Cultura

Campus Paulo Cunha e Silva nasce para residências artísticas em antiga escola requalificada

  • Cláudia Brandão

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Pensado com e para a comunidade artística local, o novo espaço há muito idealizado vai facilitar o processo de criação dos agentes culturais da cidade. Vai abrir portas a residências artísticas e técnicas, mas também disponibilizar aulas para profissionais, salas de ensaio e, acima de tudo, trabalhar em proximidade com a vizinhança. O Campus Paulo Cunha e Silva nasce na antiga Escola EB1 José Gomes Ferreira, no dia em que o seu maior inspirador faria 59 anos, a 9 de junho.

“É o novo centro de residências artísticas e espaço de trabalho para as artes performativas na cidade”, apresentou, na reunião de Executivo realizada nesta segunda-feira, o diretor artístico do Teatro Municipal do Porto (TMP). Segundo Tiago Guedes, atualmente “o TMP recusa 90% dos pedidos para ensaios e residências por falta de espaço”, mas o cenário vai mudar assim que entrar em funcionamento este que se pretende como um “espaço multidisciplinar, inclusivo e de liberdade à criação, voltando-se para o futuro e vivendo do feedback dinâmico da comunidade que o ocupa”.

O Campus Paulo Cunha Silva vai ganhar vida na antiga Escola EB1 José Gomes Ferreira, na Travessa dos Campos, cujas obras de reabilitação assumidas pela Câmara do Porto encontram-se na fase final, sendo o resultado daquilo que a própria comunidade artística local pediu: “o modelo de funcionamento do campus foi desenhado com base na experiência pluridisciplinar da equipa do Teatro Municipal do Porto e na consulta à comunidade artística, que aderiu com entusiasmo, enriquecendo com as suas reflexões a matriz do projeto que iremos desenvolver de forma participativa”, afirmou Tiago Guedes.

“Depois de colmatada a oferta cultural por parte do Executivo, existiam áreas que estavam por complementar, nomeadamente um espaço com qualidade para ensaios, para criação, para residências artísticas, para todo o trabalho que é necessário para que depois as obras sejam apresentadas nos teatros municipais e noutros na cidade e no país”, afirmou o diretor artístico.

Dirigido pelo TMP, e pretendendo evoluir “como um epicentro da vida cultural daquele bairro”, será um lugar com espaço e tempo para “a pesquisa, a criação, a remontagem e os ensaios, sempre com a missão de explorar e experimentar as disciplinas de dança, teatro, formas animadas, circo contemporâneo e qualquer formato híbrido que surja destes cruzamentos disciplinares”, assim como eventos de mediação organizados pelos residentes, e atividades de mediação entre residentes e vizinhança.

As residências artísticas e técnicas vão funcionar por open calls anuais e são dirigidas a artistas em pesquisa, novas criações ou ensaios de peças já existentes, privilegiando candidaturas de artistas locais. Com a atribuição de 500 euros por semana e possibilidade de alojamento, o novo campus disponibiliza, ainda, acompanhamento por mentores ou equipas técnicas.

No dia que assinalava a reabertura dos teatros, Tiago Guedes anunciou o lançamento destas open calls (assim como a disponibilização dos restantes serviços), a 9 de junho, data do aniversário de Paulo Cunha e Silva, para que o novo Campus as receba a partir de outubro.

50% open calls, 50% cedência de espaço

Outra das valências “que dará corpo ao campus”, anunciou o diretor artístico do TMP, é a segunda edição do programa Reclamar Tempo, “lançado no primeiro confinamento e que incitava os artistas a continuar a trabalhar pese embora estivessem afastados do espaço de criação”. O programa recebeu mais de 200 propostas e os projetos selecionados partilharão os seus processos de investigação no Campus Paulo Cunha e Silva em junho.

Além das residências, será também possível, a partir de 15 de junho, ceder espaços para ensaios. Em setembro, terão início as aulas para profissionais das artes performativas, lecionadas não só por formadores locais, mas também por outros artistas que estejam a integrar a programação do Teatro Municipal do Porto. Tiago Guedes sublinhou, ainda, a filosofia “paper free” do espaço, com toda a sua comunicação, reserva de espaços e candidaturas feita exclusivamente online.

No final da apresentação, Rui Moreira enalteceu não apenas a escolha do nome do crítico e curador de arte e vereador no Município do Porto, certo de que “mais do que uma rua ou uma placa comemorativa, Paulo Cunha e Silva teria o maior dos prazeres em ter este equipamento com o seu nome”, mas também a vontade do Executivo em “coser esta atividade com aquele território”, não tendo “tentado impor ali aquilo que é a nossa programação”. “Estamos a deixar que seja a própria cidade a desenvolver este projeto, que é muito a visão do que são as suas atividades culturais”.

No mesmo sentido, Manuel Pizarro confessou que “a ideia de construir isto com o envolvimento dos destinatários parece-me uma condição de sucesso e de racionalidade de todo este programa”. “Uma cidade não vive sem cultura, é preciso dar-lhe prioridade e compreender o contexto muito difícil que os criadores culturais já viviam antes da pandemia”, afirmou o vereador socialista.

Também do lado do Partido Socialista, a vereadora Odete Patrício acredita que esta “ambição muita antiga da cidade” vai contribuir “para o desenvolvimento das companhias mais pequenas, mais recentes, mais experimentais”.