Cultura

Circo de Natal do Coliseu chega ao infinito e mais oitenta

  • Porto.

  • Notícia

    Notícia

A viagem começa esta sexta-feira e promete expandir as paredes de uma das mais emblemáticas salas de espetáculo da cidade até 2 de janeiro. Aos 80 anos, o Circo de Natal do Coliseu já não quer ser o maior espetáculo do mundo, mas do universo. Numa edição inspirada nas galáxias e planetas desconhecidos traz uma aventura sem rede e que desafia todos os limites das técnicas circenses.

O Circo de Natal do Coliseu não é espetáculo para se ver sossegado no camarote – nunca se sabe de onde surgirá o próximo número, o próximo artista –, mas há atividades durante as quais será preciso agarrar-se bem às cadeiras.

Ainda que Laurence Tremblay-Vu tente convencer o público de que quando está “no fio”, está “muito à vontade, no momento presente e a aproveitar verdadeiramente”, a ansiedade de quem o fica a olhar lá em cima, a 14 metros de altura, a caminhar entre os 30 metros que separam as bancadas do Coliseu sob um fio com 11 milímetros de espessura, não permite grande sossego. Mas ele tem “tempo para observar as pessoas, ouvir a música, brincar e dançar”, garante.

Já é a segunda vez que o funambulista canadiano-vietnamita atua no Circo de Natal do Coliseu e, desta vez, decidiu seguir o mote deste espetáculo renovado e arriscar ser “ainda mais selvagem”. A inspiração, diz, vem da yoga, dos monges shaolin, das artes marciais para aquilo que Laurence Tremblay-Vu chama da sua “forma de levitar” e que promete deixar o público “com os olhos a brilhar”.

É esta aposta arrojada que segue o mantra do Circo de Natal – “Novo desde 1941”. Está lá tudo o que é tradicional, o que o público espera – os malabaristas, os trapezistas, um número de ilusionismo e, claro, os palhaços. Mas, desta vez, está algo muito mais contemporâneo, para lá das artes circenses tradicionais: a roda alemã, a lira aérea e, para deixar a respiração do público em suspenso, um globo radical.

Anteriormente conhecido como “globo da morte”, o número traz os Brazil Riders num desafio onde três motociclistas andam em círculos em alta velocidade dentro de uma estrutura esférica. Os artistas confirmam que “é uma emoção o que se sente lá dentro”. Os três já levaram o espetáculo a circos, ginásios e escolas por toda a Europa, e chegam pela primeira vez a um teatro. “A adrenalina sobe muito rápido, esse é o prazer que temos”, asseguram.

A teoria do Big Bang do número 80

Os artistas responderam a uma convocatória que procurava números originais, mas que assumissem o conceito desta edição. O “big bang” deste circo deu-se, precisamente, do número 80, que são os anos que o Coliseu do Porto e o Circo de Natal celebram em conjunto.

A presidente da instituição explica: “tem o 8 como símbolo do infinito, o que se passa para lá dos limites do que nós conhecemos” e tem “a forma circular do 0, que é o mote do qual partem todos os números” desta edição.

A maior parte dos artistas são nacionais, mostrando, afirma Mónica Guerreiro, “uma variedade grande de atuações de circo que pretendem tomar o pulso àquilo que é o talento das muitas escolas de circo que neste país já começam a produzir talentos muito interessantes”. A eles se junta, a abrir o espetáculo, a atuação do Balleteatro & Radar 60.

As 15 atuações compõem aquilo que Mónica Guerreiro descreve como “espetáculo de noite inteira”, onde “os números estão costurados para formar sentido na sequência”. Por trás, há uma banda sonora - tocada ao vivo - a dar corpo ao espetáculo, propositadamente composta para cada exibição, num registo funk-eletrónico-pop-rock sci-fi. E lá ao fundo a tela abre a porta ao espaço sideral, com vídeos criados por alunos da Escola Superior de Media Artes e Design.

“O circo tem a caraterística muito particular de ser um espetáculo que se reinventa continuamente” acredita a presidente do Coliseu do Porto. E acrescenta que “estamos a falar de técnicas que são aprimoradas pelo tempo, mas que têm também a caraterística de poderem ser acrescentadas na sua capacidade simbólica, na emoção e sensibilidade que transmitem, nos mundos que vão evocar, mas a técnica circense é a mesma desde há muito tempo”.

A viagem para lugares longínquos, proposta pelo Circo de Natal do Coliseu, não descura, no entanto, a atenção na realidade. Já sem as restrições de lotação e de circulação que no ano passado limitaram a assistência em sala e privilegiaram o online, “voltamos à experiência global da energia que uma sala repleta pode transmitir e é muito entusiasmante poder voltar a fazê-lo”, partilha Mónica Guerreiro.

Para a presidente do Coliseu do Porto “é uma excitação estarmos a poucos dias da estreia e termos a perspetiva de ter um espetáculo com mais de duas mil pessoas a assistir ao mesmo tempo a uma experiência que é, obviamente, muito diferente do que se pode ter em casa”.

Para assistir às sessões, basta apresentar o certificado de vacinação ou um teste negativo à Covid-19. E apertar o cinto.