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Conversas Sub 30: "É um orgulho ter no peito o meu clube, a seleção e a minha cidade", assume o karateca João Vieira

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Começou a praticar karaté com apenas três anos de idade. Aos 15 já contava com mais de 150 medalhas conquistadas. Em 2022, acrescentou três de ouro – a primeira no Campeonato Nacional, categoria kata individual, a segunda em Praga, no Campeonato da Europa Absoluto EKF, e, em Itália, no Campeonato do Mundo de Goju-Ryu, na categoria de kata. Atleta do Centro de Karaté Goju-Ryu do Porto (CKGR) espera ser o primeiro karateca português nos Jogos Olímpicos. Quem sabe, em 2028. "Os sonhos não têm idade, não têm limite", confessa.

Começaste a praticar karaté aos três anos. Porquê? Outro desporto não seria mais atraente?
O meu irmão mais velho foi praticante, ao mais alto nível, da modalidade. Como mais novo foi um bocadinho aquela puxada de família. Ou seja, o mais velho fez vamos meter também o mais novo. Correu bem com o primeiro, vamos ver se corre bem com o segundo. Já nasci no seio do karaté. Foi dar uma continuação ao trabalho.

O ambiente familiar é importante para não desistir.
Costumo dizer que um atleta só é bom se tiver uns pilares fortes, estando neles incluídos os treinadores, os amigos próximos. Mas um dos principais pilares é, sem dúvida, a família. Sou agradecido pela que tenho. Acredito muito que a família é um dos pilares principais para um atleta singrar no desporto. É nos momentos mais tristes, em que pensamos desistir ou que alguma situação corre mal, que ela lá está sempre.

O que é certo é que nunca largaste esta paixão.
O karaté é uma paixão enorme. Já faz parte da minha rotina. Tal como para a escola ou estar com os amigos guardo umas horas para o karaté. É um sonho, uma paixão que trago desde criança.

Ainda vai haver muito espaço para as medalhas

É fácil conciliar estudos, treinos, competições? Estás no 12.º ano de Economia e queres seguir Gestão.
É um bocadinho complicado, mas tento sempre conciliar os horários. Por exemplo, treinar mais cedo e, depois, ir para a escola. E faço treinos bidiários. Em tempo de escola costumo levantar-me por volta das 6h00/6h30, vou treinar, depois sigo para as aulas. Regresso, lancho e vou, novamente, para o treino. Tento conciliar, da melhor forma, os dois mundos para que o karaté não interfira na escola ou vice-versa.

Ainda tens espaço, lá em casa, para tantas medalhas? Já são mais de 150, certo?
Espero por mais. Ainda há muito espaço, muito sonho que ainda falta realizar, muito objetivo que ainda falta cumprir, muito palco para pisar. Ainda vai haver muito espaço e muito sítio para as medalhas.

2022 foi um bom ano para ti: três medalhas de ouro, em competições nacionais e internacionais. Foi o ano da tua afirmação?
Foi uma catapulta para, na minha vida desportiva e pessoal, dar aquele por cento a mais. Foi uma preparação com dois anos, que nunca parou. Surgiu o Campeonato da Europa, de voltar a fazer a Youth League, de pisar outros palcos. Foi o início de uma nova etapa na minha vida.

Subir ao pódio e ouvir o hino é indescritível

Ouvir "A Portuguesa" é mesmo tão especial?
Não há palavras que consigam descrever esse sentimento. Trabalhamos todos os dias com um objetivo, um sonho. Trabalhamos sempre a pensar onde podemos chegar. É um grande marco na minha carreira. Todo o atleta deveria sentir um bocadinho isso. Trabalhar, suar, chorar, chegar a um certo momento respirar fundo e dizer: consegui. Esse momento de subir ao pódio e ouvir o hino é indescritível.

Até que ponto a pandemia te afetou no percurso desportivo?
Sempre pensei que era uma situação que dava para ultrapassar. Não deixei os treinos. No meu caso foi até preparação para 2022. Consegui ultrapassar bem.

E, este ano, como te estão a correr as coisas?
Em fevereiro, conquistei o primeiro lugar numa das etapas do circuito mundial da modalidade, na K1 Youth League, no Dubai (Emirados Árabes Unidos). Participei no Campeonato da Europa, em Lanarca (Chipre), com um 11.º lugar. Mais recentemente estive na Croácia, em mais uma etapa da Youth League, onde fiquei em 7.º lugar. Para primeiro ano de júnior ainda falta muito para conquistar. Estou com grande esperança no futuro.

Os Jogos Olímpicos de 2028 é um sonho que desejo realizar

Tiveste de abdicar de muita coisa para chegar a este patamar?
As pessoas não têm a noção que há muita vida social, de diversão, pessoal que os atletas abdicam. Mas não o fazemos porque sim. Fazemo-lo sempre com um objetivo. Não trabalhamos sem um sonho, sem uma paixão, sem um objetivo. Não me arrependo de nada do que abdiquei. Com organização conseguimos realizar tudo.

Estar presente num Jogos Olímpicos, por exemplo em 2028, é uma hipótese?
É outro sonho. Ainda não tivemos nenhum atleta português, em karaté, a participar nos Jogos Olímpicos. Por isso, gostava imenso de ser o primeiro. Estou a trabalhar para isso. Ainda falta muito tempo, mas os sonhos não têm idade, não têm limite. Os Jogos Olímpicos de 2028 é um sonho, a longo prazo, que desejo realizar.

Estamos no Centro de Karaté Goju-Ryu do Porto (CKGR). É aqui que te sentes bem?
É a minha segunda casa. É aqui que trabalho para os sonhos, que construo os objetivos desportivos, é aqui que alimento a minha paixão.

É importante que haja quem olhe para os atletas da nossa cidade

José Carvalho é um nome incontornável na tua carreira desportiva. O que representa o treinador para ti?
É outros dos meus grandes pilares. Dedica-se, incansavelmente, aos seus atletas. É um segundo pai para mim. Acredito também que me quer ver feliz e a conquistar os meus sonhos.

Fazes parte do lote de atletas de alto rendimento e de elevado potencial desportivo, programa lançado pelo Município do Porto. Que significado isso tem na tua carreira?
Sempre tive sonhos que foram crescendo, nomeadamente pelas pessoas e entidades que fui representando. Tudo começou no clube, cresceu com a representação pela seleção, mas sentia que faltava algo mais: a minha cidade. É um orgulho enorme ter no peito o meu clube, a seleção e a minha cidade. É importante que haja quem olhe para os atletas da nossa cidade, em qualquer modalidade. Não só olhar para certos desportos, mas ter uma visão globalizada dentro do mundo desportivo.

Tens tempo para conviver com os teus amigos, usufruir da tua cidade?
Quando tenho tempo gosto de andar com os meus amigos pela cidade. Por exemplo, pela Rua de Santa Catarina, com uma diversidade de pessoas incrível. Gosto dos Aliados no Natal, nas festas, da Cordoaria, da Praça dos Leões.

O que é o Porto para ti?
É um amor. Terá sempre um lugar no meu coração. Gosto muito das pessoas. É uma cidade acolhedora, de amor. Sim, é amor e casa.