equilíbrio destes ecossistemas.

Estas duas sessões vão incidir no Tanque da Presa de Contumil, no lago da gruta do Parque de S. Roque e no Charco do Terminal Intermodal de Campanhã. O plano da sessão inclui o controlo da vegetação e de matéria orgânica, a construção de rampas de acesso para a macrofauna e a introdução de plantas aquáticas e anfíbios nativos, de acordo com as necessidades de cada espaço.

MoRe Porto já passou pelo Parque da Cidade, Horto das Virtudes e Quinta do Covelo

Em março, 25 elementos das equipas municipais do Parque da Cidade, Horto das Virtudes e da Quinta do Covelo receberam a mesma formação e as mudanças no terreno são visíveis.

No Parque da Cidade, o trabalho incidiu no charco das rãs, assim designado pela elevada concentração deste anfíbio. A água do charco apresenta um elevado nível de nutrientes, o que se reflete na proliferação de lentilha-de-água, uma planta flutuante, que, apesar de nativa nestas condições, tem um comportamento infestante, formando uma camada verde, que impede a entrada de luz na água. A primeira parte da formação foi dedicada a retirar o excesso desta planta aquática, assim como o excesso de biomassa (folhas e ramos) acumulados no fundo do charco.

Seguidamente, foram transplantadas para áreas mais próximas das margens Hortelã-de-água (Mentha aquatica L.), Alisma (Alisma plantago-aquatica L.), Ranúnculo-língua-de-cobra (Ranunculus ophioglossifolius Vill.) e Salgueirinha (Lythrum salicaria L.). Por fim, esta massa de água foi corada com a "instalação" de um nenúfar-amarelo (Nuphar luteum (L.) Sm.), o maior nenúfar português, com elevado valor ornamental e paisagístico, importante para a biodiversidade, porque serve de alimento a aves aquáticas, peixes e invertebrados, garante sombra e abrigo para a fauna aquática. O seu estatuto de conservação não está avaliado, embora se saiba que as populações existentes em estado selvagem estão claramente em declínio devido à perda de habitat e às más práticas de gestão da água (poluição).

No Horto das Virtudes, a equipa possibilitou que a formação/manutenção passasse por todas as massas de água dos socalcos. Neste local, destacam-se o controle da lentilha-de-água e as construções de rampas para o acesso dos anfíbios nos tanques, que sem estas estruturas podem ser armadilhas mortais. O Horto das Virtudes acolhe uma das mais importantes populações de sapo-parteiro da cidade, aos quais se juntaram agora tritões-marmoreados e tritões-de-ventre-laranja.

Mais recentemente, o charco da Quinta do Covelo, com menos de 10 anos de existência, também teve direito a uma sessão de educação-ação que consistiu no controlo da lentilha-de-água, de lírios-amarelos-dos-pântanos e das tabuas, bem como na poda das árvores circundantes, permitindo a entrada de luz e consequente diminuição de biomassa na água. No final da manutenção, descobriu-se que este local concentra a maior população de tritão-palmado da cidade.

Projeto More Porto quer caracterizar, monitorizar e restaurar as massas de água da cidade

O projeto More Porto é coordenado pelo CIIMAR, financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo e tem o Município do Porto como o principal parceiro estratégico e tem como grandes objetivos caracterizar, monitorizar e restaurar as massas de água da cidade do Porto.

Até ao momento, já foram inventariadas 230 massas de água. Em 68, foram identificadas 54 espécies de macroinvertebrados aquáticos, oito espécies de anfíbios, três espécies de répteis aquáticos (duas das quais invasoras) e 48 espécies de plantas aquáticas, das quais 31 são nativas, 13 exóticas e quatro invasoras. A diversidade de espécies encontradas comprova a grande importância das massas de água urbanas para a preservação da biodiversidade aquática.