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Centro Histórico é casa para 40 estudantes com carências económicas concretizarem sonho de estudar no Porto

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Nas paredes da Academia 24, lê-se a mensagem: "Somos o que partilhamos". A partir deste ano letivo, 40 jovens vão partilhar residência no número 48 da Rua da Bainharia, a solução em formato casa que lhes vai permitir estudar na cidade do Porto. Projeto pioneiro no país, ao colocar nas mãos dos estudantes a gestão de uma residência universitária, nasceu da vontade do Município e da Federação Académica do Porto (FAP) em dar resposta a quem fica de fora da parca oferta pública de camas disponibilizadas pelos serviços de ação social.

Enzo vem do Algarve, Joana da Madeira. Escolheram o Porto para estudar, ele física, na Faculdade de Ciências da UP, ela enfermagem na ESEP. São ambos elegíveis para bolsa da ação social, mas a resposta que tiveram foi a falta de vagas.

São dois dos 40 estudantes que encontraram na Academia 24, a residência criada pelo Município e a FAP, em pleno Centro Histórico, a solução para não terem que desistir do sonho de estudar na Invicta. O que cada estudante pagará para residir na Rua da Bainharia é exatamente aquilo que recebe como completo de alojamento: 312 euros. E assim é para quem estuda na universidade, no politécnico, em instituições públicas ou privadas.

Em visita à residência na manhã desta segunda-feira, a vereadora da Juventude e Desporto teve oportunidade de ver o espaço pronto e conhecer os jovens recém-chegados à vida académica do Porto. Satisfeita com o lugar "confortável, interessante e com condições únicas para que os estudantes possam fazer o seu percurso na cidade" que encontrou, Catarina Araújo reforça que, "em boa hora, decidimos assumir este desafio, ceder o espaço e apoiar financeiramente na sua requalificação".

A vereadora sublinhou a pertinência do local, certa de que "é extremamente relevante e importante o diálogo intergeracional que aqui vai acontecer". “Esperamos que este exemplo possa inspirar outros municípios”, partilha a responsável da Juventude.

Catarina Araújo lembra que esta residência é apenas um dos projetos em que o Município está a investir para dar resposta à falta de alojamento estudantil. "Temos consciência que a questão do alojamento para estudantes a preços acessíveis é uma grande preocupação e continua a ser o principal obstáculo no acesso ao ensino superior", afirma a vereadora.

Não sendo esta uma responsabilidade da Câmara do Porto, a vereadora garante que o problema "não nos é indiferente e temos vindo a construir soluções para contribuir com respostas para os jovens". Em Monte Pedral serão criadas "200 camas dentro de uma candidatura ao PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], com gestão da Universidade do Porto" e está, ainda, a ser avaliado "como poderemos ter respostas para estudantes a preços acessíveis" no Morro da Sé.

Oferecer soluções de integração para não dar lugar ao abandono dos estudos

Numa mistura entre o traço original e uma reabilitação moderna e funcional, a Academia 24 é, diz a presidente da FAP, "mais do que um dormitório". Tem cozinha, copa, espaços de lazer e fitness, salas de estudo individuais, promove lugares de coworking e proporciona "um conjunto de experiências e de valências para promover a qualidade de vida, o bem-estar e, acima de tudo, para que estes estudantes que iniciam o seu percurso consigam alcançar a meta com sucesso", afirma Ana Gabriela Cabilhas.

Para que o alojamento não seja um entrave ou um motivo para abandonar os estudos "esperamos que este modelo sirva de inspiração para que o Governo e as instituições de ensino possam fazer mais e que, como o Município do Porto fez, valorizem a juventude como promotores de mudança e como parceiros estratégicos", sublinha a representante dos estudantes, instando a que, com a prova deste trabalho em rede, sejam encontradas "soluções de forma mais rápida, mais ambiciosa".

Ana Gabriela Cabilhas não tem dúvidas de que a Academia 24 vai ser determinante para a "boa integração" dos estudante na cidade do Porto, nas instituições de ensino e na Academia.

Porque, afinal, escreve João Chagas, também nas paredes do número 48 da Rua da Bainharia, "o Porto não é em rigor uma cidade, é uma família".