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Comboio entre Porto e Galiza “é fundamental” para o crescimento económico das duas regiões

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O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o presidente do Governo Regional da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, defendem que é “estratégico” avançar com o projeto da ligação ferroviária de alta velocidade entre o Norte de Portugal e a Galiza, para acelerar o desenvolvimento económico das duas regiões vizinhas. Foi uma das conclusões da conferência, “Galiza e Portugal – novos laços”, que decorreu esta manhã, na Corunha, encontro que também serviu para os governantes apontarem caminhos em matérias como a economia, emprego, mobilidade, infraestruturas e turismo, num tempo ainda mais desafiante, porque de crise.

O ciclo de debates “Diálogos Gallaecia”, promovido pela EFE, agência de notícias de Espanha, em parceria com a agência de comunicação Qualia, teve, desta vez, um convidado do outro lado da fronteira. Rui Moreira, que há duas semanas esteve com o responsável máximo da Galiza, no anúncio da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura 2027, voltou a encontrar-se com Alberto Núñez Feijóo para refletirem sobre uma colaboração mais estreita entre os dois territórios.

Logo à cabeça, a questão das infraestruturas. O presidente do Governo Regional da Galiza considera “uma excelente notícia” que o Governo Português tenha dado um sinal claro e taxativo para a criação de uma nova linha de ferrovia entre Porto-Lisboa, de alta velocidade. A linha, que também contemplará a ligação a Braga, propiciará o investimento no eixo direto ao norte de Espanha, via Tui, confia o responsável. “Um corredor ferroviário estratégico” e determinante para a almejada conexão entre Corunha e o Algarve, extremos norte e sul da zona oeste da Península Ibérica, considerou também.

Pelo contrário, "seria um grave erro continuar sem conexão ferroviária", tanto no porto exterior da Corunha como entre Vigo e Portugal, avisou Alberto Núñez Feijóo. “Não se pode vertebrar um território se este não está comunicado", ressalvou, citado pela agência EFE.

“Era um desejo antigo e podemos finalmente acreditar que vai ser concretizado”, assinalou por seu turno Rui Moreira, na conferência moderada por Ana Martínez, delegada da agência EFE na Galiza. O presidente da Câmara do Porto lembrou que, ao longo dos últimos 20 anos, foram de facto muitas as promessas e os anúncios, mas agora, acredita, já não há forma de recuar no compromisso assumido, ainda que estime demorar sete a oito anos a concretizar-se.

“Para que a relação económica [entre Porto, o Norte e a Galiza] se expanda, necessitamos de infraestruturas e de uma ligação ibérica. Esta é a última oportunidade que temos e não pode ser desperdiçada”, sinalizou o autarca, vincando que a “bazuca” europeia tem de ser aproveitada de forma inteligente, em investimentos com retorno. Mas uma grande fatia dos fundos europeus, entende Rui Moreira, deverá ser alocada a impulsionar a economia, com apoios muito concretos que promovam a competitividade das empresas.

Ora nesse particular surge a questão dos impostos, grande entrave ao crescimento económico. "A fiscalidade de ambos países não é competitiva na Europa", declarou o autarca, denunciando que este é um problema que se adensou com a crise. “As empresas estão completamente descapitalizadas. Era importante baixar os encargos fiscais. Para sobreviverem e crescerem, não basta o crédito bancário. Os governos têm de capitalizar as empresas”, sentenciou.

Assim sendo, Rui Moreira propõe uma solução “mista” com o envolvimento de capitais públicos e privados, algo que aproxime de um fundo soberano de sociedades de desenvolvimento industrial com capital misto. E, como exemplo, partilhou o que o Município do Porto fez através da criação de um regulamento de redução de taxas urbanísticas, o REURB 2020. Uma medida “anticíclica” virada para os investimentos urbanísticos acima de um milhão de euros, que reduz não só as taxas pagas à autarquia a 50% como também diminui o tempo de tramitação dos processos. “É uma forma de não deixar esmorecer os investimentos programados”, assinalou o presidente da Câmara.

A iniciativa do Porto foi aproveitada por Alberto Núñez Feijóo, que considerou um exemplo a seguir pelas autarquias espanholas. O presidente galego disse crer que as autarquias portuguesas são "mais ambiciosas" nestas matérias, devido à sua orientação mais comercial e industrial. Até porque, nenhum município da Galiza aplicou aquilo que considerou serem as "férias fiscais" do Porto, constatou.

No entanto, mais do que os impostos, o governante compartilhou que fica com os nervos em franja devido “à lentidão e à burocracia dos processos”, que em vez de acelerarem os investimentos só os prejudicam. "Portugal está a dar-nos uma lição de pragmatismo, orientado para o investimento", observou ainda Alberto Núñez Feijóo, admitindo ter uma "inveja saudável", que - espera - seja também sentida pelos galegos, sinal de que alguma coisa está para mudar.

A crise económica não ficou também de fora do debate. O presidente da região autónoma assinalou que o orçamento foi reajustado para incorporar 2.500 milhões e assim atenuar os efeitos económicos da pandemia, e sublinhou a importância de alocar os milhares de milhões de Bruxelas para o que realmente valha a pena, porque há o perigo de os canalizar para "fazer projetos mais cosméticos e estéticos que estruturais", disse.

No estreitamento de relações entre as duas regiões, há ainda a oportunidade do turismo, consideraram os dois dirigentes políticos. “Na Galiza e no norte de Portugal vivem cerca de seis milhões de cidadãos. Temos uma enorme capacidade de atração turística”, analisou Alberto Núñez Feijóo, que propôs o desenvolvimento de uma estratégia comum para o turismo gastronómico e cultural.

Rui Moreira não poderia estar mais de acordo. “Estima-se que a aviação só recupere plenamente da pandemia em 2025. Por isso, cada vez mais, temos de encontrar formas de estimular o turismo interno”, defendeu.

A fechar a sessão, seguida por muitos empresários, e que pode ser vista aqui na íntegra, Alberto Núñez Feijóo voltou e elogiar o Porto, depois de ter declarado publicamente que “a cidade do Porto é a mais cosmopolita da eurroregião”. Hoje, disse também que “nos últimos anos, a cidade teve um crescimento excecional” e que é um exemplo para muitas cidades da Galiza.