Cultura

Câmara vai reativar a antiga biblioteca do Jardim do Marquês com projeto cultural

  • Isabel Moreira da Silva

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A Câmara do Porto vai resgatar a Biblioteca Popular de Pedro Ivo para a cidade, adaptando o equipamento para fins culturais e recuperando este emblemático espaço público do Jardim do Marquês. As portas abrem já daqui a uma semana, a 29 de março.

“Durante o primeiro ano de reativação, a programação estará dividida em quatro fases”, informou esta manhã Nuno Faria, diretor artístico do Museu da Cidade, timoneiro ao leme desta primeira fase do projeto.

Neste arranque, de 29 de março a 15 de maio, será a Rádio Estação, projeto do Museu da Cidade, a instalar-se fisicamente na Biblioteca Popular de Pedro Ivo. Neste período de um mês e meio, a rádio emitirá também em FM “constituindo-se como uma pequena biblioteca sonora ao ar livre”, referiu Nuno Faria, na reunião de Executivo Municipal.

A Rádio Estação é um projeto artístico realizado por um amplo conjunto de pessoas com contributos diversos de diferentes áreas artísticas. Assim, para o contexto do Jardim do Marquês estão equacionados novos programas, que envolvem leituras, em ritmo diário, de fábulas das mais diversas proveniências temporais e geográficas, para os filhos e para os pais (Confabulações); temas e episódios ligados à história e às estórias do mundo industrial do Porto (Trabalhar Cansa); um conjunto de leituras sobre diferentes partes da cidade (Inventário), e que conta com um episódio especial sobre a Praça do Marquês. Este episódio já estreou ontem, mas haverá lugar a mais duas repetições na Rádio Estação: a primeira acontece nesta quarta-feira, dia 24, às 10 horas; e a segunda retransmissão ocorre no próximo domingo, dia 28 de março, às 16 horas.

A segunda fase da “espécie de ano zero deste programa-piloto”, de 17 de maio a 10 de julho, ficará sob coordenação do Teatro Municipal do Porto, “para revelar o trabalho de estúdio de artistas em residência e o ponto de confluência de saberes e culturas do projeto europeu Moving Borders”, explicou Nuno Faria.

O Moving Borders é um projeto europeu, com financiamento por dois anos, que envolve sete cidades e instituições culturais europeias – Teatro Municipal do Porto, Hellerau European Centre of the Arts (Dresden), Le Maillon (Estrasburgo), Ringlokschuppen (Mülheim an der Ruhr), Spring Performing Arts Festival (Utrecht), Performing Arts Institute (Varsóvia) e Onassis Cultural Centre (Atenas) -, nas quais diferentes noções de fronteira são questionadas através da prática artística. O projeto resultará na construção de sete arcas nas sete cidades, enquanto espaços de experimentação e encontro.

Já na terceira fase, de 16 de julho a 12 de setembro, a Biblioteca Popular de Pedro Ivo funcionará como extensão da Feira do Livro do Porto. Neste “aquecimento”, o equipamento cultural vai organizar o seu programa em torno da figura que lhe dá o nome, o escritor Pedro Ivo. A formação germânica do autor - com extensiva aproximação ao universo de autores ligados ao movimento romântico alemão - e a influência de Júlio Dinis, escritor homenageado da edição da Feira do Livro de 2021, tornam particularmente oportuna a revisitação e a redescoberta de um escritor que em vida foi muito popular.

Por fim, a quarta fase da programação da antiga biblioteca do Marquês estará sob a responsabilidade do Batalha Centro de Cinema, durante os meses de outubro a dezembro. A proposta do departamento de Cinema e Imagem em Movimento consiste na apresentação de uma obra fílmica comissariada a um projeto cooperativo de cinema do Porto.

Esta obra, que se prevê instalar no espaço em diferentes canais, irá explorar narrativas contextuais e de memória sobre a praça e sua história, através de diversas linguagens visuais e formais. A obra vai ser escrita, produzida, filmada e editada ao longo do ano, prevendo-se a sua inauguração no último trimestre do ano.

A vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, manifestou a sua satisfação com a reativação do equipamento. "Corresponde ao que sempre defendi para este local", assinalou. Do mesmo modo, as vereadoras socialistas Fernanda Rodrigues e Odete Patrício congratularam-se com o arranque do projeto.

Comunidade local dará continuidade ao projeto

Em 2022, o espaço continuará a operar no contexto cultural, mas já não será programado pelas equipas do universo da Câmara do Porto, esclareceu Nuno Faria. A intenção, adiantou o diretor artístico do Museu da Cidade, é que, nessa altura, seja feita “uma convocatória à comunidade local ou concurso de ideias, para a programação sazonal/anual da biblioteca, tendo em conta o seu carácter multidisciplinar mas, mais uma vez, não perdendo de vista a ligação à história do espaço”, assinalou.

Localizado em pleno jardim da praça do Marquês de Pombal, a Biblioteca Popular de Pedro Ivo foi inaugurada em 1948, mas nas últimas décadas tinha perdido a sua função original, tendo funcionado como cafetaria.

Em junho de 2020, o município realizou beneficiações no revestimento vegetal arbustivo e herbácio do Jardim do Marquês, o que permitiu criar um espaço mais aberto ao olhar de quem o percorre, mantendo a sua simetria e colorindo-o através da plantação de camélias e flores de época nas bordaduras de acesso à estação do metro.

Em março de 2021, o edifício foi reabilitado pela empresa municipal Domus Social a partir do projeto arquitetónico original, com marcação na fachada a partir da tipografia desenhada pelo arquiteto Bernardino Basto Fabião, e com redesenho gráfico dos R2 Design.

Este pequeno espaço de 43m2 situa-se num lugar de cruzamento de passantes, mas também lugar de sociabilização, ponto de encontro e ancoragem e, a partir de agora, vai constituir-se como espaço de escuta e de transmissão oral.