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Conversas Sub-30: “O escutismo é, acima de tudo, uma escola de caráter”, sublinha João Pedro Morais

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Ingressou no Corpo Nacional de Escutas (CNE) com nove anos. Hoje, é chefe do Agrupamento 10, de Cedofeita. João Pedro Morais tirou o mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Divide o seu dia-a-dia entre a empresa onde trabalha, na Baixa, e a responsabilidade de liderar uma equipa que tenta assegurar o papel ativo do agrupamento na melhoria da comunidade em que se insere.

Como é que um engenheiro se apaixonou pelo escutismo?
O curso surgiu depois do escutismo. Ou seja, no agrupamento e na vida sempre tive um gosto especial pelo engenho, o desenrascar na natureza. Isso serviu-me para criar um bichinho pela eletrónica e engenharia. Posso dizer que ser escuteiro ajudou-me, e muito, noutras áreas da vida.

Já tinha exemplos na família?
Os meus pais e avós sempre quiseram que fosse escuteiro, ainda mais cedo que os nove anos, idade com que entrei no agrupamento de Cedofeita, mas fui resistindo. Entrei com essa idade e hoje nem imagino como seria a minha se não estivesse nos escuteiros. É algo que já faz parte da minha vida.

É uma boa escola de formação…
É, acima de tudo, uma escola de caráter. Ajudamos os jovens a ser cidadãos ativos, em fazer a diferença, por exemplo na comunidade onde estão inseridos [no caso, o Agrupamento 10, na paróquia de Cedofeita]. Ajudamo-los também a seguir a máxima do escuteiro: deixar o mundo um bocadinho melhor do que o encontraram.

“Hoje, nem imagino como seria a minha se não estivesse nos escuteiros”

Ser escuteiro em meio citadino é muito diferente?
Temos em mente a vertente comunitária. Estamos sempre prontos para ajudar, a nível de freguesia, mas também da cidade. Tentamos ver algumas lacunas que possam existir em diferentes áreas ou algum tipo de voluntariado que possamos fazer. Temos orgulho de ser da cidade e passar para os outros a ideia de que fazemos de outra forma e que deve servir de exemplo. Sempre que possível vamos para o campo. A nossa intervenção acaba por incutir nos jovens as duas vertentes: o gosto pela natureza e conhecer melhor a nossa cidade.

Que apreciação geral faz da cidade?
Houve, nos últimos anos, uma grande evolução. É uma cidade cada vez mais acolhedora, de que me orgulho falar. Quem cá está também sente vontade de contribuir. A cidade do Porto é feita por todos. Só isso faz com que seja acolhedora. Está no bom caminho. Ir à baixa e ver, de novo, toda a movimentação é incrível.

Como chegou a chefe de Agrupamento?
Fui eleito em maio de 2021. Já era dirigente desde 2019. Foi algo que, nos últimos anos, me foi despertando interesse. Deixar a minha marca, levar mais a sério aquela ideia de que a juventude poderá levar isto para a frente. Foi um bocado nessa onda que decidi dar este passo.

“[O Porto] É uma cidade cada vez mais acolhedora, de que me orgulho falar”

É uma enorme responsabilidade?
É uma lufada de ar fresco nas comemorações dos 90 anos deste agrupamento. O mandato é de três anos e espero estar à altura de os cumprir.

Que marcas quer deixar neste seu mandato?
Passam pela capacitação de adultos, ser competentes e formados para ajudar os nossos jovens escuteiros, participação ativa do agrupamento nas Jornadas Mundiais da Juventude, que se vão realizar no próximo ano em Portugal, e também, já este ano, no acampamento nacional, que assinala os 100 anos do Corpo Nacional de Escutas no nosso país. Associamos a comemoração dos nossos 90 anos com a do centenário do CNE.

Dedica muitas horas da sua vida ao agrupamento?
Não consigo contabilizar. Temos os sábados preenchidos com as reuniões com todos os escuteiros. A capacitação de adultos exige também alguma preparação. E, como chefe de agrupamento, tenho outras reuniões, a que junto a atividade desportiva que faço semanalmente. São sempre semanas preenchidas, mas tudo é conciliável.

De que forma o agrupamento se adaptou à pandemia?
Nunca parámos as atividades. Reunimo-nos via zoom, só que na idade mais baixa (6-10 anos) houve uma grande quebra. Para este ano, uma das nossas preocupações foi colmatar essa ausência, mas já está resolvido, porque voltamos às reuniões presenciais. Curiosamente, a nível geral, temos mais escuteiras que escuteiros.