Cultura

“É só para os pequeninos?”. Não, o Bibliocarro está na estrada e tem histórias para todos

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Assumindo os livros como lugares privilegiados de viagem, o Município do Porto recorreu à literalidade do conceito e reativou o serviço de Bibliocarro, estacionado desde o início da pandemia (com um primeiro novo arranque no Dia Mundial da Poesia). Passageiros – que é com quem diz livros – acomodados, pé no acelerador, e assim começa a viagem que leva histórias aos bairros da cidade.

O autocarro parado na berma de uma das ruas do Bairro de S. Tomé não está pronto para arrancar. Ali estacionou, durante toda a manhã, para uma viagem diferente: pelo mundo da literatura. “É só para pequeninos?”, pergunta alguém, atraído pela algazarra despertada nos miúdos pelo enorme veículo cheio de livros. Não, o Bibliocarro é para todos.

Ali viajam as aventuras infanto-juvenis para os mais pequenos, a poesia do senhor Fernando ou os romances da D. Eulália. Do encontro de gerações à volta desta biblioteca sobre rodas, rapidamente nascem as histórias que todos contam, tão cativantes como as novas tecnologias dos livros que agora são de ouvir.

Renascido para ser mais uma carruagem da Biblioteca Errante, uma série de núcleos de microbibliotecas que vão surgir como resposta ao encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal, o projeto “tem por objetivo estar perto da comunidade e fazê-la ver que há outros espaços que podem ser uma mais-valia para quem está afastado das bibliotecas fixas”.

Quem o explica é Maria Adelaide Silva, técnica do serviço educativo da Biblioteca Almeida Garrett, a assumir a dinamização deste veículo. Porque não só será possível levar livros para ler em casa (devolvendo-os quando o autocarro passar, novamente, pelo bairro), como também será espaço para a mediação, a animação da leitura, oficinas e apresentações.

Porque, como acredita Maria Adelaide Silva, “quem não lê, nunca poderá ser um cidadão pleno, não pode exercer a sua cidadania ativa, não pode escolher, não pode informar-se”. E, tão ou mais importante, “a leitura é também uma forma de não se estar sozinho”.

Até ao final do mês a viajar por dez bairros da cidade – Campinas, Mouteira, Viso, Santa Luzia, Cerco, Machado Vaz, Fonte Moura, S. Tomé, Ramalde e Condominhas – o Bibliocarro quer fazer ainda mais quilómetros e, a partir de maio, vai levar o mundo dos livros ao dobro dos lugares.

“É uma pequena biblioteca universal e é também uma viagem”, acredita o diretor do Museu e Bibliotecas do Porto. “Aqui encontramos Ginsberg e Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral e Goethe. Encontramos Manuel António Pina para a infância e Andy Warhol na arte pop, encontramos geografia, viagens”, lembra Jorge Sobrado.

Inserido na Biblioteca Errante, o Bibliocarro tem a “ambição” de “poder oferecer o acesso, de forma gratuita, à literatura”. “Tem uma função social”, assume o diretor, pois quer aproximar os livros das franjas da população com menor poder económico para os adquirir, “mas cumpre também a função de mostrar o imenso e maravilhoso mundo da literatura e a diversidade de que é feito”, uma “provocação à descoberta de novos autores”, refere Jorge Sobrado.

Próxima paragem, novas histórias.