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Conversas Sub 30: “Pretendo chegar às melhores orquestras do mundo”, garante a jovem violinista Maria Sá

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Não esquece a Academia de Música A Pauta, onde tudo começou aos quatro anos de idade. Hoje, está numa das principais orquestras de Salzburgo (Áustria), como violinista. Entretanto, e desde novembro de 2017, é membro da Jovem Orquestra Portuguesa (JOP) e representa, atualmente, Portugal como violinista membro da Orquestra Juvenil da União Europeia (EUYO). Maria Reis Sá nasceu no Porto, em 2004. "Não fosse isso e, se calhar, não estaria, hoje, em Salzburgo", confessa.

És uma jovem violinista já muito premiada. O que é que todos esses prémios significam na tua carreira?
Muita dedicação, não só minha, mas também, principalmente, do meu pai, dos meus professores, da minha escola de música. Simbolizam muito do trabalho e esforço que tenho feito, desde que comecei a aprender a tocar.

Vais ter oportunidade de fazer uma digressão com a Orquestra de Jovens da União Europeia, já este verão. Lá se vão as férias….
Já fiz a digressão no ano passado. Gostei muito. Viajamos por muito países da Europa, trabalhamos com dois prestigiados maestros, com solistas do melhor do mundo e estabelecemos imensas relações entre músicos.

Quando é que decidiste que querias seguir por este caminho?
A decisão final foi mesmo do 9.º para o 10.º ano. Queria seguir música, mas continuar na escola e fazer o curso de Economia. Tinha as duas possibilidades mesmo que acontecesse alguma coisa na música. Foi nessa altura que decidi por esta opção. Já no 12.º ano fui fazer provas no estrangeiro.

Adoro a sensação de estar em palco

Neste percurso quem já te marcou para seres agora aquilo que és?
Desde logo, dois professores da escola de música onde tudo começou – Joana Jesus e o José Paulo Jesus. Depois, os maestros Pedro Carneiro e José Eduardo Gomes.

O que te desafia, todos os dias, para seres ainda melhor?
Tenho sempre aquele feeling quando vou para um concerto. É dos melhores sentimentos quando se está em palco. Cada bocadinho de dia que trabalho penso que no fim vai dar sempre muito bom resultado. Adoro a sensação de estar em palco.

Tiveste de continuar os estudos em Salzburgo (Áustria). Portugal continua a ser pequeno para os jovens músicos?
O ambiente que tenho lá fora, o pensamento das pessoas que me rodeiam é muito diferente daqui. Há muitos apoios, a começar nas universidades. Têm muitas orquestras que nos ajudam a crescer. Todas as semanas tenho um projeto para fazer com uma orquestra ou com as universidades.

Se quero fazer uma coisa luto, tudo por tudo, para a conseguir

Que hobbies tens, para além da música?
Gosto de dançar. Sempre fiz muita ginástica, de expressar o meu corpo sem ser pela música. Subir montanhas, da praia, de surf, de nadar.

Falta-te o sol português em Salzburgo?
O tempo é muito diferente. É uma das coisas que mais tenho saudades, ou seja, o clima quente porque lá faz muito frio. Tudo é recompensado com o trabalho e os desafios alcançados.

Já pensaste no lugar que ocupas na Filarmónica de Salzburgo, já que és uma jovem violinista com lugar de destaque?
Já pensei nisso. Sei que estou num país estrangeiro, uma oportunidade que muito poucas pessoas têm. Muitas gostariam de estar no meu lugar. A essas digo que é sempre possível quando se é muito determinada. Se quero fazer uma coisa luto, tudo por tudo, para a conseguir.

O Parque da Cidade é um dos meus locais preferidos

Que recordações da Academia A Pauta?
São muitas. Temos bastantes concertos, recitais, de dois em dois anos vamos à Casa da Música. Dois dos professores estão sempre comigo, em todos os concursos, mesmo que se realizem no estrangeiro. Ainda mantenho essa ligação. São os meus melhores amigos na área da música.

Com quatro anos, o que imaginavas ser no futuro?
Desde pequena que gostei muito de música. Lembro-me que escrevia dentro de um coração ‘I love violin’ (eu amo o violino). La em casa não precisavam de me dizer para ir estudar. Sempre fui muito autónoma. Foi muito por mim esta decisão.

Escolheste o Parque da Cidade para esta entrevista. Porquê?
É um dos meus locais preferidos. Gosto muito de correr. Sempre que acabava de estudar vinha para aqui correr.

Não se valoriza muito o nosso trabalho em Portugal

Onde queres chegar na tua carreira?
Pretendo chegar às melhores orquestras do mundo. De momento, estou indecisa: se quero ser mais solista ou mais orquestra ou música de câmara. Diria um bocadinho de cada, mas trabalhar com os melhores.

Como é o ambiente em Salzburgo?
As pessoas consomem muita música clássica. Sempre que há um concerto há milhares de pessoas a assistir. As instituições apoiam muito, sobretudo os idosos, a deslocarem-se aos concertos. Lá vive-se muito o ambiente musical.

Mesmo estando fora, ainda que com uma forte ligação à cidade, como defines o atual ambiente cultural no nosso país?
Não há muito acesso à música clássica. Há falta de conhecimento musical, transversal a todo o país. Não se valoriza muito o nosso trabalho em Portugal.

Tenho saudades de estar perto do mar

Há possibilidade de regressares a Portugal para trabalhar?
Nunca se sabe. Para já, diria que não porque lá fora há muito mais possibilidades e o nível de vida é mais alto. Lá, eles gostam muito de música clássica. Por cá, gostam mas não valorizam tanto. Gosto de saber que as pessoas ficam satisfeitas com o trabalho que estamos a realizar.

É sempre bom regressar a casa?
Sim, a comida da minha avó, o clima. Principalmente, tenho saudades de estar perto do mar, com os meus amigos, família, os professores de música.

O que é o Porto para ti?
É a cidade onde nasci. Não fosse isso e, se calhar, não estaria, hoje, em Salzburgo. Foi onde cresci e que me ajudou a chegar onde estou.