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Conversas Sub 30: “O Porto tem uma economia bastante competitiva”, reconhece Marta Sousa Brenha

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Marta Sousa Brenha, mestre em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), com o tema "Why are some cities more 'smart sustainable' than others? - The Portuguese panorama", foi a vencedora da segunda edição do Prémio Economia do Porto, lançado pela Câmara Municipal e que distingue, anualmente, dissertações académicas ou outro trabalho de investigação original, que incidam sobre um tema de relevância e interesse para a economia da cidade.

Fala-me um pouco de ti.
Nasci em Vila do Conde e aos 17 anos decidi ir estudar para Lisboa, mais propriamente para a Nova School of Business and Economics (SBE, antiga Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa), onde fiz a licenciatura em Economia. Depois, mudei e entrei na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), onde tirei o mestrado, na mesma área. Foi, então, que optei pela dissertação sobre "smart cities" e "smart sustainable". Agora, estou a trabalhar no grupo Sonae.

Porquê a opção pela FEP se podias continuar em Lisboa?
Querendo ter uma experiência diferente optei por uma faculdade que sabia, de antemão, que tinha uma boa reputação e que poderia oferecer-me aquilo que precisava. Na altura, queria desenvolver ainda mais as minhas competências e conhecimentos em economia. A FEP oferecia-me o que procurava.

Interesse sempre pelas áreas da Economia?
Sempre fui, e ainda sou, uma pessoa que gosta de muitas coisas. Nunca fui de paixões convictas. Dizia que queria ser médica, mas também dentista. Já quis ser arquiteta e estilista. Até que no Secundário percebi que queria enveredar pelas ciências socioeconómicas. Gostava muito de matemática, mas não tanto de biologia. Queria seguir economia ou gestão. Optei pela primeira e nunca me arrependi. Sempre tive muito presente que gostava de muita coisa em economia e não conseguia limitar-me a uma área. Foi, por isso, que acabei por ir para o mestrado, mais abrangente, ao invés de fazer uma especialização. Ao longo do mestrado fui percebendo que áreas gostava mais, temas que, se calhar, eram mais nicho: economia das cidades, economia urbana, economia pública. Também para a dissertação comecei a pensar em tópicos que achava interessantes para o nosso dia-a-dia. Por exemplo, o tema das cidades inteligentes.

Para uma cidade ser sustentável e inteligente são precisas as pessoas

Como definir "cidades inteligentes sustentáveis"?
Inteligente está muito associado à tecnologia. No entanto, para uma cidade ser sustentável e inteligente é preciso mais do que a tecnologia. São precisas as pessoas, o capital humano, a sua formação e inovação. A partir do momento em que se usam todos estes tópicos, ou seja, desenvolver de forma a não comprometer as gerações futuras, temos uma cidade inteligente e sustentável.

Que recordações tens da FEP?
Muito boas. Receei não me integrar tão bem, mas foi, de facto, o sítio que melhor me acolheu e onde mais me desenvolvi, seja a nível académico – o corpo docente é muito bom -, seja na orientação (pela professora Isabel Mota), dando-me liberdade para seguir as minhas ideias, questionar, pensar um bocado além, voltar sempre a questionar. Ela tornou o meu processo de escrita da dissertação muito pressuroso. Ainda a nível académico, fiz parte também de um grupo que presta serviços de consultadoria a empresas. Foi muito bom para me integrar em todo o ambiente da Universidade do Porto, mas também desenvolver outro tipo de competências, que não sabia que tinha, em termos de gestão (liderança, projetos, organização). Foi uma experiência muito positiva e superou as minhas expetativas.

Conheces a realidade do setor público e privado. São assim tão diferentes?
Em termos públicos, a minha experiência foi na Câmara Municipal do Porto, no Departamento de Economia, onde fiz um estágio. É uma equipa bastante jovem e orientada para a inovação e melhorar o bem-estar das pessoas que vivem na cidade. Agora, no grupo Sonae, também estou inserida numa equipa bastante jovem e voluntariosa. As diferenças, a existirem, dependem sempre das organizações.

O Município do Porto fomenta muito o empreendedorismo sustentável

A que nível está o Porto em termos de "smart cities" e "smart sustainable"?
Comparando com o país, a cidade está muito avançada. Está muito bem classificada como uma cidade inteligente e sustentável. No que toca a incentivos, na curta experiência que tive no município, está sempre a desenvolver projetos. Trabalha muito junto das startups, por exemplo, com o Innovation Hub. O Município do Porto fomenta muito o empreendedorismo sustentável.

O que te levou a concorrer ao Prémio Economia do Porto?
Já tinha conhecimento do prémio. Sempre achei fascinante o município valorizar o trabalho dos estudantes da academia. Por exemplo, na área das dissertações, sinto que, muitas vezes, coloca-se muito tempo de trabalho sem o impacto que elas merecem. Por isso, achava muito interessante a iniciativa do Município do Porto. Neste sentido, fui desenvolvendo a minha dissertação e, porque está relacionada também com o Porto, pensei: porque não candidatar-me?

Foi uma honra ganhar o Prémio Economia do Porto

Venceste a segunda edição do Prémio Economia do Porto. Como recebeste a notícia?
Com muita surpresa. Candidatei-me mais com o propósito que analisassem o meu trabalho e não necessariamente a pensar, genuinamente, que iria ganhar. Foi uma honra ganhar o prémio de um município que me diz tanto, como é o Porto. É um município que, realmente, valoriza este tipo de iniciativas e que está muito dedicado a tornar-se mais sustentável e inteligente.

Para o trabalho, o que descobriste de diferente na cidade que não soubesses?
Uma questão interessante foi a dimensão económica. O Porto tem uma economia bastante competitiva. Muitas empresas, muitos negócios a crescer. O Porto está bem nesse sentido. Tem vindo também a melhorar na área da exportação de bens e serviços. Na área da educação é bastante forte. Tem uma boa rede de transportes. Já num outro patamar, mais tecnológico, mais “smart”, é um município que aposta nos “dados abertos”. Para além de ser importante para as suas próprias decisões é essencial para todo o ecossistema do município.

O que é o Porto para ti?
Até vir estudar para aqui não tinha a perceção de quão bom, para viver, estar, passear, o Porto é. Tem muita vida, sítios para visitar, facilidade para apreciar os locais, mesmo sabendo que é um destino cada vez mais atrativo. Não vai perdendo essas caraterísticas. É uma segunda casa. Embora não tenha nascido foi a cidade que me acolheu, a nível pessoal, académico, profissional. Representa uma grande viragem na minha vida e o início de uma fase de grande desenvolvimento pessoal. Atualmente, é onde gosto de passar nos meus tempos livres.