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Cientista do Porto vence Prémio Pulido Valente com estudo sobre cancro gástrico

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Filipa Brito

A investigadora Sara Rocha, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi a vencedora do Prémio Pulido Valente Ciência 2020, atribuído no final de janeiro pela Fundação Professor Francisco Pulido Valente e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

O galardão, no valor de 10 mil euros, distingue o melhor artigo científico na área das Ciências Biomédicas publicado por um investigador com idade inferior a 35 anos. No caso de Sara Rocha, premeia os estudos desenvolvidos no domínio do cancro gástrico. Divulgado na revista Advanced Science, o artigo premiado tem como título “3D Cellular Architecture Affects MicroRNA and Protein Cargo of Extracellular Vesicles”, e foi pioneiro na caracterização do impacto e consequências biológicas que a arquitetura celular impõe às vesículas extracelulares (EVs) produzidas pelas células cancerosas.

Para Sara Rocha, vencer esta edição do Prémio Pulido Valente Ciência trata-se de “uma enorme honra e responsabilidade”, uma vez que “dá-nos uma motivação adicional para continuarmos o nosso trabalho, na procura de soluções que atenuem ou eliminem o sofrimento dos doentes oncológicos”.

“Sinto-me muito grata, não só pela atribuição do prémio, mas por ter tido o privilégio de realizar este trabalho num ambiente tão estimulante. Espero que esta contribuição possa desencadear novas perguntas, que desvendem respostas inovadoras e com impacto clínico efetivo”, acrescentou a jovem investigadora, que desenvolveu todo o seu percursos académico na U.Porto.

O estudo, desenvolvido por uma equipa internacional, que integra investigadores do grupo Expression Regulation in Cancer do i3S, liderado por Carla Oliveira, usou um modelo 3D de alto rendimento para reproduzir a arquitetura dos tumores do estômago encontrados em doentes. Desta forma, foi possível identificar as “mensagens”, específicas do contexto 3D, que as vesículas extracelulares produzidas pelas células malignas transportam, e as consequentes alterações no comportamento das células que recebem as EVs.

“Sabíamos que as EVs de cancro gástrico condicionam o comportamento dos tumores, mas o problema sempre foi conseguir recolher EVs em quantidade suficiente e a partir de condições experimentais mais próximas da realidade, para as podermos estudar devidamente. Por isso, quisemos reproduzir a arquitetura 3D dos tumores da forma mais fiel possível”, explicou Sara Rocha, citada em comunicado.

Ainda segundo a investigadora, “este modelo 3D permitiu-nos não só obter EVs de células de cancro gástrico em grande quantidade, mas principalmente concluir que a tridimensionalidade das células é essencial para alocar nas EVs os fatores que favorecem o desenvolvimento tumoral e eventual disseminação. Ou seja, há vários níveis de informação que as culturas celulares clássicas 2D não revelam”.

A partir dos resultados deste trabalho, a equipa de investigadores já avançou para modelos pré-clínicos de ratinho, na tentativa de demonstrar o impacto da arquitetura celular, e das mensagens transmitidas pelas EVs na metastização de cancro gástrico.

Este prémio é o segundo a distinguir o trabalho de Sara Rocha e da equipa do i3S. Em setembro de 2020, a equipa de investigação já tinha recebido o prémio de melhor comunicação oral no II ENJIO – Encontro Nacional de Jovens Investigadores em Oncologia, atribuído pela Liga Portuguesa contra o Cancro.