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Contra o silêncio e a indiferença, as cores da bandeira iraniana iluminaram a Câmara do Porto

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Em solidariedade com os movimentos de protesto contra a intolerância do regime iraniano, o edifício da Câmara do Porto iluminou-se, no sábado ao final da tarde, com as cores da bandeira iraniana. O verde, branco e vermelho na fachada dos Paços do Concelho transmitiram uma mensagem de defesa dos Direitos Humanos, contra o silêncio e a indiferença.

Pela Avenida dos Aliados passavam grupos numerosos, mais ou menos satisfeitos com os resultados dos jogos de futebol no Campeonato do Mundo que decorre no Qatar, mas algumas dezenas de pessoas reuniam-se aos pés da estátua de Almeida Garrett com um propósito maior: a solidariedade com as mulheres iranianas, que há muito tempo lutam pela liberdade.

Simbolicamente, a árvore de Natal que ilumina de magia esta época do ano estava apagada, para espanto de muitos transeuntes. Na fachada da Câmara Municipal do Porto, as cores da bandeira iraniana espelharam o sentimento da autarquia e da cidade. A solidariedade contra a intolerância, na defesa da liberdade e no respeito pelos Direitos Humanos.

Precisamente no dia 10 de dezembro, em que anualmente se assinala o Dia dos Direitos Humanos, em virtude da adoção, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, o Porto enviou uma mensagem para o povo iraniano: “Estamos absolutamente solidários e estamos disponíveis. Não podíamos estar indiferentes”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

“Queremos continuar a apostar nos Direitos Humanos, e a denunciar aquilo que são os abusos terríveis que estão a passar-se no Irão. O que se está a passar no Irão é inacreditável e é lamentável algum silêncio das nossas autoridades relativamente a isso. Da nossa parte, não haverá silêncio. Esperamos que o povo iraniano se consiga libertar daquilo que é uma teocracia terrível, e que ainda hoje e todos os dias tem assassinado pessoas, mulheres, por se recusarem a envergar um véu, o que deve ser uma liberdade individual”, acrescentou o autarca.

Acompanhado pela vereadora do Turismo e Internacionalização, Catarina Santos Cunha, e por Aida Sigharian, uma das promotoras da iniciativa, Rui Moreira considerou “apropriado” que a iniciativa coincidisse “com o dia em que se celebram os Direitos Humanos, em que choramos a falta de Direitos Humanos.”

“Num ano que tem sido terrível para o mundo, em muitos aspetos, aquilo que está a acontecer no Irão é absolutamente terrível, e portanto achámos que devemos marcar isso por aquilo que são os direitos das mulheres. Também em Portugal não nos podemos esquecer que este ano já morreram 22 mulheres, assassinadas por violência doméstica. É uma luta que nos diz muito. Há um simbolismo de uma cidade que é uma cidade de liberdade, e quer ser uma cidade que preserva os Direitos Humanos, e também que tem respeito por aqueles que aqui vivem”, frisou.

O processo “foi fácil” desde a primeira conversa. “Encontrámo-nos com o presidente da Câmara e marcámos um encontro para falar. E depois tudo foi fácil. Pedimos este gesto de solidariedade, pedimos alguns murais para fazer pinturas, usar mupis, pedimos ajuda para divulgar os eventos e manifestações que fazemos”, lembrou Aida Sigharian.

“Eu estava a fazer uma conferência sobre o 25 de novembro, também tem a ver com Direitos Humanos, e a Aida apareceu. Marcámos um encontro, vieram aqui, tivemos uma reunião, dissemos a tudo que sim porque tudo nos pareceu perfeitamente justificado e bem pensado. Muito bem pensado”, concluiu Rui Moreira.

As mulheres do Irão receberam recentemente a menção especial de “heroínas do ano” pela revista norte-americana Time, que destacou o seu movimento de “luta pela liberdade”. No centro dos protestos mais recentes está a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, presa pela polícia moral por violar o código de vestuário das mulheres, e que provocou “a revolta mais prolongada nos 43 anos de história da República Islâmica”, segundo a publicação.

O tema escolhido este ano pela ONU para o Dia dos Direitos Humanos é “Dignidade, Liberdade e Justiça para Todos”, e marca o início da celebração do 75.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos com o lançamento da campanha que durará um ano para realçar a sua importância.