Cultura

Circo de Natal do Coliseu estreia elenco falado em português e uma orquestra ao vivo

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A pista que já soma 79 anos de espetáculos dedicados às artes circenses volta a iluminar-se nesta época festiva para abraçar estreias absolutas e muitos talentos nacionais, com um total de 20 artistas, uma orquestra ao vivo e um palhaço português como mestre de cerimónias. O Circo de Natal do Coliseu Porto Ageas estreia hoje e prolonga-se até dia 3 de janeiro, numa edição com lotação reduzida e medidas de segurança reforçadas.

A magia do circo está bem viva - mesmo em tempos de pandemia – e a tradição de Natal, à moda da cidade do Porto, cumpre-se com um espetáculo falado cem por cento em português, num ano em que se torna fundamental apoiar o setor cultural.

O jovem artista Rui Paixão é o clownincumbido do importante papel de mestre de cerimónias, assumindo a missão de conduzir o espetáculo e interligar todas as performances durante cerca de 90 minutos.

Foi ao ouvir o álbum “Alegria como um ato de resistência”, da banda Idles, que Rui Paixão, o primeiro português a integrar o Cirque du Soleil como criador original, sentiu que era este o mote ideal para um ano tão atípico e idealizou, especialmente para este espetáculo, uma personagem inspirada no universo mitológico que, através da fisicalidade, promete arrancar até mesmo os sorrisos mais tímidos da plateia.

“Aqui há um objetivo muito claro, que é proporcionar ao público alegria e um momento em que as pessoas podem vir ao Coliseu, respirar, e depois continuar o dia seguinte de uma forma melhor”, afirma o conceituado talento.

Envergando uma personagem que se assemelha a uma “espécie de minotauro”, a conceção do espetáculo propõe uma visão contemporânea do palhaço mimo, “que se encontra preso num labirinto em que a arena do espetáculo é o centro, onde as pessoas, que foram pelo labirinto, encontraram-se e o minotauro vai proporcionar alegria e divertimento”, contextualiza o artista.

Sem esconder a satisfação por atuar no seu país de origem, Rui Paixão admite que esta é uma “oportunidade de ouro”, uma vez que “Portugal é casa e é o grande objetivo. Aqui é que eu quero desenvolver o circo, especialmente neste projeto”, sublinha, ambicionando revolucionar a cena do clown portuguesacom artistas contemporâneos, experimentais e artistas tradicionais, porque “há espaço para tudo e não precisamos de ir fora, há ouro em casa e esse ouro tem obrigatoriamente de começar a ter palco, porque só assim é que podemos crescer”, reforça.

Mas as novidades não ficam por aqui e, numa edição que se reinventa, há também música tocada ao vivo pela Orquestra Circo Coliseu Porto Ageas. Conduzidas pelo maestro Cesário Costa, as duas formações, cada uma composta por quinze músicos, acompanha todo o espetáculo interpretando uma banda sonora original, especialmente concebida pelo compositor Filipe Raposo para o espetáculo.

“O facto de termos uma banda sonora que é escrita de raiz, é inédito”, admite Mónica Guerreiro, presidente do Coliseu Porto Ageas.

“Um espetáculo de circo é dinâmico e, portanto, ao trabalharmos com música gravada há sempre aquela limitação e com a orquestra nós temos a possibilidade de proporcionar ao público uma envolvência e um espetáculo muito mais cativante, porque estão a ouvir músicos a tocar”, contextualiza.

Com um leque de artistas variado, além dos números de circo mais tradicional, há também performances incomuns: caso do mastro chinês de Leonardo Ferreira ou o número de parkour dos Team Braga, “que são disciplinas de um vocabulário físico exigente, mas que estão mais ligadas a uma estética do espetáculo de novo circo, do chamado circo contemporâneo, mas que se complementam.”, refere a diretora do Coliseu.

De resto, a lista – de um espetáculo inovador, que liga artistas provenientes de famílias circenses a outros que têm o circo como formação profissional - continua e apresenta ainda: as acrobacias do quarteto Laboratório; o portuense Daniel Seabra no trapézio; o ilusionista Andrély, nomeado duas vezes pela Academy of Magical Arts como mágico do ano, acompanhado pela também mágica Flávia Molina; o malabarista Danny Luftman, detentor do recorde mundial do Guinness para a projeção de bumerangues; Diana Niepce, numa coreografia que une a fisicalidade à dança e à acrobacia, num dueto de forças opostas; a companhia Teatro do Mar, com a acrobacia aérea e corda bamba; e os Palhaços Luftman, composto por um trio de comediantes natos que vão competir pela atenção dos mais novos.

Para Mónica Guerreiro, “a nota dominante é a diversidade, é a variedade, é a ideia de que o circo tradicional e o circo contemporâneo podem estar de mãos dadas, porque efetivamente são linguagens compatíveis e que se podem apresentar de forma comum no mesmo espetáculo”.

Com um ano marcado pela incógnita e incerteza, o Circo de Natal fez uma clara aposta nos talentos nacionais - na sua maioria provenientes do Norte do país - num certame “muito experimental”, uma vez que “há aqui coisas que estamos a fazer que ainda não eram muito feitas, pelo menos neste contexto, e que foram fruto das circunstâncias, mas também uma opção artística, de dar um passo em frente e do Coliseu também ser essa casa que tem escala, tem dimensão, tem obrigação pela sua história de apostar e de estar do lado da cultura e do lado dos nossos artistas”, remata a diretora do Coliseu Porto Ageas, desde abril de 2020.

De forma a contornar o atual contexto pandémico e incentivar a visita por parte do público, o Coliseu procurou garantir todas as condições de segurança, numa sala com lotação reduzida, em conformidade com as medidas que têm já adotado em todos os espetáculos realizados recentes, e apostou ainda em descontos nos bilhetes e incentivos com “packs família”, em que na compra de quatro bilhetes é oferecido o bilhete de menor valor, tornando assim a vinda ao circo mais acessível e convidativa.