Sociedade

D. Pedro, uma vida intensa que une Portugal e Brasil para sempre

  • Paulo Alexandre Neves

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Três meses depois da abertura da exposição "D. Pedro, a Independência do Brasil e o Porto", promovida pelo Município, no âmbito do bicentenário da independência do Brasil, eis que surge o catálogo referente à mostra, patente no átrio dos Paços do Concelho e que já recebeu mais de 25 mil visitantes. A obra foi apresentada esta quarta-feira, em sessão oficial, que contou com as presenças do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, do embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro, e da comissária da exposição, Conceição Meireles Pereira.

"A exposição foi um sucesso", começou por referir Rui Moreira, que estava acompanhado de alguns vereadores, adiantando que "esta é uma história fantástica do século XIX". Relembrou, a propósito, idêntica iniciativa (exposição e catálogo) sobre a Revolução de 1820, que "foi esquecida no país, mas que a Câmara do Porto não esqueceu", recordando o seu comissário, Pedro Batista.

"1820 tem muito a ver com a independência do Brasil e, depois, com tudo aquilo que se desenrolou. No Porto havia um sentimento que a relação colonial se invertera", referiu o autarca portuense, acrescentando que "a Câmara não podia, por isso, deixar de contar esta história, que poucos quiseram fazer".

Rui Moreira não deixou também de abordar as muitas questões levantadas com a ida do coração de D. Pedro, por ocasião das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, face ao "momento histórico e a forma como ele foi sentido no Brasil".

"Vamos continuar a utilizar os recursos que temos para não deixar morrer a história, sobretudo do século XIX no Porto. É importante que não tentemos apagar a história, sequer interpretá-la à luz dos conceitos de hoje. O anacronismo é o maior perigo com que nos deparamos, se queremos ser uma sociedade que, conhecendo o seu passado, olha o seu futuro", acrescentou.

"D. Pedro emociona a todos"

Já para o embaixador do Brasil em Portugal, a exposição mostra que a figura de D. Pedro "emociona a todos, brasileiros e portugueses, historiadores em geral, pela sua juventude e façanha".

Raimundo Carreiro, que se confessou um admirador profundo pela personalidade do Imperador do Brasil – "tem-me consumido muitas leituras e curiosidades", disse –, recordou que "o país que colonizou e a colónia celebraram juntos o bicentenário da independência do Brasil, situação inédita no mundo".

"É uma relação muito estreita que existe entre o Brasil e Portugal", acrescentou o embaixador brasileiro, oferecendo ao presidente da Câmara do Porto um livro, editado, por ocasião do bicentenário da independência, pelo Senado Federal, intitulado "Vozes do Brasil – A Linguagem Política da Independência".

"Muitos visitantes vieram mais do que uma vez"

A publicação é bilingue e reúne, em mais de duas centenas de páginas, a narrativa proposta na exposição. "O interesse que [a exposição] suscitou nos seus públicos constitui a maior recompensa do trabalho realizado", sublinhou a comissária da mostra, revelando que "muitos visitantes vieram mais do que uma vez".

"Os milhares de visitantes, de diversas nacionalidades, formações, faixas etárias, que, em alguns momentos, suscitaram enchentes, parecem ter visto a exposição demoradamente, detendo-se a ler os textos, a apreciar as imagens, a interagir com ela", acrescentou Conceição Meireles Pereira.

As secções do catálogo encontram-se ilustradas por cerca de 200 objetos e digitalizações de diversas tipologias, provenientes de mais de 30 instituições, sobretudo nacionais e dentro destas maioritariamente portuenses, mas "também estrangeiras, do Brasil aos Estados Unidos, de França ao Reino Unido", frisou.

A publicação pretende refletir a narrativa proposta na exposição, que compreende oito núcleos: a partida e estadia da Corte no Brasil (1808-1821), a Independência do Brasil, posterior reconhecimento do novo país por Portugal e abdicação do imperador Pedro I (1821-1831), o papel de D. Pedro como Rei (Pedro IV de Portugal) e como Regente, a sua atuação na Europa e nos Açores em prol da Causa Liberal e consequente formação do "Exército Libertador", o Cerco do Porto (1832-1833) e o fim da Guerra Civil, alguns apontamentos da vida de D. Pedro ("O Homem"), o seu breve regresso ao Porto acompanhado de D. Maria II (1834) e a sua morte, esclarecendo aspetos como a doação do seu coração à cidade do Porto ou a transferência dos seus restos mortais para o Brasil em 1972 ("O Símbolo").

De forma a preservar a memória do evento, o catálogo inclui ainda fotografias da exposição, terminando com quase quatro centenas de referências documentais e bibliográficas.