Economia

Secretário de Estado espanta Moreira com declarações sobre turismo no Porto e Norte

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O presidente da Câmara do Porto
mostrou-se ontem à noite

"estupefacto"
com as declarações do Secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, ao
"Jornal 2" da RTP 2
, onde atribuiu o sucesso do turismo no Porto à promoção na
imprensa internacional feita pelo Governo e ao fim do apoio estatal à política
de eventos. O Secretário de Estado chegou mesmo a afirmar que "o turismo no Porto estava a estagnar e
disparou a partir de 2013"
, ano em que o Governo apoiou pela última vez eventos
como o Circuito da Boavista, a que este ano recusou qualquer verba, inviabilizando-o.



 


Rui Moreira reagiu pouco depois
na sua página oficial de facebook e também na sua página pessoal. Na página
oficial, com um alcance aproximado de 350 mil utilizadores, Rui Moreira colocou
recortes dos mais importantes jornais mundiais, como a capa do New York Times,
onde a sua própria imagem figura, o El País, o Líberation e a Monocle
questionando se terá sido trabalho do Secretário de Estado. Rui Moreira inicia
o post com uma gargalhada, partilhando um excerto da entrevista do governante à
RTP e terminando o post com a frase "palavras
para quê, é um artista português"
.


 


Já na página pessoal, Rui Moreira
colocou uma foto sua, promovendo o Porto a Melhor Destino Europeu, troféu que a
cidade viria a ganhar, na sequência de uma campanha nacional e internacional
lançada pela Câmara Municipal do Porto. "Este
não sou eu. É o Secretario de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes. Grande
responsável pelo crescimento do turismo no Porto e Norte. Através de uma
estratégia fantástica, não permitindo a promoção através de eventos."
,
escreveu Rui Moreira.

As palavras de Rui Moreira foram de imediato alvo de mais de uma centena de comentários de condenação à entrevista de Adolfo Mesquita Nunes, onde este chega a dizer que "uma estratégia baseada em eventos agrada a autarcas e às populações, mas traz menos turistas do que uma estratégia de captação de rotas aéreas e de presença na imprensa internacional".

Há poucos dias, Helena Gonçalves, diretora executiva da Associação de Turismo do Porto justificava, também em declarações à RTP, o sucesso e número recorde de dormidas de turistas no Porto e Norte em 2014 (2,6 milhões) com a política de eventos e promoção da cidade que ATP e Câmara do Porto têm lavado a cabo, em colaboração com a Secretaria de Estado, o que contraria as declarações ontem feitas pelo Secretário de Estado. Refira-se que o Porto foi o destino mais procurado para a recente passagem do ano, o que esgotou por completo a capacidade hoteleira da cidade por vários dias, depois de Rui Moreira ter assumido uma clara aposta na data em matéria turística.




Mas as declarações do Secretário de Estado à RTP 2 em que critica o apoio a eventos, contraria as suas próprias palavras no Facebook. Num post por si colocado há uma semana, pode ler-se que o Governo apoia
e continuará a apoiar eventos: "O surf é
um dos exemplos da economia do mar, pelo valor acrescido que traz, e que tem
merecido uma atenção especial na nossa estratégia de promoção do país. Ao
contrário de outros desportos, este é praticado durante todo o ano, em várias
regiões, trazendo turistas de todo o Mundo. Ainda não está tudo feito em
matéria de promoção, mas temos procurado estar à altura do dinamismo do sector
privado do surf, a quem se deve o essencial do sucesso do nosso destino. Uma
aposta a continuar."
, escreveu o membro do Governo, esquecendo que o turismo que mais tem crescido em Portugal é o de cidade.


Também uma reportagem da mesma RTP 2, exibida minutos antes da entrevista, parece desmentir Adolfo Mesquita Nunes e o papel do surf, como sendo responsável pelo "essencial do sucesso do nosso destino". Nessa peça, o Ministro da Economia chama a atenção para o facto do crescimento do turismo em Portugal estar a acontecer em hotéis de 5 estrelas, pouco procurados por surfistas. Pires de Lima afirma mesmo que "Portugal é um destino sexy, pela sua qualidade, caso assim não fosse, não seria o crescimento maior nos hotéis de 5 estrelas".


Mas as críticas à política do Secretário de Estado não vêm apenas de Rui Moreira e do
Porto. Em dezembro passado, a
entidade de Turismo do Centro de Portugal emitiu um comunicado, indignando-se
com o comportamento do Turismo de Portugal, acusando o Governo de gastar 190
mil euros a financiar uma conferência da revista Monocle, em Lisboa, e criticando o facto do suplemento sobre Portugal, publicado pela mesma revista nesse âmbito, não dar qualquer relevo à região centro.


 


Questionado ainda em dezembro pela
revista Publituris
, o presidente do Turismo de Portugal esclareceu que "não tem, sobre a generalidade dos órgãos
de comunicação social, qualquer controlo sobre as matérias difundidas. A
inclusão ou não de determinada matéria é da exclusiva responsabilidade da
publicação"
, o que parece contrariar o defendido por Adolfo Mesquita Nunes. O referido suplemento "sobre Portugal" e que o Turismo do Centro sugere ter sido pago pelo Governo Português, dava um grande relevo à região de Lisboa e ao
Algarve, ignorando, no que diz respeito ao surf, praias do Centro e Norte, como a da mítica Praia da Nazaré, a favor das praias do Algarve.



 


Refira-se que os dois artigos sobre
o Porto publicados anteriormente na importante revista Monocle no último ano - um sobre o
perfil de Rui Moreira como presidente da Câmara do Porto e outro sobre o Mercado do Bolhão e o comércio e turismo do
Porto (também com declarações do presidente da Câmara do Porto) - não foram alvo
de qualquer contrapartida publicitária ou apoio do Turismo de Portugal ou da
Câmara Municipal do Porto, que nunca publicitou naquela revista. A vinda dos
jornalistas ao Porto e os trabalhos realizados pela Monocle, que é vendida em
80 países do Mundo, foi então acompanhada e coordenada pelo Gabinete de Comunicação
da Câmara do Porto, que, no entanto, não teve qualquer custo, nem de
transporte, nem de estadia e nem publicitário com as reportagens, à semelhança do que aconteceu também com jornais como o El País, o Libération ou o New York Times, onde Rui Moreira, ao ser entrevistado, colocou o Porto, por boas razões, na primeira página do jornal mais famoso do Mundo.

Actualização. Ao final da manhã, Rui Moreira foi questionado sobre o assunto por jornalistas à margem de uma assinatura de um protocolo. Veja o vídeo:



A entrevista na íntegra a Adolfo Mesquita Nunes, no Jornal 2 da RTP: