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Conversas Sub 30: "Espero estar presente nos Jogos Olímpicos de 2028", confessa o atleta Bernardo Rocha

  • Paulo Alexandre Neves

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Andreia Merca

Tem 23 anos e é uma das grandes esperanças do meio fundo e fundo do atletismo português. Praticante desde 2016, Bernardo Rocha já é profissional, representando o Sport Comércio e Salgueiros. Faz parte de um número restrito de atletas que está inserido no Plano de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) e no programa municipal de Patrocínio a Atletas de Alto Rendimento e Elevado Potencial Desportivo.

Porquê o atletismo e não outra modalidade?
Por causa do meu pai. Sempre foi atleta amador. Fazia muitas provas de estrada e eu acompanhava-o. Embora tenha praticado sempre futebol, só aos 16 anos é que me inscrevi num clube de atletismo. Participava nos corta-matos da escola, ficava bem classificado, mas não saia muito disso.

Houve algum motivo que te despertasse, aos 16 anos, para o atletismo?
Tem muito a ver com o meu pai ter insistido para praticar atletismo. No futebol, as pessoas diziam que a bola atrapalhava-me. Era extremo, corria muito atrás da bola. Entretanto, fui a um corta-mato regional do Porto e fiquei com um sabor amargo porque os que ficaram há minha frente andavam todos no atletismo. Por intermédio de um amigo comecei a treinar num clube de corrida (o Running de Espinho). Foi aí que começou a despertar mais a regularidade de treinar e correr.

O profissionalismo não é um risco?
Não gosto de fazer as coisas pela metade. É muito frustrante estar a treinar e depois chegar a uma prova e não ficar em primeiro ou fazer uma má classificação. Prefiro levar as coisas mesmo a sério. Parecendo que não ainda tira algum tempo da vida de um jovem. Mas isto não é um sacrifício. Seria errado estar a perder este tempo todo e depois não chegar onde quero ou estar a fazer por fazer. Prefiro fazer isto mesmo a sério, tonar-me profissional e, quem sabe, chegar um dia a grandes patamares.

Carlos Lopes e Fernando Mamede servem-me de inspiração

Apostaste no meio fundo e fundo, onde já tivemos atletas de craveira internacional (Carlos Lopes, Fernando Mamede, entre outros). Podemos ter esperança no futuro?
Aos poucos e poucos estamos a voltar ao que éramos. Já há alguns nomes – Edson Barros, Isaac Nader –, que têm feito muito por Portugal. Tento demonstrar, aos poucos e poucos, que quero fazer também parte do leque de jovens atletas que se esforçam para que Portugal volte a ser o que era no meio fundo e fundo. Nomes como os de Carlos Lopes e Fernando Mamede servem-me de inspiração.

São os teus ídolos?
Posso dizer que sim. Também os que passaram pelas mãos do meu treinador (António Ascensão), como os gémeos Castro, Carlos Monteiro e, mais recentemente, Marisa Barros.

Fazes parte de um número restrito de atletas que está inserido no Plano de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) e tens o apoio do Município do Porto, através do programa de Patrocínio a Atletas de Alto Rendimento e Elevado Potencial Desportivo. São apoios importantes?
É verdade. Estou no programa da Federação (Nível 5 - Básico) e também recebi o apoio da Ágora. Deveria haver mais este tipo de iniciativas para apoiar jovens atletas, que têm sonhos e ambições de chegar a grandes patamares desportivos. O apoio municipal dá sempre uma tranquilidade, mas também uma grande responsabilidade.

O Salgueiros já é muito falado

Porquê o Salgueiros?
Juntamente com o meu treinador escolhi o Salgueiros porque é um clube que nos apoia incrivelmente. Oferece fisioterapeuta, uma equipa técnica fantástica. Tem vindo a crescer aos poucos e poucos. Dentro do meio atletismo tem-se notado esse crescimento. O Salgueiros já é muito falado.

E dar o salto?
De momento, estou muito feliz no Salgueiros. Dá-me todas as condições necessárias para a minha evolução. Mas tenho a noção que clubes maiores (Sporting, Benfica) oferecem melhores condições. Não há nenhuma mentira. Vamos ver o que me esperam as próximas épocas.

António Ascensão é fundamental na tua progressão.
Costumo dizer que já é mais que meu treinador. Não posso dizer pai, por causa da idade, já é um avô. Parte desta evolução, do meu querer, na minha crença em chegar a algum lado, são 150% por causa dele. A experiência é muito importante neste processo todo. Para alguém que não tem tantos apoios como outros atletas e fazer o que faço já é bastante relevante. É tudo graças ao trabalho e experiência do meu treinador.

Carlos Lopes ganhou uma medalha em Los Angeles. É um bom presságio…

Já conquistaste muitos títulos. Ainda tens espaço em casa para mais medalhas?
Ainda considero que estou a começar. Isto ainda não é nada. Não quero ficar por aqui. Quero, sem dúvida, subir para o nível europeu e, quem sabe, mundial, num curto prazo de tempo.

Chegar aos jogos olímpicos é um objetivo?
Acredito que seja possível, com o trabalho, dedicação, autodisciplina. Juntamente com o meu treinador acredito que seja mesmo possível.

Apontas para que ano?
2024 já é muito complicado, mas como o meu treinador diz ‘sonhar não paga imposto’. Não custa nada continuar a trabalhar. Quem sabe. Em 2028 espero mesmo estar presente. Carlos Lopes ganhou lá uma medalha e pode ser um bom presságio para isso.
[n.r: Os Jogos Olímpicos de 2028 vão realizar-se, novamente, em Los Angeles (EUA). Em agosto de 1984, Carlos Lopes venceu a prova de maratona, tornando-se o primeiro português a ser medalhado com o ouro nos Jogos Olímpicos]

O Parque Desportivo de Ramalde e o Parque da Cidade são sítios mágicos

Ainda tens tempo para hobbies?
Sinceramente, a minha vida tem sido, ultimamente, mesmo comer, dormir, treinar e repetir. Há sempre um pouco de espaço de tempo para me atualizar no ramo da Informática, mas não passa disso. Estou mesmo focado no atletismo.

Tens curiosidade de conhecer a cidade?
Ocasionalmente costumo passear. Há sempre sítios novos, restaurantes. Não passa muito disso.

O Parque Desportivo de Ramalde/INATEL é o teu espaço privilegiado?
E o Parque da Cidade. São sítios mágicos. Aqui, treino todos os dias à tarde. No Parque, de manhã. São sempre duas/três horas de treino. Têm todas as condições para um atleta, da minha qualidade, exercer atividade desportiva.

Não há momentos em que te apetece desistir?
Nunca. Já passei por maus bocados, bastante difíceis mesmo, mas aí é que entra o aspeto psicológico de um atleta. A resiliência, o manter e continuar. Desistir nunca.

O que é o Porto para ti?
Representa, em termos desportivos, uma salutar rivalidade entre o Porto e Lisboa. É com grande orgulho que represento e sou atleta de um clube da cidade.