Sociedade

E o coração de D. Pedro IV voltou ao seu lugar de sempre na Igreja da Lapa

  • Paulo Alexandre Neves

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Depois de uma viagem de 19 dias ao Brasil, no âmbito das comemorações do bicentenário da independência daquele país irmão, mais dois de exposição ao público, durante o fim de semana (tinha já estado exposto nos dias 20 e 21 de agosto), o coração de D. Pedro IV voltou hoje ao seu lugar de sempre: o mausoléu da Igreja da Lapa. A cerimónia foi presidida pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

Finda a visita ao coração de D. Pedro IV, exposto, de novo, na Sala dos Atos (salão nobre), durante o fim de semana, teve início a cerimónia oficial da sua guarda. A igreja estava repleta de convidados, de diferentes quadrantes da sociedade portuguesa, e população em geral. Para além de Rui Moreira, tomou parte também a provedora da Irmandade da Lapa, Maria Manuela Rebelo. Acompanhando o momento solene, que marca o regresso da relíquia do monarca ao mausoléu onde está guardado há quase 200 anos, houve registo de um apontamento musical no grande órgão de tubos, com interpretação de uma obra de J. S. Bach.

Tudo foi feito sob um rigoroso cerimonial. Elementos do Batalhão Sapadores Bombeiros retiram a tampa do sarcófago do coração. Quando o mausoléu ficou completamente aberto, o presidente da Câmara Municipal e a provedora da Ordem da Lapa ficaram à espera que o escrínio entrasse pela porta principal da igreja, percorrendo todo o corredor central até à capela-mor. Já o vaso de vidro com o coração de D. Pedro IV, transportado pelo comandante da Polícia Municipal, António Leitão da Silva, teve uma guarda de honra de quatro militares.

O comandante da Polícia Municipal entregou-o nas mãos de Rui Moreira. Seguiram-se todos os procedimentos de colocação e fecho da caixa de mogno, onde está depositado o coração, e colocação da urna no mausoléu. Por sua vez, a provedora da Ordem da Lapa entregou as chaves ao presidente da Câmara. Seguiu-se, novamente, um momento musical pelo organista titular do grande órgão de tubos da Igreja da Lapa, Filipe Veríssimo, com a interpretação de obras de Marcos Portugal e do próprio D. Pedro IV, que teve formação musical. A cerimónia encerrou com uma improvisação sobre o Hino da Independência do Brasil, da autoria do próprio monarca.

“A cidade ficou a conhecer ainda melhor um dos seus tesouros”

Já depois da cerimónia, e aos jornalistas, Rui Moreira sublinhou não ter dúvidas que “o Porto ganhou na relação histórica e presente que tem com o Brasil”, com as celebrações dos 200 anos de independência do país irmão. “Também a cidade acolheu e ficou a conhecer melhor um dos seus tesouros”, garantiu, deixando uma palavra de agradecimento ao seu chefe de gabinete, comandante da Polícia Municipal, sapadores bombeiros, Instituto de Medicina Legal e os partidos políticos [aprovaram, por unanimidade, em reunião de Executivo a proposta de transladação temporária do coração de D. Pedro IV para o Brasil], que “tornaram possível, e com grande dignidade, estas celebrações”.

O autarca portuense deixou, igualmente, uma palavra especial para o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos Alberto França, nomeadamente para que a cerimónia e a exposição que lá decorreu “fossem condignas com a qualidade e o tesouro da cidade do Porto”.

A ocasião foi aproveitada para uma troca de presentes entre Rui Moreira e o embaixador do Brasil no nosso país, Raimundo Carreiro Silva. Este ofereceu uma garrafa de cachaça ao autarca, que, por sua vez, retribuiu com uma garrafa de Vinho do Porto, alusiva ao bicentenário da independência do Brasil. Gesto de cortesia a que assistiram o presidente da Assembleia Municipal, Sebastião Feyo de Azevedo, alguns vereadores do Executivo e demais convidados.

Rui Moreira voltou também a referir-se à hipótese de exposição do coração de D. Pedro IV à cidade, com uma periodicidade definida. “Como tem que sair, de cinco em cinco anos, para reposição do líquido (formol) em que ele está colocado, pode ser aproveitado para o expor. A partir de agora há todas as condições para o fazer: atrai muita atenção, ficamos com um dispositivo (vitrina especial) que foi desenvolvido para a exposição e que não vai ser perdido. Temos todas as condições para que, daqui a cinco anos, se faça isso”, frisou, deixando também a garantia de que a zona da Lapa vai ser reabilitada.

Recorde-se que o coração de D. Pedro esteve em exposição na Irmandade da Lapa em dois períodos distintos: este fim de semana e nos dias 20 e 21 de agosto, então atraindo mais de seis mil visitantes. Já na exposição realizada do Brasil, entre 25 de agosto e 5 de setembro, a relíquia foi vista por cerca de oito mil pessoas.

A exposição “D. Pedro IV: um coração, uma vontade”, organizada pela Câmara Municipal do Porto e pela Irmandade da Lapa, ficará patente até dia 12 de outubro, com a apresentação de várias peças históricas inéditas relacionadas com a doação do monarca à cidade.

O Porto continuará, entretanto, a celebrar as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil. Veja aqui todo o programa desenvolvido pela Câmara Municipal do Porto.