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Conversas Sub-30: “Desde que fui embora, vejo a cidade de uma forma diferente, para melhor”, reconhece Mariana Sousa Leite

  • Paulo Alexandre Neves

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Filipa Brito

Mariana Sousa Leite está a fazer o doutoramento na área de Reprodução Humana, na Escola de Psicologia da Universidade de Cardiff (capital do País de Gales). Também aí já tinha feito a sua tese de mestrado. Espera pelos resultados de uma possível nomeação para investigadora júnior na instituição galesa. Em 2019, participou num dos maiores congressos mundiais na área da medicina reprodutiva, realizado em Viena. Para além da paixão pelo seu trabalho nutre igual sentimento por outras duas áreas extracurriculares: a música e o ballet.

Porque escolheu a Casa da Música para esta entrevista?
É um local que me diz muito. A música faz parte da minha vida. Fiz o Conservatório de Música, em piano, andei no ballet e fazia aqui os espetáculos de fim de ano. Por isso, e porque também vivo perto, a Casa da Música é um local que me traz boas recordações e, sobretudo, tranquilidade.

Porque optou por Cardiff para continuar os seus estudos superiores?
Na faculdade quis sempre muito fazer Erasmus. Era para ir para Lille (França), mas era uma área com que não me identificava muito. Depois, propus à minha orientadora, professora Bárbara Figueiredo, ir para o Reino Unido. Falei-lhe de algumas universidades, entre as quais a de Cardiff. Estabelecemos uma parceria e fascinou-me muito todo o ambiente em torno da universidade. Fui lá fazer a minha tese de mestrado e continuei para o doutoramento.

O que é que Cardiff não tem que encontra no Porto?
Muita coisa. O Porto é incrível. Agora, dou muito mais valor à praia, ao sol, ao ambiente da nossa cidade. A zona da baixa é única.

Está a especializar-se na área de Reprodução Humana. Por alguma razão em especial?
O grupo de estudos de fertilidade da Universidade de Cardiff é conhecido mundialmente. Um dia, se vier a acontecer, o que trouxer de lá é o rigor com que se faz investigação, os métodos de trabalho e o tema em si mesmo. São três coisas que me fascinam e estimulam muito, diariamente. Por isso é que fiquei e vejo-me a ficar por lá.

Agora, dou muito mais valor à praia, ao sol, ao ambiente da nossa cidade

Coloca, então, a hipótese de trabalhar no estrangeiro?
Tanto há possibilidade de voltar como de ficar. Vai depender das oportunidades que surgirem no final do doutoramento. É uma questão em aberto. Estou em Cardiff, mas tenho uma instituição de acolhimento no nosso país, a Universidade do Porto, e duas orientadoras portuguesas. Tenho a sorte de trabalhar também com a professora Sofia Gameiro, uma orientadora inacreditável que me proporciona um crescimento exponencial. No âmbito do meu trabalho estou também a recolher dados em pacientes do Hospital de São João, do Centro Materno Infantil do Norte e do Hospital Santa Maria, em Lisboa. Portanto, mantenho ligações ao nosso país.

Qual é o objetivo do seu trabalho?
Estamos a desenvolver uma intervenção psicossocial para ajudar os pacientes a ajustarem-se ao insucesso de tratamento de fertilidade, algo muito delicado e duro. Faço consultas com pacientes portugueses, muitas delas à distância. Ando sempre um bocadinho cá e lá.

Tem, certamente, um olhar diferente sobre a cidade?
Desde que fui embora, vejo a cidade de uma forma diferente, para melhor. Valorizo mais as pequenas coisas, aproveito muito mais os dias, os fins-de-semana. Quando estamos cá parece que não vamos a tantos locais.

Tanto há possibilidade de voltar como de ficar em Cardiff

Para si, o Porto é…
É uma cidade incrível. Sinto-me sortuda por ter nascido e crescido aqui. É uma cidade bonita, com muitas oportunidades. Uma cidade fascinante.

É uma cidade diferente da sua infância?
Sempre aproveitei muito a cidade. Hoje, muito mais as pequenas coisas. Ou seja, é sempre a mesma, mas vou sempre descobrindo coisas novas.

Para trás ficaram a música e o ballet…
Quando entrei na faculdade ficou impossível conciliar com o ballet e, por isso, tive de desistir. Quanto à música atingi o oitavo grau, mas, atualmente, toco por diversão, prazer. A paixão agora é pelo canto: faço parte do Ensemble Vocal Pro Musica, mas só o faço quando cá estou. É a única forma de manter ligação à música.