Sociedade

Conversas Sub 30: “Os elétricos são uma das imagens icónicas da cidade”, reconhece o guarda-freio Pedro Silva

  • Paulo Alexandre Neves

  • Notícia

    Notícia

fib_pedro_silva_guarda_freios.JPG

Filipa Brito

É o mais jovem guarda-freio da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP). Conduzir elétricos já se tornou uma paixão para Pedro Silva. Com 24 anos tem uma licenciatura em gestão de marketing e uma pós-graduação em recursos humanos, mas encontrou na condução de autênticas relíquias uma liberdade que o motiva, diariamente, para transportar pessoas pelas ruas da cidade.

Fale-me um pouco de si.
Sou o Pedro Silva. Tenho 24 anos. Tirei a carta em 2019 e entrei para a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), como guarda-freio, em abril deste ano. Tenho uma licenciatura em gestão de marketing e uma pós-graduação em recursos humanos. Escolhi esta carreira porque tenho oportunidade de trabalhar, todos os dias, na rua e estar em permanente contato com o público. Vejo o dia-a-dia da cidade, quer os seus dias de sol quer os mais chuvosos. Vejo a magia dela todos os dias.

Quando lhe perguntavam “o que queres ser grande quando fores grande” que respondia?
Sempre gostei muito de autocarros e dizia que queria ser motorista. Lembro-me do meu pai dizer que, quando passava um autocarro, eu olhava, de imediato, para trás após passarem por mim. A magia pelos autocarros começou muito cedo, quando ia ao shopping. Se calhar, desde pequeno que comecei a ter esse gosto pelos transportes públicos. Não me lembro de querer ser bombeiro ou polícia, como é costume nessas idades.

O que o atraiu nesta profissão?
Desde logo, não estar todo o dia fechado num escritório, sentado numa cadeira, à frente de um computador. Já tive essas experiências e não gostei. Aqui, estou na rua, diariamente, em contato com as pessoas, de diferentes idiomas. Essa liberdade foi uma das coisas que mais me atraiu quando decidi escolher.

Conduzir um elétrico não é uma ciência especialmente difícil

Ser guarda-freio é um sonho concretizado ou uma oportunidade de trabalho?
Foi um sonho que não sabia que tinha. Estamos a falar de uma profissão que trabalha com material histórico, que acaba por ter um encanto diferente, por exemplo, que um autocarro. O contato com o público é intenso, sobretudo com os locais. De tal maneira assim é que já sabemos onde muitos passageiros entram e saem. O elétrico faz parte das suas vidas.

Conduzir um elétrico é um orgulho e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade enorme.
Estamos a falar de material bastante antigo. Os elétricos são uma das imagens icónicas da cidade. Por isso, temos uma dupla responsabilidade: transportar pessoas e bem tratar o material com que trabalhamos porque já não se faz disto. Quanto melhor o tratarmos mais o preservamos e melhores condições temos para trabalhar.

É difícil conduzir um elétrico?
Não é uma ciência especialmente difícil. Ganhar tato ou, como dizia o meu formador, ter um ouvido tísico para perceber todos os movimentos da máquina só vem com a experiência. Estou nesta empresa desde 2019, mas só agora começo a ter algum à vontade em conduzir, por exemplo, à chuva. A capacidade de travagem é bastante diferente de piso seco para molhado. O desempenho é completamente diferente. Nos dias chuvosos temos de mudar de técnicas de condução.

Gosto muito da Linha 18

Tem alguma linha preferida?
Gosto muito da Linha 18 [Circular Massarelos - Carmo, que faz a ligação entre a cota baixa e a cota alta da cidade, permitindo uma maravilhosa vista sobre Gaia na Rua da Restauração]. Tem um encanto diferente pela mudança paisagística que acontece durante o percurso.

[A rede de elétrico é explorada pela STCP. Atualmente existem duas linhas de elétrico: Linha 1 (Infante-Passeio Alegre), que circula sempre pela marginal do rio, passando junto ao Museu do Carro Elétrico, e a já citada Linha 18. A Linha 22 (Carmo-Batalha) encontra-se suspensa por causa das obras do metro]

Quando conduz usufrui dessa beleza?
Nas últimas viagens do dia, quando a confusão abranda e o fluxo de passageiros diminui, dá para apreciar, por exemplo na zona do Passeio Alegre, o pôr-do-sol. São todos os dias bonitos e diferentes.

Vê-se a exercer esta profissão para sempre?
Nunca se deve dizer nunca. Hoje, faz sentido estar nesta profissão. Com isto não quero dizer que, até mesmo nesta empresa, não haja novas oportunidades, novos desafios ou que a vida nos pregue surpresas. Vamos indo e vamos vendo. Sempre com mente aberta para novas oportunidades, mas ficando felizes também com o que temos.

Tenho ficado feliz com o crescimento do Porto

Há mais turistas a utilizar os elétricos?
Estamos, felizmente, a retomar valores idênticos aos atingidos na pré-pandemia. Nota-se paragens cheias, elétricos cheios, com pessoas de diferentes países e continentes. Têm reações engraçadas quando perguntam, por exemplo, a idade dos elétricos e lhes digo que o chassi é o original e que resiste e anda todos os dias. Ficam surpreendidos.

Aos comandos dos elétricos sente que transporta a história da cidade?
Tenho essa noção e, a partir do momento que saímos das nossas instalações, somos atrações turísticas (risos). Somos constantemente abordados com fotografias e todo o tipo de perguntas e curiosidades. Por exemplo, quando digo que ainda utilizamos areia para atração ficam abismados. Tenho de mostrar os areeiros para acreditarem.

O que é o Porto para si?
É a cidade onde nasci e fui criado. Tem crescido muito nos últimos anos. Tenho ficado feliz com esse crescimento. Espero que continue a ser a minha casa. Gostei de crescer, gosto de viver e quero envelhecer aqui.