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Cidade reencontra-se com a memória e a identidade cultural na reabertura da Antiga Casa da Câmara

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Um reencontro com “a memória coletiva, o património histórico e a identidade cultural”, com os “valores, sentimentos, tradições e vivências que forjaram o nosso caráter de portuenses”. Assim é o momento de reabertura da Antiga Casa da Câmara, no Terreiro da Sé, que, depois de reabilitada, é, a partir de hoje, entregue ao projeto artístico do Museu do Porto e, assim, devolvida à cidade. A abertura de portas desta “caixa milagrosa carregada de tempo” traz consigo o simbolismo do centenário de Fernando Távora, o arquiteto que ali deu contemporaneidade à também conhecida como Casa dos 24.

Na inauguração da exposição “A Urgência da Cidade: o Porto e 100 anos de Fernando Távora”, ao final da tarde de quinta-feira, Rui Moreira lembrou a “marca indelével” deixada por “um dos maiores mestres da arquitetura contemporânea nacional e internacional” ao “restituir ao Porto toda a monumentalidade e simbolismo da Antiga Casa da Câmara”.

Nas palavas do presidente da Câmara, o arquiteto, “referência maior da ‘Escola do Porto’”, revelou “sempre um grande respeito pela memória, património e identidade” da cidade. Por isso, a reabertura daquele espaço é, sublinha, “um ato de homenagem e profundo respeito pela sua obra e pela sua conceção civilizadora, social e não cristalizada” do Porto.

Rui Moreira lembrou como era ali, na Antiga Casa da Câmara, que “reuniam os chamados ‘homens-bons’, que representavam as 24 corporações de ofícios da cidade”, o que atribui ao espaço o lugar de testemunha da “transformação política, económica e social” do Porto.

Depois de um processo de reabilitação, aquela que foi a primeira sede do poder municipal ganha, agora, “um novo protagonismo museológico”, assumindo, adianta o presidente da Câmara do Porto, “funções inéditas ao nível da criação, divulgação e fruição cultural”, cumprindo o desígnio de Fernando Távora, assim como as suas ideias – ligadas à história da cidade, mas também à arquitetura e às artes – para aquele espaço.

Certo de que, inserido no Museu do Porto, o espaço “vai ser um monumento vivo, sinérgico, transformador”, Rui Moreia garante que está a ser “feita justiça à cidade, que vê um dos seus principais monumentos resgatado a um vazio e a um silêncio incompreensíveis”.

“Por seu turno, o Museu do Porto passa a beneficiar da ressonância histórica e da carga simbólica”, da Antiga Casa da Câmara, acredita o autarca, “circunstância que favorece o seu intuito de se tornar uma instituição museológica fortemente vinculada ao território, à identidade e à mundivisão do Porto”.

Para o diretor do Museu do Porto, este “não é um núcleo qualquer”. “Esta ´caixa milagrosa carregada de tempo’, como lhe chamou Távora, é uma poderosa constelação de símbolos, que reavivamos e cuja integridade recuperamos” afirma Jorge Sobrado, “a própria memória do Porto, simultaneamente monumental e poética”.

Considerando o arquiteto “uma fonte inesgotável de revelações e desacordos profundos, como são as coisas eternas”, tal como aquele espaço ao longo de décadas, o diretor do Museu do Porto não tem dúvida da “urgência desta operação de resgate”. Nas palavras de Jorge Sobrado, “tanto esta torre como Fernando Távora são marcados pelo sentido de urgência, pela inquietude da cidade e da condição humana do seu tempo”. "Távora não é antigo, nem passado, mas vindouro", afirma.

“O Porto” de volta à casa com vista para a cidade

Responsável pela curadoria da exposição, Manuel Luís Real lembrou como, para Távora, “a arquitetura era uma forma de fazer feliz a Humanidade”, sublinhando a importância dada pelo arquiteto “ao meio em que a pessoa vive”, um erudito sempre à procura das raízes.

Daí a relevância dos símbolos que, agora, retornam à Antiga Casa da Câmara: o brasão, a inscrição que define a Invicta, assim como a própria dimensão da torre – “à mesma altura que a torre do Bispo. Acima só a casa de Deus” – ou a estátua “O Porto”, “colocada em frente à janela com vista para a cidade velha para que, quem entrasse visse logo ali o seu significado. As pessoas estão diante do Porto. E isto é genial”.

Sim, “O Porto” vai voltar ao lugar de sempre. Assim garantiu o presidente da Câmara. Rui Moreira considera que “a recuperação da integridade do projeto de Fernando Távora se encontra amputado”. Por isso, assim que terminarem os trabalhos de restauro, a estátua vai regressar “ao lugar de onde nunca devia ter saído”.

No primeiro dia, a fila foi longa para visitar esta “torre de memórias”, que pertence, de novo, aos portuenses. “A Urgência da Cidade: o Porto e 100 anos de Fernando Távora” pode ser visitada até 29 de outubro, de terça-feira a domingo, das 12 às 19 horas.