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Dados preliminares dos Censos 2021 confirmam tendência de crescimento da população do Porto

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Apesar de congratular-se com a curva ascendente do número de habitantes da cidade, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, mostra-se preocupado com a acentuada desertificação das regiões do interior do país.

Os resultados preliminares da operação de Recenseamento Geral da População (Censos) 2021, divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmam a tendência de crescimento da população residente do Porto. Os dados de 2021 indicam um total de 231.962 habitantes na cidade, um valor superior à estimativa que o INE tinha feito no ano transato, cifrada em 216.887.

“É bom perceber que, apesar de tudo, a cidade do Porto tem conseguido fixar população. Não são dados da Câmara, são dados do INE. Esta recuperação está relacionada com a pujança da cidade e com a perceção externa do Porto”, salientou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, em conferência de imprensa realizada na sala de D. Maria II, nos Paços do Concelho.

A tendência de recuperação de população vem confirmar os bons sinais: “Depois de uma queda abrupta da população, estamos em curva ascendente, a recuperar. Começa a atenuar-se o efeito daqueles anos terríveis”, notou o autarca, referindo-se à quebra registada até à primeira década do século XXI. “A cidade tem hoje mais população do que em 2013, estamos praticamente ao nível de 2012. Houve pessoas que saíram, mas também houve pessoas que vieram. Há um efetivo rejuvenescimento da cidade, que vem contrariar as preocupações que todos tínhamos”, congratulou-se.

Ao nível das freguesias da cidade, a mais populosa continua a ser Paranhos, com 45.871 habitantes – um crescimento de 3,6%. No segundo lugar surge Ramalde, que tem 38.860 habitantes (mais 2,2%). Em sentido contrário, Campanhã perdeu 9,1% de população residente, tendo atualmente 29.684 habitantes. Bonfim é a freguesia menos populosa (22.989). “Esta é a situação que hoje temos. Foi um trabalho muito bem feito, um trabalho de cidadania. A população contribuiu ativamente, mesmo em contexto de pandemia”, destacou Rui Moreira.

“Em termos estatísticos estamos a fazer o ‘rebound’: estamos em recuperação, numa altura em que o país está a perder população”, acrescentou o autarca, referindo-se à quebra registada a nível nacional: Portugal tem hoje 10.347.892 residentes, menos 214.286 do que em 2011. Segundo o INE, em termos censitários, a única década em que se verificou um decréscimo populacional foi entre 1960 e 1970.

Estes dados representam um “enorme aviso”, frisou o presidente da Câmara do Porto. “E já não é um aviso verde, já é um amarelo, um amarelo torrado. Pela primeira vez em 50 anos a população diminui, o que vai representar enormes problemas para o país ao nível da sustentabilidade. São precisas políticas ativas de natalidade”, acrescentou.

A desertificação “evidente” nos territórios de baixa densidade é um sinal de que o Estado “está a abandonar estes territórios”. “Os números são muito assustadores. Apenas duas regiões viram a população crescer em 2021, relativamente a 2011. São as duas regiões inclinadas para o mar: Algarve e Área Metropolitana de Lisboa. No interior não há rejuvenescimento e a população jovem sente-se obrigada a fugir de lá. Corremos o risco de acelerar a desertificação do interior”, reiterou Rui Moreira.

Os números “bastante assustadores” explicam-se por uma “hiperconcentração de competências na região de Lisboa”, indicou. “É um enorme aviso a todos nós. O Porto está disponível para discutir soluções, porque isto é preocupante. Custa-me viver num país onde o Parlamento gasta mais tempo a discutir o Novo Banco do que o Plano de Recuperação e Resiliência”, vincou.

“Queria que as pessoas viessem para o Porto por vontade, não por abandono. Não quero crescer à custa do interior”, frisou Rui Moreira, evidenciando a contradição de viver-se uma crise da habitação apesar da redução da população a nível nacional: “Isto não é normal, significa que estão a acontecer migrações dentro do território. Resta saber se são voluntárias ou por abandono.”

Ficou o alerta do autarca: “Em dez anos é um movimento assustador. Se fosse por vontade das pessoas, tudo bem. Mas as pessoas estão a sentir-se obrigadas a migrar dentro do seu país. Ainda não é por razões ambientais, não é por causa das alterações climáticas. Mas a forma de distribuição geográfica da população não é bom. E o PRR não aborda esta matéria.”