Cultura

Cerimónia de atribuição da Tília de homenagem a Ana Luísa Amaral marca segundo dia da Feira do Livro do Porto

  • Paulo Alexandre Neves

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Muitos dos que conheceram e acompanharam o percurso literário e académico de Ana Luísa Amaral não faltaram hoje à cerimónia de atribuição da Tília de homenagem, conduzida pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e que marcou a programação do segundo dia da Feira do Livro. “Uma árvore jovem e não por acaso localizada bem junto à Biblioteca Municipal Almeida Garrett, onde ela [Ana Luísa Amaral] gostaria, certamente, de estar”, sublinhou Rui Moreira, depois de, acompanhado da filha da homenageada, Rita, ter descerrado uma placa junto à árvore e onde se pode ler um verso da poetisa: “Na desordem mais cósmica das coisas/organizar inteiro: o coração”.

O nome de Ana Luísa Amaral fica eternizado na Avenida das Tílias dos Jardins do Palácio de Cristal, juntando-se ao leque de autores que, desde 2014, foram homenageados pela Feira do Livro do Porto – Vasco Graça Moura, Agustina Bessa Luís, Mário Cláudio, Sophia de Mello Breyner Andersen, José Mário Branco, Eduardo Lourenço, Leonor de Almeida e Júlio Dinis –, quando o novo modelo de organização do evento foi assumido pela Câmara Municipal do Porto, transferindo-se a localização para os Jardins do Palácio de Cristal.

Momentos antes, na Concha Acústica dos Jardins do Palácio de Cristal, Rui Moreira tinha evocado a autora que nasceu em Lisboa – mas que “já não se sentia entre dois rios”, porque o Porto era a sua cidade, como a própria confessou. “Ela estava muito contente, bastante emocionada por ser homenageada. Mas quem estava mais emocionado éramos nós porque víamos nela a luminosidade do seu olhar, a alegria não contida e a vontade de participar. Ela está connosco”, sublinhou o presidente da Câmara do Porto.

Acompanhado de muitos que privaram com a poetisa, sobretudo docentes e alunos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, bem como do coordenador da programação da Feira do Livro, Nuno Faria, do presidente da Assembleia Municipal, Sebastião Feyo de Azevedo, outros elementos da vereação municipal, da presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, e do seu vereador da Cultura, Fernando Rocha, e de muitos leitores e admiradores, todos se associaram numa emotiva salva de palmas à homenageada.

Recorde-se que Ana Luísa Amaral teve uma participação ativa na programação do festival literário da 9.ª edição da Feira do Livro do Porto, mas a sua inesperada morte a 5 de agosto, aos 66 anos, transformou a celebração da sua obra numa evocação póstuma. Foi isso mesmo que aconteceu também, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett (BMAG), com o visionamento do documentário “Entre Dois Rios e Outras Noites”, da autoria de Nuno F. Santos e João Nuno Soares, que retrata uma viagem pelos lugares e pequenos ofícios de Ana Luísa Amaral, um reflexo da sua alma que permite conhecer mais a fundo a escrita e o que antecede esse seu particular mundo.

A sessão terminou com uma conversa, sob o mote “O Som que os Versos Fazem ao Abrir”, que uniu as ensaístas Rosa Maria Martelo e Isabel Pires de Lima, a atriz Teresa Coutinho e o escritor Nuno F. Santos. A moderação esteve a cargo do jornalista Luís Caetano, com quem Ana Luísa Amaral tinha um programa na Antena 2 (“O Som que os Versos Fazem ao Abrir”, nome da conversa). Por esta sessão passou a vida e legado literário e filosófico de Ana Luísa Amaral e o seu o espírito inspirador, inconformista e avesso à consonância.

Fim-de-semana repleto de iniciativas

Mas o segundo dia da Feira do Livro consagrado à poetisa iniciou-se, logo pela manhã, com a lição “Ana Luísa Amaral: Poesia e Mundo”, a cargo de Maria Irene Ramalho, no Auditório da BMAG.

Amanhã, domingo, às 11h30, o auditório volta a ser palco da celebração da obra da poetisa, com a conversa “O Olhar Diagonal das Coisas”, o livro com a poesia reunida de Ana Luísa Amaral, que junta Isabel Pires de Lima, Rosa Maria Martelo, Pedro Serra e Joana Matos Frias.

Segue-se a homenagem a uma das maiores paixões literárias de Ana Luísa Amaral – a tradução. Às 16 horas, o Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett é palco “Da tradução e outros desvios”, na qual três das tradutoras que mais recorrentemente colaboraram com a poeta – Livia Apa, Lauren Mendinueta e Catherine Dumas – unem-se para uma polifonia de vozes e línguas, conduzida por Marinela Freitas, professora no Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

É com a performance do diseur Isaque Ferreira, uma das vozes mais reconhecidas das Quintas de Leitura, em “Uma receita qualquer – para uma gastronomia emocional”, que se fazem se fecham as celebrações à vida da poeta, no fim de semana.

A programação da Feira do Livro do Porto conta com mais de 100 atividades, de acesso gratuito, numa agenda repleta de conversas, lições, oficinas, concertos, filmes e atividades para bebés, crianças e jovens.