Economia

Dos 2 aos 80, todos sentiam a falta dos carrosséis e das farturas (REPORTAGEM)

  • Cláudia Brandão

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Quando fazem as contas, os empresários dos divertimentos itinerantes ficam nostálgicos: já não se viam as luzes, não se ouvia a música nem sentia o cheiro desde o S. João de 2019. Desde sábado e até ao final do mês de junho, encontram na Boavista, nas Fontainhas e em Lordelo do Ouro locais que os vão ajudar a retomar a atividade. O apoio do Município do Porto, que isentou os empresários do pagamento das habituais taxas e licenciamentos, além da garantia do policiamento dos três espaços, bem como da infraestruturação elétrica, é para todos um balão de oxigénio.

“O senhor sabe quando abre a roda gigante? É que o meu filho nunca viu uma e nós viemos aqui de propósito para ele ver esta alegria”. Se motivos não faltavam para voltar, o presidente da MEID (Associação-Movimento Empresarial Itinerante de Empresas de Diversões e Similares) podia ter apenas este. Paulo Jorge sublinha que a criança teria cerca de dois anos, quase todos vividos em pandemia.

Mas não era o único ávido pela chegada dos equipamentos. “Houve um senhor, devia ter uns 80 anos, que veio no fim de semana e disse que estava muito feliz porque finalmente ia poder comer uma fartura e estar fora de casa em segurança”, conta o responsável por uma das três associações com quem o Município do Porto assinou o protocolo, que representa um apoio na casa dos 200 mil euros e que irá abranger mais de 70 empresários do setor, e um universo de cerca de seis centenas de pessoas.

“Sentimos como se fosse 25 de Abril”, desabafa Paulo Jorge, “para nós representa como se nos saísse o Euromilhões”. Para o empresário, este retorno tem um efeito não apenas económico, mas “psicologicamente sentimos que podemos fazer algo útil, não só para nós, mas também perante a sociedade, para que as famílias possam sair de casa com toda a segurança”.

Segurança é a palavra que todos sublinham. Para lá do apoio municipal, os Fun Parks seguem um rigoroso plano aprovado pela Direção-Geral da Saúde. Desde a vedação dos locais, o álcool-gel e a medição de temperatura à entrada, a lotação do espaço, o policiamento e a limpeza sistemática dos equipamentos, o investimento dos empresários representa cerca de 62 mil euros.

Empresários assumem voto de confiança

Abílio Felício confessa-se “muito agradecido à autarquia e à DGS por este voto de confiança que nos deram de podermos provar que somos competentes e podemos exercer com todas as normas”.

Dono de um divertimento infantil na Rotunda da Boavista, o empresário pegou na atividade do pai desde cedo e hoje já tem os filhos e netos a ajudar, e partilha que “havia famílias a chegar ao ponto de rutura e, neste momento, conseguem ver a luz ao fundo do túnel”, não sem deixar de frisar as dificuldades económicas que impediram muitos colegas do setor de regressar à atividade.

A funcionar desde sábado, Abílio Felício já recebeu feedback positivo das várias centenas de pessoas que passaram pelo Porto Fun Park. “Noto as pessoas contentes de nos verem por cá e de voltar a ser possível este tipo de diversão e de estar na vida”, confessa.

Em Lordelo do Ouro (próximo ao Fluvial), a adesão também tem sido positiva, como afirma Sérgio Peixoto. Responsável pelo pavilhão de jogos – os matraquilhos – está no setor desde os 12 anos e confessa que este incentivo “significa muito para nós”. “Estar a recomeçar a atividade, a trabalhar é muito bom. Se tivéssemos que pagar o espaço e as licenças, era insuportável. Com esta ajuda, para início da atividade, já vale a pena. Temos muito a agradecer por terem confiado em nós”.

Não há S. João, mas há sardinhas

Em harmonia está a zona das Fontainhas. Firmino Pires gere o negócio octogenário de farturas que foi herdando da família. Reconhecendo o “autêntico balão de oxigénio” que esta reabertura representa, o empresário diz sentir que “está toda a gente contente de nos ver. Havia muita vontade de voltar a ver feirantes, feiras, tudo o que fosse parecido com festas”.

Feliz por “voltar a casa” e “pela oportunidade que a Câmara do Porto nos dá de voltar a trabalhar”, Firmino Pires não tem dúvidas de que este mês “vai ser bom”, até porque, e estando nas Fontainhas, “é bom que haja um bocado de cheiro a S. João, não sendo S. João”.

Isto porque, ao contrário dos outros dias, em que os Fun Parks estarão abertos entre as 12 horas e as 22,30 horas, na véspera de S. João, a 23 de junho, está previsto o encerramento às 18 horas.

Não haverá S. João, no sentido da festa tradicional, mas haverá sempre sardinhas. Quem o garante é Adelaide Gomes, dona de um restaurante itinerante nas Fontainhas. “Às sardinhas, ao caldo verde e às farturas as pessoas vêm sempre. O cheiro atrai”, diz, mostrando-se feliz “quando me disseram que a poder abrir aqui na minha cidade, e no mês do S. João”.

Para a empresária, além da ajuda económica, a reabertura vai ajudar psicologicamente. “As pessoas ficaram bastante afetadas por estarem em casa. O trabalho distrai, nem se pensa em doenças”, acredita, sublinhando que “só a Câmara do Porto não teve medo, desde o início".