Política

“É preciso cuidar que a maioria das pessoas tenha liberdade em democracia”, garante Rui Moreira

  • Paulo Alexandre Neves

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O presidente da Câmara do Porto falou, nesta quarta-feira, a alunos do ensino secundário sobre “Liberdade: Presente e Futuro”. Perante uma plateia de estudantes do Colégio Júlio Dinis, Rui Moreira não quis falar sobre o passado – “o futuro começa hoje e o presente é sempre o primeiro momento do futuro”, disse – nem dar, propriamente, uma aula sobre Liberdade e Democracia. Tratou-se, antes, de uma conversa aberta, que espevitou o interesse de alunos e professores.

Como se equilibra e partilha a liberdade com a democracia? À pergunta por si lançada, o presidente da Câmara deu resposta: “A democracia resulta da procura, do princípio da partilha da liberdade. Foi assim que ela foi sendo construída”.

“A democracia, só por si, não garante a liberdade. Se a maioria não quiser a liberdade em democracia, ela não está garantida. O equilíbrio é muito difícil”, garantiu, acrescentando um outro grau de exigência nesta dicotomia: “Se não houver pão e água suficiente para todos, não há liberdade. Para que liberdade e democracia subsistam é necessário que a sociedade seja, pelo menos, autossuficiente”.

“Se não tivermos cultura dificilmente conseguiremos fazer escolhas naturais”

Para além da autossuficiência, as sociedades livres necessitam também da cultura, valor que “nos permite compreender a diferença uns dos outros, ter a conceção da diferença”. “Se não tivermos cultura dificilmente conseguiremos fazer escolhas naturais”, frisou Rui Moreira, para quem “é preciso cultivar a democracia, garantindo que ela é sustentável e, ao mesmo tempo, compreender, tolerar a diferença de opiniões, perceber o mundo”.

“Vivemos, felizmente, numa sociedade que, nos últimos anos, teve a virtude de se desenvolver nesses aspetos. Só chegámos à democracia, há 48 anos. Não foi porque não quiséssemos antes, mas porque não havia condições. Houve necessidade de fazer ruturas, de construir uma sociedade desigual, com opiniões diferentes, mas em que, apesar de tudo, nos sentimos em liberdade”, sublinhou o autarca.

Perante as novas realidades políticas e sociais, como sejam os casos dos movimentos populistas e/ou extremistas, de ambos os blocos ideológicos (direita ou esquerda), Rui Moreira deixou um alerta aos jovens estudantes: “É preciso cuidar que a maioria das pessoas tenham liberdade em democracia. Esta tolera esses movimentos, permite que eles existam, obrigando, a quem ama a liberdade, a ter maior participação cívica. Discutam, entre vocês, os assuntos; não tomem por bom aquilo que aparece nas notícias; recusem-se a condenar o outro, apenas porque ouviram dizer mal nas redes sociais”.

“Não conheço melhor que a liberdade”

E sobre as redes sociais, o presidente da Câmara do Porto defendeu que “elas formulam uma opinião, mas cada um de nós deve exercer o seu direito de filtrar. Temos de ter coragem de expor os vícios dos outros e os nossos. A liberdade é uma partilha. Se não for assim não faz sentido nenhum”.

“Não conheço melhor que a liberdade. Vivi num tempo em que ela não existia. Por isso, não queria que, no futuro, vocês limitassem a liberdade, que agora temos, e, subitamente, começar a acreditar em coisas que não são filtradas”, frisou Rui Moreira.

Num presente marcado pela pandemia e pela guerra, o autarca portuense formulou um desejo: “Felizes aqueles que vivem em países democráticos e livres. Fomos capazes de, em liberdade, viver uma crise [pandemia]. Teria sido bem pior se isto fosse uma anarquia. E agora, com a guerra, tudo isto nos obriga a pensar nisto tudo. Espero que vocês cuidem da liberdade para que, quando forem da minha idade, possam continuar a celebrar o 25 de Abril”.

Antes da conversa de Rui Moreira com alunos e professores, houve lugar à declamação de um poema de Manuel Alegre e à atuação do quinteto de sopros da Academia de Música de Costa Cabral.